Repórter de Política / amorais@redegazeta.com.br
Publicado em 6 de abril de 2021 às 15:13
- Atualizado há 4 anos
Carlos Fernando Lindenberg Filho, o Cariê, que morreu nesta terça-feira (06) por complicações de uma pneumonia, teve uma trajetória marcante de compromisso com um jornalismo isento e independente. Desde que chegou para cuidar dos negócios da família na Rede Gazeta, em 1963, foi aos poucos questionando o jeito tradicional de fazer jornalismo, com o que chamava de "autocensura" e receio de perder anunciantes, e propondo, em troca, a independência editorial.
Cariê Lindenberg
11 de setembro de 2019, em entrevista publicada no último exemplar diário de jornal impresso de A GazetaFormado em Direito em 1958, Cariê chegou ao jornal com o dever cumprido: estudou sobre ética jornalística e absorveu o que precisava para tentar mudar a forma como o jornal, na época, era feito. Logo que chegou à Rede, em 1963, a empresa ainda era vinculada a um partido político, o PSD. A independência política, portanto, não aconteceu no primeiro momento de sua chefia, mas isso não quer dizer que ele deixou os processos exatamente como estavam.
Em entrevistas, o fundador relatava um acontecimento que o marcou logo em seus primeiros dias de trabalho. Houve um acidente que deixou mortos envolvendo um ônibus de uma empresa de transporte de passageiros, em Vitória, mas no dia seguinte o evento não foi noticiado em A Gazeta. Intrigado, Cariê foi à redação e perguntou o motivo da omissão e ouviu como resposta que a empresa era, na época, um dos anunciantes do jornal. Percebeu ali, então, que existia um outro "problema" a ser resolvido: a autocensura.
Cariê Lindenberg
11 de setembro de 2018, em entrevista ao Gazeta Online na comemoração de 90 anos da Rede GazetaFoi tentando "aos poucos, lentamente e de maneira gradativa" mudar essas práticas na empresa. Além das inovações na prática jornalística, sua chegada trouxe mudanças nas áreas administrativa e financeira do grupo. Foi com ele que começaram a ser feitos, por exemplo, os orçamentos que regulavam entradas e saídas de dinheiro. Foi responsável, também, pela aquisição dos equipamentos mais tecnológicos para acelerar a impressão dos jornais anos mais tarde.
Cariê Lindenberg
09/09/2016, em entrevista a Leonel Ximenes nos 88 anos da Rede GazetaO "capixaba de coração" era firme ao dizer que "nunca pediu dinheiro ao governo" e, por isso, nunca teve dificuldades ao se relacionar com o poder político e econômico. O primeiro passo para marcar a independência de A Gazeta foi convidar Esdras Leonor, que era do jornal O Diário, veículo contrário ao PSD, para ser editorialista de política.
Cariê Lindenberg
11 de setembro de 2018, em entrevista ao Gazeta Online na comemoração de 90 anos da Rede GazetaVisionário, Cariê não queria que a mudança parasse no Espírito Santo. Para difundir a ideia, organizou em junho de 1973 um encontro entre os principais jornais do país para falar sobre inovações administrativas e uma melhor prática jornalística, que envolvia uma atuação isenta.
O momento foi visto como "uma grande abertura para a imprensa brasileira independente", como sintetizou Wenceslau Cunha, representante do jornal Diário de Minas.
Com o tempo, os valores da Rede Gazeta foram se desenhando de forma clara. O intuito, segundo Cariê, é o de ter equilíbrio e independência total, ser plausível com a comunidade e sempre ouvir todos os lados, para que todos tenham a chance de dar "sua versão" do que for levantado.
Cariê Lindenberg
11 de setembro de 2018, em entrevista ao Gazeta Online na comemoração de 90 anos da Rede GazetaAo longo de 91 anos a Rede Gazeta passou por muitas mudanças. O jornal impresso chegou ao fim e se estabeleceu, com a popularização da internet e da comunicação instantânea, a preferência da audiência pelas notícias na internet. Antes, Cariê assistiu ao surgimento da TV, que ameaçava o sucesso das empresas que apostavam no rádio.
Quem vive muitos anos, como Cariê e a Rede Gazeta, precisa se adequar e acompanhar as mudanças, prática que o fundador da empresa não teve dificuldade de executar ao longo do tempo que passou à frente da equipe.
Cariê Lindenberg
09/09/2016, em entrevista ao colunista Leonel Ximenes nos 88 anos da Rede GazetaEm 2019, quando A Gazeta chegou aos seus 90 anos, o fim da circulação do jornal impresso diário também foi encarado com tranquilidade por Cariê. Otimista, o fundador previa que o jornalismo on-line seria uma forma de ampliar a transparência e a credibilidade do jornal, além de conquistar ainda mais leitores.
Cariê Lindenberg
29 de setembro de 2019, em entrevista veiculada na última edição diária impressa de A GazetaEscritor, músico e compositor, o fundador da Rede Gazeta trabalhou para que empresa chegasse aos 91 anos com credibilidade. Em todas as mudanças, fazia questão de manter o que era de fato importante.
Cariê Lindenberg
11 de setembro de 2019, em entrevista para o jornal A Gazeta em comemoração aos 91 anos da Rede GazetaBacharel em Direito que dedicou longos anos de sua caminhada para aprimorar o jornalismo e difundir uma prática livre de interferências políticas e econômicas, Cariê Lindenberg faleceu na madrugada desta terça, aos 85 anos, por complicações de uma pneumonia. Sua dedicação ao jornalismo, como ele mesmo descreve, era também sua fonte de "alegria".
Cariê Lindenberg
Em entrevista publicada no último exemplar diário impresso de A GazetaCariê Lindenberg no comando da Rede Gazeta
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