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Publicado em 26 de julho de 2022 às 10:03
Nas eleições de 2018, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), então postulante ao cargo de chefe do Executivo estadual, surpreendeu o mercado político ao escolher a correligionária Jacqueline Moraes (PSB) para ocupar a vaga de vice na chapa. >
Na época, Jacqueline, que só tinha exercido um mandato político, o de vereadora de Cariacica, não tinha tradição na militância partidária, mas era conhecida pela militância social, principalmente em movimentos voltados para mulheres negras e periféricas.>
Quatro anos depois dessa decisão, Casagrande faz um movimento oposto. Na última terça-feira (19), o governador anunciou que, em 2022, seu candidato a vice será o ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB), um homem branco, de centro-direita e político tradicional. Nada fora dos padrões. >
Essa mudança brusca de perfil tem influência direta do cenário político e ideológico que se desenhou de lá para cá. Em 2018, quando Jacqueline foi escolhida para vice de Casagrande, o Brasil passava por um momento de fomento de candidaturas femininas. >
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Dos 13 candidatos que disputaram a presidência na última eleição, duas eram mulheres e cinco tinham mulheres como vice, entre eles Fernando Haddad (PT), que disputou o segundo turno contra Jair Bolsonaro (PL) e tinha Manuela D'ávila (PCdoB) na chapa.>
No Espírito Santo não foi diferente. Duas mulheres disputaram o governo do Estado — Rose de Freitas (MDB) e Jackeline Rocha (PT) — e três, dos outros quatro candidatos, escolheram uma mulher para vice. >
É claro que Jacqueline não foi escolhida apenas pelo fato de ser mulher. Até porque, havia outros candidatos cotados para o posto, entre eles Lenise Loureiro (Cidadania), ex-secretária de Turismo do governo. Mas, naquele ano, existia uma preocupação entre os socialistas de ter um vice mais voltado para o lado social, que representasse a cara do político que Casagrande queria imprimir. >
“A Jacqueline é uma liderança popular importante, uma mulher, negra, com sensibilidade na área social, e se encaixou bem no perfil de vice que eu estava querendo”, afirmou o socialista em entrevista para A Gazeta em agosto de 2018. >
As alianças que Casagrande conseguiu aglutinar em torno da própria candidatura naquela eleição também viabilizaram a escolha de Jacqueline. Ele tinha apoio de 18 partidos e definiu a escolha de uma vice da mesma legenda como “necessária para que houvesse um equilíbrio de forças”. Ou seja, evitar conflitos com outras legendas.>
A importância de candidaturas femininas não diminuiu em 2022, mas a preocupação, neste ano, é outra. Em um cenário nacionalmente polarizado, a busca do "equilíbrio" tornou-se o foco de muitos candidatos, inclusive Casagrande. Isso ficou explícito na nota enviada pelo governador à imprensa na última terça-feira, quando Ricardo Ferraço foi anunciado vice.>
“A frente liderada pelo governador Renato Casagrande deve seguir, nas próximas semanas, com a composição de uma coligação ampla, envolvendo todas as forças políticas capixabas que desejam um Estado forte e equilibrado”, diz um trecho da nota.>
Com tradição em um partido progressista e de centro-esquerda, o atual governador ganhou, nos últimos anos, o rótulo de "comunista" diante da ascensão do bolsonarismo no Brasil. A declaração de apoio ao ex-presidente Lula (PT) no último mês pode ter reforçado essa imagem para muitos eleitores, principalmente os antipetistas.>
Ter um vice "de direita" é, na atual conjuntura, fundamental para Casagrande mostrar equilíbrio e ampliar o eleitorado. E uma formação puro-sangue (com candidato a governador e vice do mesmo partido) mostra-se inviável em 2022, conforme analisa o cientista político Antônio Carlos Medeiros.>
Antônio Carlos Medeiros
Cientista políticoRicardo Ferraço cumpre bem esse papel. É um político de centro-direita, que transita bem entre o empresariado. E por mais que o governador não encontre tanta resistência nesse segmento, ele não é a figura política mais querida. Ter o apoio dos empresários é importante para qualquer governo, mas não é só isso. >
Ricardo também agrega experiência política. Já foi senador, deputado e vice-governador de Paulo Hartung entre 2007 e 2010. É filiado a um partido tradicional, que já exerceu protagonismo na política brasileira. Dificilmente receberia o rótulo de "comunista".>
Na avaliação de Antônio Carlos Medeiros, Ricardo Ferraço será uma peça chave para Casagrande angariar apoio de outros partidos políticos. Ele vê uma eleição difícil pela frente e a necessidade de uma ampla coalização. >
“A trajetória de Ricardo agrega politicamente apoios a Casagrande. Não apenas na eleição, mas para o pós, caso ele seja reeleito. O governador precisa ter governabilidade e Ricardo soma nesse sentido”, aponta.>
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