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Jovens chefiavam quadrilha que levava haxixe do ES para todo o Sudeste

Jovens chefiavam quadrilha que levava haxixe do ES para todo o Sudeste

Polícia Civil concluiu inquérito que indicou 14 envolvidos em uma organização criminosa de tráfico interestadual de haxixe; seis suspeitos foram presos, incluindo os principais líderes

Publicado em 3 de maio de 2023 às 19:07

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Com uma extensa ficha criminal, dois jovens foram os responsáveis por ajudar a expandir o mercado de haxixe em todo o Sudeste do Brasil, incluindo o Espírito Santo. Yves Marques Fagundes, de 26 anos, e Matheus Salomão, de 24 anos, comandavam uma quadrilha – formada por indivíduos de classe média – que movimentava milhões de reais vendendo drogas de valor elevado.

A Polícia Civil do Espírito Santo deu detalhes das investigações durante uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira (03). Ao todo, 14 suspeitos foram indiciados, sendo que seis estão presos e outras oito pessoas seguem foragidas.

Segundo a corporação, as prisões ocorreram durante a Operação Jedidias, iniciada em setembro de 2021. Os entorpecentes, que eram trazidos do Marrocos e Paraguai, chegavam a ser vendidos a R$ 250/grama para traficantes de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Jovens chefiavam quadrilha que levava haxixe do ES para todo o Sudeste

Quem eram 

Considerados os líderes da organização criminosa, Yves e Matheus viraram parceiros no tráfico de drogas em 2020. Cada um já possuía a própria quadrilha, em diferentes estados, mas os negócios foram fundidos. De acordo com a Polícia Civil, ambos estão presos. 

Yves Marques Fagundes, também conhecido como "Jaguar", era o principal chefe do grupo. Atualmente, ele está detido em São Paulo. O suspeito começou a atuar no mundo do crime no Espírito Santo, e tinha como foco a venda de ice e pak, que são os tipos mais caros de haxixe. 

Segundo na hierarquia da organização criminosa, Matheus Salomão de Souza Sardenberg foi preso no Espírito Santo, em 2022. Sua especialidade seria na venda do haxixe tipo uva, que é comercialmente mais barato. Ele tinha como principal polo de atuação o estado de Minas Gerais, mas se refugiou em terras capixabas para fugir da polícia.

Os suspeitos também eram os destinatário de inúmeros depósitos cujas titularidades eram alteradas e autores de atos de violência física e moral, classificados como tortura e extorsão.

Titular do 6º Distrito de Polícia de Vila Velha, o delegado Guilherme Eugênio Rodrigues explicou que os dois fizeram a sociedade já em terras capixabas, onde uniram forças para expandir a compra e venda da droga. Conforme destacou a corporação, eles conseguiram movimentar mais de R$ 15 milhões. 

Titular do 6º Distrito de Polícia de Vila Velha, delegado Guilherme Eugênio Rodrigues
Titular do 6º Distrito de Polícia de Vila Velha, delegado Guilherme Eugênio Rodrigues. (Polícia Civil do Espírito Santo)

"A partir dessa fusão, os dois começaram a compartilhar rotas de fornecimento, mão-de-obra dos contadores, guardadores, entre outros. Além disso, também começam a dividir o mercado. Matheus forneceria um tipo de droga, a uva, para os clientes do Yves, e este oferecia as drogas de maior valor para os clientes do sócio, ganhando o mercado mineiro", afirmou. 

Como tudo começou

As investigações começaram em setembro de 2021, após a prisão de um jovem que entregava maconha e haxixe a domicílio em Guarapari. À época, ele estava com armas e drogas na companhia do filho de um ano. Atualmente, ele está solto, e não teve o nome divulgado. 

O traficante delatou quem eram os fornecedores, que também acabaram presos. A partir daí, os "figurões" da organização criminosa começaram a ordenar uma série de torturas a traficantes da "rede" que, por algum motivo, deixavam de pagar pela mercadoria.

Organização criminosa alvo de operação na última quinta-feira (6) era formada por empresários que movimentavam milhões de reais em diversas contas; entenda como esquema funcionava
Arma, munições, drogas e materiais para embalo da droga foram apreendidos em Guarapari  . (Divulgação | Polícia Civil)

"Um integrante pagou tudo o que foi exigido e, mesmo assim, continuou a ser cobrado. Ele foi desnudado, espancado e abandonado no Parque Paulo César Vinha, em Guarapari – a princípio inconsciente. Depois de algum tempo, ele acordou, recobrou a consciência e conseguiu caminhar pela rodovia até conseguir ajuda", destacou.

Aspas de citação

Alguns não chegaram a ser torturados, mas foram muito ameaçados. A família do Kelvynton pagou o que ele devia originalmente, mas passaram a exigir ainda mais a título de juros. Ele [o grupo criminoso] passou, portanto, a exigir mais do que os 'funcionários' efetivamente deviam

Guilherme Eugênio Rodrigues
Titular do 6º Distrito de Polícia de Vila Velha
Aspas de citação

Um desses traficantes, que já vinha sendo ameaçado por causa de dívidas, topou um acordo de delação premiada, o que foi o pontapé inicial para que o esquema começasse a ser desvendado.

Como a droga chegava ao ES

Segundo o delegado, o haxixe costuma ser produzido no Marrocos, país do Norte da África, passa pela Espanha, Portugal e depois chega ao Brasil. O que chamou a atenção é por qual motivo o Espírito Santo era um dos escolhidos para receber a droga aqui no País.

