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Análise ' Bolsonaro se mostrou confuso e acuado em discurso

Análise | Bolsonaro se mostrou confuso e acuado em discurso

Presidente trouxe a vida pessoal como tema central e deixou a população sem respostas concretas sobre acusações feitas pelo  ex-ministro Sérgio Moro

Publicado em 25 de abril de 2020 às 07:24

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Presidente Jair Bolsonaro em discurso cercado por ministros
Presidente Jair Bolsonaro em discurso cercado por ministros. (Carolina Antunes/PR)

Na tentativa de se defender das acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez um pronunciamento em rede nacional na tarde desta sexta-feira (24). Contudo, Bolsonaro se mostrou mais interessado em falar da sua vida pessoal e fazer ataques a Moro do que apresentar qualquer defesa diante do que foi acusado. 

Nos primeiros 30 minutos do pronunciamento, Bolsonaro abordou assuntos desconexos e aleatórios. Tentando mostrar que tinha preocupação com dinheiro público, ele citou que mandou desligar o aquecedor da piscina olímpica do Palácio da Alvorada (na verdade, a piscina tem aquecedor solar desde 2002), que nunca usou os três cartões corporativos a que tinha direito e que iria "implodir o Inmetro", por querer trocar tacógrafos. O presidente também chegou a falar sobre a sogra, que, segundo ele, cometeu falsidade ideológica para "reduzir a idade" na certidão de nascimento.

Quando finalmente resolveu comentar o discurso de Moro, o presidente fez ataques ao ex-ministro, dizendo que ele era movido pelo ego e que chegou a negociar a saída de Maurício Valeixo da PF após indicação ao Supremo Tribunal Federal. Moro negou a acusação em um post nas redes sociais.  

Sobre a acusação de interferência em investigações da Polícia Federal, feita por Moro, Bolsonaro negou, mas logo se contradisse ao mencionar que queria maior interação com a PF e que tinha interesse pessoal na investigação do caso da facada do qual foi vítima em 2018. Ele chegou, também, a admitir que pressionou pela troca do superintendente da Polícia Federal no Rio, onde houve o assassinato da vereadora Marielle Franco.

Confira abaixo análises do discurso do presidente Jair Bolsonaro feita por cientistas políticos a pedido de A Gazeta.

Presidente está perdido e usou discurso para falar de assuntos pessoais

O presidente mostrou um discurso desconexo desde o início. Ele fez uma revisão da vida pessoal dele, falou dos filhos, trouxe à tona uma mágoa antiga em relação ao Moro, questionou até a investigação da tentativa de assassinato que se deu contra ele e já foi resolvida. Ao mesclar tantas questões diversas, Bolsonaro mostrou que está perdido e acuado. Abordou questões que já tinham sido respondidas por Moro, como o postergamento da demissão do diretor-geral da PF, e acabou assumindo que tinha interesse pessoal em acompanhar algumas investigações da PF, como a que ele foi vítima de um ataque e outra que seu filho foi citado. Bolsonaro acaba de travar uma guerra com Sergio Moro, assim como ele tem feito com todos aqueles que divergem da opinião dele, que são transformados em inimigos e atacados. Se Moro tiver como provar as acusações que fez contra o presidente, vai restar aos outros Poderes, Câmara  dos Deputados, Supremo Tribunal Federal, dar sequência a um processo de investigação contra o Bolsonaro, que pode levar ao seu afastamento. No meio de uma pandemia que já não tem uma liderança, o discurso de Bolsonaro só reforça o quanto ele está confuso e isolado e que poucas pessoas vão sair em sua defesa. 

Análise

Rodrigo Prando - Cientista Político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Bolsonaro não confrontou acusações de Moro e pode perder apoio militar

Esperava-se do presidente uma defesa diante das acusações graves feitas pelo ex-ministro Sergio Moro. Mas o discurso de Bolsonaro em nenhum momento confrontou as declarações de Moro. Foi um pronunciamento confuso, que abordou assuntos aleatórios e sem nexo com o momento atual, e chegou a ser paradoxal quando Bolsonaro traz o tema da corrupção em um discurso que ataca o grande nome de combate à corrupção no país, que é Sergio Moro. O presidente não mostrou proporção alguma em sua fala, muito marcada pelo personalismo, sempre "eu, eu", trazendo assuntos pessoais, citando a família e até mesmo histórias de um dos filhos. Ele  também mostrou agressividade ao tentar mensurar a importância da investigação da morte de Marielle Franco. Acredito que o presidente falou para 15%, no máximo 20%, do seu eleitorado, usando uma estratégia extremamente equivocada que foi a de atacar o Moro, da qual ele saiu extremamente prejudicado. Vimos uma guerra de narrativas, mas que pode marcar o fim do governo Bolsonaro. Se o ex-ministro conseguir provar o que falou, e ele já disse que pode, o presidente corre sérios riscos de ser abandonado e perder o único apoio que lhe resta, que é dos militares. 

Análise

Adriano Oliveira - Cientista social

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