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Do TCES à eleição na Assembleia: o que levou Marcelo Santos a recuar

Do TCES à eleição na Assembleia: o que levou Marcelo Santos a recuar

Até então pré-candidato a prefeito de Cariacica, o deputado anunciou que não disputará o cargo. Nos bastidores, a saída foi relacionada à eleição para a presidência da Assembleia

Publicado em 3 de agosto de 2020 às 21:05

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Marcelo Santos participa de solenidade virtual com governador Renato Casagrande
Marcelo Santos participa de solenidade virtual com governador Renato Casagrande. (Reprodução/Facebook)

A conjuntura de preparações para a eleição municipal em Cariacica registrou uma grande reviravolta na última quinta-feira (30) com o anúncio do deputado estadual Marcelo Santos (Podemos) de que não irá disputar o pleito. A cadeira de prefeito, classificada por ele como seu "sonho", não está mais entre os projetos do decano da Assembleia. Ele já disputou a prefeitura da cidade nas últimas três eleições. Perdeu para o ex-prefeito, hoje deputado federal, Helder Salomão (PT) e para o atual chefe do Executivo, Geraldo Luzia Junior, o Juninho (Cidadania).

Com Helder e Juninho fora da disputa deste ano, o cenário poderia se desenhar mais favorável para Marcelo. Tanto que o deputado foi à Justiça para sair do PDT, alegando terem lhe negado espaço para disputar a prefeitura da cidade pelo partido. No entanto, ao anunciar que não entraria no pleito, em vídeo divulgado nas redes sociais, o deputado argumentou que sua decisão foi por considerar que na Assembleia Legislativa conseguiria contribuir mais com a cidade, e garantir mais recursos para Cariacica. Nos bastidores, contudo, políticos apontam outras versões.

A principal delas é que a desistência de Marcelo está relacionada a uma articulação, que passa pelo Palácio Anchieta, pela Mesa Diretora da Assembleia Legislativa e pelo Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES). Pessoas ouvidas pela reportagem afirmam que houve um encontro entre representantes do governo e Marcelo, dias antes do anúncio do deputado.

A proposta era que, ao deixar de disputar o cargo, ele ganhasse o apoio da base do governador para a eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, em 2021. A tese ganhou força na última quarta-feira (29), após uma possível sinalização do atual presidente da Casa, Erick Musso (Republicanos), de que poderia não disputar a reeleição para o comando do Legislativo.

Durante a posse da nova presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Cristhine Samorini, ele saudou a nova comandante e seu antecessor, Léo de Castro, que deixava a administração da entidade, e no discurso, uma "brincadeira" do parlamentar chamou a atenção.

"Pelo menos posso falar que no meu findouro, acho que vou estar com o sorriso igual ao do Léo daqui a cinco meses. Um sorriso largo, espero que já sem máscaras. Mas que nesses próximos cinco ou seis meses possamos continuar com esse equilíbrio institucional a favor do Espírito Santo", afirmou.

Os próximos cinco meses, de agosto a dezembro, representam o prazo que Erick tem até o final no seu atual mandato na presidência da Casa, antes do recesso parlamentar, em janeiro, e do mês de fevereiro de 2021, quando devem acontecer as próximas eleições. Procurada, a assessoria de Erick Musso disse que tudo não passou de uma brincadeira e que a eleição da Mesa Diretora não está em discussão agora.

Outra possibilidade de contrapartida para Marcelo, com a desistência da candidatura em Cariacica, é garantir apoio do Palácio para um outro "sonho" do deputado, a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas. Em tese, a próxima vaga só deve ser aberta em 2024, quando o conselheiro Sérgio Borges completa 75 anos e atinge o teto de idade para o cargo. Contudo, não está descartada uma saída antecipada, já que Borges fez o pedido de cálculo para sua aposentadoria pela Corte, em 2018.