Aspas de citação

Tudo indica que elas vinham chegando através do Porto de Vitória, uma vez que um dos que se encontram atualmente presos é sócio de uma empresa que presta serviços para embarcações que se encontram paradas nas imediações do nosso porto. Essa empresa pode ter acesso a esses navios e acreditamos que essas drogas possam ser desembarcadas ainda antes que esses navios efetivamente aportem em Vitória

Guilherme Eugênio Rodrigues
Titular do 6º Distrito de Polícia de Vila Velha
Aspas de citação

Movimentações milionárias

"Nós focamos as investigações nas pessoas que exercem os papéis mais relevantes dentro da organização, que praticam atos de violência, que movimentam maiores montantes e que, de certa forma, são protagonistas nesse cenário de distribuição interestadual de haxixe", disse Guilherme Eugênio.

Ele salientou que o haxixe é uma das drogas mais caras comercializadas no Brasil, então o público-alvo costuma ser de camadas mais elitizadas da sociedade. No entanto, destacou também que as comunidades mais carentes começaram a consumir a droga e se tornaram usuários atrativos para a quadrilha.

Os presos

Desde o início das investigações da operação, 26 suspeitos respondem por envolvimento no grupo criminosos – alguns, no entanto, não chegaram ser presos, por terem feito delação premiada e/ou por terem envolvimento um muito pequeno no esquema. Desses, 14 tiveram o mandado de prisão expedido, e oito seguem foragidos.

Os acusados vão responder por crimes desde associação criminosa até tortura e lavagem de dinheiro. Confira abaixo os nomes e as funções de cada envolvido:

Suspeitos de integrar organização criminosa presos
Suspeitos de integrar organização criminosa presos. (Divulgação/Polícia Civil)

  1. Yves Marques Fagundes, vulgo "Jaguar": foi preso em São Paulo. É o principal líder da associação. Distribui drogas somente no atacado. Destinatário efetivo de inúmeros depósitos cuja titularidade foi dissimulada e autor de atos de violência física e moral classificados como tortura e extorsão.
  2. Wendell Vieira: foi preso no Espírito Santo. Revende drogas a consumidores finais.
  3. Matheus Salomão de Souza Sardenberg: preso no Espírito Santo. Segundo na hierarquia da organização criminosa. Distribui drogas somente no atacado. Destinatário efetivo de inúmeros depósitos cuja titularidade foi dissimulada. Autor de atos de violência física e moral classificados como tortura e extorsão.
  4. Kelvynton Bourguignon de Souza: preso no Espírito Santo. Já atuou como “longa manus” (executor de ordens) de Matheus Salomão, promovendo, inclusive, o transporte interestadual de drogas ilícitas e recrutando seus próprios revendedores de drogas distribuídas pelo grupo que integrou. Atuou também como laranja e foi vítima de atos de violência classificados como extorsão e tortura psicológica praticados pelo grupo.
  5. Fábio Christe Moscon: preso no Espírito Santo. Fornece, a consumidores finais, drogas distribuídas pelo grupo.
  6. Amanda Neves da Silva: presa em São Paulo. Distribuiu, no estado de São Paulo, drogas fornecidas pelo grupo e empregou as contas de sua mãe para a “lavagem de dinheiro”.

Seguem foragidos

Suspeitos de integrar organização criminosa foragidos
Suspeitos de integrar organização criminosa foragidos. (Divulgação/Polícia Civil)

  1. Pedro Henrique Franco Silva: é considerado o principal “longa manus” (executor de ordens) de Yves Marques Fagundes, que atuou em atividades variadas relacionadas ao tráfico de drogas, dentre as quais, até mesmo o transporte interestadual dessas substâncias. Atuou também como “laranja” e na venda de drogas fornecidas por seu líder a consumidores finais.
  2. Jhonathan Emanuel Gomes Silva: outro executor de ordens de Yves Marques Fagundes, que atuou em atividades variadas relacionadas ao tráfico de drogas, dentre as quais a custódia dessas substâncias. Atuou também como “laranja” e na venda de drogas fornecidas por seu líder a consumidores finais.
  3. Talita Santana de Almeira: atuou como “laranja” da organização criminosa em tela, assumindo a titularidade de depósitos, figurando como locatário de veículos empregados pelo grupo.
  4. Matheus Augusto Barros Alcantra: principal executor de ordens de Mathes Salomão no estado de Minas Gerais e  responsável por gerir os negócios de seu líder no território mineiro. Atuou também como “laranja”.
  5. Ian Carlos Dias Mercher, vulgo "olho azul": distribuiu, em larga escala, drogas fornecidas pelo grupo, obtendo assim grande faturamento “lavado” com o emprego de “laranjas” e intermediários (Rafael Queiroz e Kevyn). Fornece drogas à facção criminosa Primeiro Comando Vermelho (PCV).
  6. Rafael Queiroz de Oliveira Costa: atua como executor de ordens de Ian Carlos, agindo inclusive em prol da dissimulação da titularidade de recursos.
  7. Lucca Marques Costa Coelho: inicialmente recrutado para apoiar as atividades promovidas pelo núcleo ligado a Matheus Salomão, posteriormente tornou-se executor de ordens de Yves Marques Fagundes. Também atua na venda direta de drogas a consumidores finais e como “laranja” do grupo. Participou de atos de violência física classificados como “tortura”. Frequentou imóveis antes frequentados por Matheus Salomão, em Minas, fato que sugere que promoveu também o transporte interestadual de drogas.
  8. Poliane da Silva Olveira: atuou como “mula” da organização criminosa em tela, transportando, entre Belo Horizonte e Vitória, drogas fornecidas pela organização.

A reportagem de A Gazeta tenta localizar a defesa dos acusados. O espaço segue aberto para a manifestação das partes.

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