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Ameaça a jornalista aumenta menções negativas a Bolsonaro no Twitter

Ameaça a jornalista aumenta menções negativas a Bolsonaro no Twitter

Após se irritar com pergunta sobre a movimentação financeira de Queiroz para a primeira-dama e falar em "porrada", imagem do presidente voltou a ser afetada, mostra estudo

Publicado em 24 de agosto de 2020 às 17:07

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Presidente da República Jair Bolsonaro e a Primeira-Dama Michelle Bolsonaro, participam da cerimônia de Lançamento da Campanha Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos.
Jair Bolsonaro acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Ex-assessor de Flávio Bolsonaro repassou R$ 89 mil para ela e o presidente não quis dizer o motivo. (Alan Santos/PR)

"A vontade é encher a tua boca de porrada, tá?", foi a resposta de Jair Bolsonaro (sem partido) a um jornalista que insistiu em questionar os depósitos feitos pelo ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e amigo pessoal do presidente, Fabrício Queiroz, na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Os valores chegam a R$ 89 mil.

A reação impulsiva foi suficiente para atrapalhar um trabalho de reconstrução de imagem que estava dando certo para o mandatário, de acordo com um estudo que monitora a reação de internautas no Twitter.

Os dados apontam que, da última sexta-feira (21) até a manhã desta segunda (24), as menções negativas ao presidente aumentaram 18 pontos percentuais, passando de 50% para 68%. Enquanto as positivas também tiveram uma queda expressiva, caindo de 50% para 38%.

O único momento em que o caso Queiroz  afetou negativamente a imagem de Bolsonaro ocorreu no início do mandato, em 2019, de acordo com Sergio Denicoli, CEO da AP Exata, empresa que faz o monitoramento de publicações no Twitter. Desde então, os desdobramentos das investigações não apareceram no levantamento como uma ameaça à reputação do presidente na rede social.

Até o final de semana, o presidente colhia os frutos de uma campanha para recuperação de imagem, após outros episódios não relacionados ao caso das "rachadinhas" de Queiroz e Flávio, com menções positivas e negativas equilibradas e uma forte atuação da militância bolsonarista em apoio ao governo.

O confronto com o repórter, no entanto, trouxe o chefe do Executivo de volta ao centro da crise.

Aspas de citação

Quando ele teve aquela reação fez o assunto viralizar e voltar a afetar a própria imagem. Ele acabou levando toda a crise que envolve o Queiroz para o próprio colo

Sergio Denicoli
CEO da AP Exata
Aspas de citação

No Twitter, políticos, jornalistas e outras celebridades e influenciadores impulsionaram o tema publicando a seguinte mensagem direcionada a conta de Bolsonaro: "Presidente, por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?" Em poucos minutos a mensagem foi publicada em diversos perfis e os termos "Presidente" e "89 mil" entraram para os assuntos mais comentados.

Os dados monitorados pela empresa entre quinta e sexta-feira da semana passada mostram que o projeto de reconstrução de imagem do presidente, que andava mais calado sobre temas controversos e até deixou de dar entrevistas matinais em frente ao Palácio da Alvorada, estava funcionando.

Entre os dois dias, as menções positivas cresceram de 46% para 50% e as negativas caíram de 54% para 50%. Ou seja, na sexta-feira, dois dias antes da ameaça ao repórter, a rede social estava equilibrada em críticas e mensagens positivas.

Após o episódio no domingo (23), no entanto, a reação foi rápida. No mesmo dia, as publicações positivas já caíram para 39% e as negativas subiram para 61%. O assunto continua repercutindo e a diferença se torna cada vez maior. Nesta segunda-feira, a porcentagem de mensagens positivas já caiu para 32% e as negativas chegaram a 68%.

A AP Exata  trabalha com tecnologia própria de inteligência artificial, baseada na psicologia comportamental. A análise contempla dados por localização, em 145 cidades, de todos os Estados brasileiros.

MONITORAMENTO DE SENTIMENTOS

A consultoria também monitora os sentimentos expressados nas publicações que mencionam o presidente. "São sentimentos expressados pelos internautas que falam do Bolsonaro. Ou seja, são dados de Twitter em publicações que mencionam o presidente. Medimos confiança, raiva, tristeza, entre outros", explica. Ao todo, são analisados cerca de 30 sentimentos. No caso deste final de semana, a confiança e a raiva foram os que apresentaram maior alteração em relação a Bolsonaro.

Os dados comparativos do final da semana passada para a manhã desta segunda mostram que houve uma queda na confiança (de 22,2% para 18,1%) e aumento no número de postagens que esboçam tristeza (de 15% para 16,1%) e raiva (16,1% para 19,5%).

Antes do final de semana, os sentimentos não passavam por alterações expressivas, de até um ponto percentual entre quinta e sexta-feira.

SILÊNCIO ENTRE APOIADORES

Denicoli afirma que é possível perceber um silêncio entre a base de apoiadores do presidente. "Eles não costumam mesmo falar sobre o caso Queiroz", relata. A queda das menções positivas, que aconteceram na mesma proporção do aumento das negativas, mostra que diminuiu o número de postagens favoráveis ao presidente em um momento que ele está sendo atacado. Geralmente, os bolsonaristas fazem a defesa efusiva do presidente, o que demonstra um silenciamento diante deste episódio.

O especialista ressalta que, geralmente, apoiadores e opositores do governo vivem uma guerra de narrativas: "Eles tentam encontrar algo para que a militância replique e defenda e, por enquanto, eles estão sem narrativa. Não tem o que dizer para defendê-lo, não tem como justificar todo esse dinheiro e se ele não tem resposta para essas questões".

DISCURSO CONTRA A CORRUPÇÃO FICOU PARA TRÁS

Uma das principais bandeiras que elegeram Bolsonaro foi a anticorrupção. Para o especialista, diante da situação, vai se tornando cada vez mais difícil defender esse discurso. "A principal bandeira agora tem sido o conservadorismo religioso e moral, a bandeira anticorrupção está acabando porque todo mundo está vendo a família dele envolvida com essas questões. A reação dele acabou inaugurando uma fase negativa", pontua.

É preciso, no entanto, continuar observando para saber se será uma queda momentânea ou uma tendência a se confirmar.  É comum, explica Denicoli, movimentos na internet que viralizam e rapidamente passam. O fato, no entanto, é que o caso Queiroz continua sendo investigado e a grande diferença do momento é que, nas redes sociais, a reação do presidente foi um elo que reativou, na cabeça dos internautas, a ligação entre Bolsonaro e as supostas práticas corruptas.

AMIGOS

Queiroz é investigado por supostamente ter coordenado um esquema de "rachadinha" enquanto era assessor do então deputado estadual do Rio de Janeiro Flávio Bolsonaro. Em junho, o ex-militar foi preso na casa do ex-advogado de Flávio, Frederick Wassef  em Atibaia, São Paulo. Tanto Queiroz quanto Wassef são amigos de Jair Bolsonaro, o primeiro desde 1984.

Até agora, nada na investigação apontou ligação direta do presidente com a suposta prática criminosa, que afeta juridicamente o filho 01. Os depósitos de cheques na conta da primeira-dama, no entanto, aproximam cada vez mais as movimentações suspeitas de Queiroz ao chefe do Executivo. 

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