Empossado em 2013, a vaga de Borges é de indicação da Assembleia Legislativa. Em outras duas oportunidades, Marcelo Santos já ensaiou entrar na disputa pela vaga, mas recuou. Em 2018, ele foi cogitado para a vaga de José Antonio Pimentel, que acabou preenchida por Rodrigo Coelho. Já em 2019, para a vaga ocupada por Luiz Carlos Ciciliotti, ele chegou a recolher assinaturas para a cadeira no Tribunal, mas desistiu da corrida

Um dos motivos apontados nos bastidores é de que a saída do deputado da Casa, na época no PDT, poderia causar um desgaste para o governo e para os outros parlamentares, já que seu suplente é o ex-deputado Luiz Durão (PDT), acusado no mês anterior de estuprar uma adolescente. Em outubro, Durão foi absolvido, em primeira instância, da acusação.

No pleito de 2016 de Cariacica, Marcelo chegou ao segundo turno e perdeu em uma disputa apertada. Durante a campanha, ele teve o carro atingido por tiros enquanto passava pela Rodovia do Contorno. Meses depois, as investigações da Polícia Civil concluíram que não se tratou de atentado, e sim tentativa de roubo do veículo. Marcelo alcançou 82.856 votos, 47,49%, e não se elegeu.

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Sede da Prefeitura de Cariacica: cidade conta com 20 pré-candidatos a prefeito. (PMC)

UNIFICAÇÃO DA BASE EM CARIACICA

Mesmo com a saída de Marcelo, Cariacica conta com 20 pré-candidatos a prefeito, de acordo com informações das executivas estaduais dos partidos. Muitos dos nomes apresentados são de aliados do governador Renato Casagrande (PSB), como o ex-vereador Adilson Avelina (PSC), o ex-deputado estadual Sandro Locutor (PROS) e os deputados estaduais Janete de Sá (PMN) e Euclério Sampaio (DEM).

O partido do governador também conta com candidatura própria, do ex-vereador de Cariacica Saulo Andreon (PSB), mas vem tentando construir uma unidade entre aliados, seja já para o primeiro turno ou para um possível acordo entre candidatos no segundo turno. 

"Vejo isso como uma posição natural do partido, de alinhar a base do governador. A desistência do Marcelo tem uma importância significativa para o processo eleitoral, mas veio para nós como uma surpresa. O que temos feito é dialogado, tentando uma aproximação convergente entre esses atores e a sociedade", aponta Saulo.

Com a desistência de Marcelo e Helder Salomão, além da impossibilidade de o atual prefeito, Juninho, disputar, uma lacuna se abre na cidade, deixada pelos três nomes que estiveram no segundo turno nas últimas eleições.

O movimento do deputado deu início à corrida das lideranças para tentar herdar seu capital político, que pode ser transferido a algum candidato apoiado por ele, como também pode ser dispersado para vários nomes. Marcelo ainda não anunciou quem vai passar a ser o seu candidato e Juninho, seu adversário político, também não.

No mês passado, à coluna Vitor Vogas, ele garantiu que vai apoiar em Cariacica outro candidato que também esteja integrado ao projeto político-eleitoral liderado por Casagrande no Espírito Santo. "Se eu não for, eu, juntamente com o governo, estarei apoiando uma candidatura, porque não serei omisso."

O ex-deputado Sandro Locutor avaliou a atitude de Marcelo como sensata, e que pode beneficiar o município.

"É claro que abre um espaço maior para as outras lideranças da cidade. Mas temos que elogiar a sensatez dele, de reconhecer que todo mandato é importante para Cariacica neste momento, que além de suas mazelas históricas, deve ter um período difícil pela frente com os impactos da pandemia", afirma Sandro, que foi colega de Marcelo Santos na Assembleia, entre 2015 e 2018.

A reportagem tentou contato com Marcelo Santos e com a Casa Civil, do governo estadual, mas eles não se manifestaram até a publicação deste texto.

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