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'A vontade é encher tua boca com porrada', diz Bolsonaro após repórter perguntar sobre Queiroz

"A vontade é encher tua boca com porrada", diz Bolsonaro após repórter perguntar sobre Queiroz

Presidente se irritou com pergunta sobre depósitos feitos pelo ex-assessor na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro

Publicado em 23 de agosto de 2020 às 16:56

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O presidente Jair Bolsonaro conversa e tira fotos com ambulantes na catedral de Brasília. Ele parou no local ao voltar de um almoço na casa de um amigo na Asa Norte, em Brasília
O presidente Jair Bolsonaro parou perto da catedral de Brasília. ( Pedro Ladeira/Folhapress)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou neste domingo (23) ter vontade de agredir um repórter do jornal O Globo após ser questionado sobre os depósitos feitos pelo ex-policial militar Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Durante uma visita de cinco ministros a ambulantes da Catedral de Brasília, o jornalista questionou o presidente sobre os motivos para o ex-assessor do seu filho Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) ter repassado R$ 89 mil para a conta de Michele.

Inicialmente, o presidente rebateu perguntando sobre os supostos repasses mensais feitos pelo doleiro Dario Messer à família Marinho, proprietária da Rede Globo.

Segundo a revista Veja, em depoimento no dia 24 de junho, Messer disse que realizou repasses de dólares em espécie aos Marinhos em várias ocasiões a partir dos anos 1990. A família nega qualquer irregularidade.

Após a insistência do repórter sobre os pagamentos à primeira-dama, Bolsonaro, sem olhar diretamente para o repórter, afirmou: "A vontade é encher tua boca com uma porrada, tá?".

A reportagem presenciou o episódio. A imprensa questionou o presidente sobre a fala, mas Bolsonaro não respondeu.

A quebra do sigilo bancário de Fabrício Queiroz revelou novos repasses à primeira-dama Michelle Bolsonaro.

OS EXTRATOS

De acordo com a revista Crusoé, os extratos colocam em dúvida a justificativa sobre empréstimos apresentada até aqui pelo presidente. Entre as transações de Queiroz, até o momento se sabia de repasses que somavam R$ 24 mil para a mulher do presidente.

Desde então, Bolsonaro não havia se manifestado sobre o assunto.

Em 2018, em entrevistas após a divulgação do caso Queiroz, Bolsonaro disse que o ex-assessor repassou a Michelle dez cheques de R$ 4.000 para quitar uma dívida de R$ 40 mil que tinha com ele (essa dívida não foi declarada no Imposto de Renda).

Também afirmou que os recursos foram para a conta de sua mulher porque ele "não tem tempo de sair".

A reportagem confirmou as informações obtidas pela revista Crusoé e apurou que o repasse foi ainda maior. Queiroz depositou 21 cheques na conta de Michelle de 2011 a 2016, no total de R$ 72 mil.

De outubro de 2011 a abril de 2013, o ex-assessor repassou R$ 36 mil à primeira-dama, em 12 cheques de R$ 3.000. Depois, de abril a dezembro de 2016, Queiroz depositou mais R$ 36 mil em nove cheques de R$ 4.000.

A reportagem também apurou que a mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, repassou para Michelle R$ 17 mil de janeiro a junho de 2011. Foram cinco cheques de R$ 3.000 e um de R$ 2.000. Assim, no total, Queiroz e Márcia depositaram R$ 89 mil para primeira-dama de 2011 a 2016, em um total de 27 movimentações.

Até o momento, o presidente não se manifestou sobre os depósitos à primeira-dama. Bolsonaro parou na Catedral após almoçar no apartamento de um amigo em Brasília.

TRECHOS EXPOSTOS

Após trechos da delação de Messer serem revelados, em nota, a família Marinho negou as acusações do doleiro e ressaltou que ele não apresentou provas.

"A respeito de notícias divulgadas sobre a delação de Dario Messer, vimos esclarecer que Roberto Irineu Marinho e João Roberto Marinho não têm nem nunca tiveram contas não declaradas às autoridades brasileiras no exterior. Da mesma maneira, nunca realizaram operações de câmbio não declaradas às autoridades brasileiras", afirma a nota dos Marinho.

Por meio de nova divulgada na tarde deste domingo (23), O Globo repudiou o ataque do presidente à reporter do jornal e disse que "tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à população". Leia o texto na íntegra a seguir:

“O GLOBO repudia a agressão do presidente Jair Bolsonaro a um repórter do jornal que apenas exercia sua função, de forma totamente profissional, neste domingo.

Em cobertura de compromisso público do presidente, o repórter solicitou que ele se pronunciasse sobre reportagens da revista Crusoé e do jornal Folha de S.Paulo que, no início deste mês, informaram que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro Fabrício Queiroz e a mulher dele depositaram cheques no valor de R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Anteriormente, o presidente havia prestado uma informação diferente sobre os valores.

Bolsonaro, então, em manifestação que foi gravada, não respondeu à pergunta e afirmou a vontade de agredir fisicamente o repórter.

Tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à população.

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Durante os governos de todos os presidentes, o GLOBO não se furtou a fazer as perguntas necessárias para cumprir o papel maior da imprensa, que é informar os cidadãos. E continuará a fazer as perguntas que precisarem ser feitas, neste e em todos os governos.”

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