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Justiça derruba sigilo do caso de jovem jogado da ponte por PMs no ES

Justiça derruba sigilo do caso de jovem jogado da ponte por PMs no ES

Família de Kaylan classificou a decisão como importante, mas ainda aguarda retirada de sigilo do vídeo que mostra a vítima sendo arremessada da Segunda Ponte

Felipe Sena

Repórter / [email protected]

Publicado em 7 de junho de 2025 às 14:59

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A Justiça do Espírito Santo determinou a retirada do sigilo do processo que investiga a morte do adolescente Kaylan Ladário Crédito: Daniel Marçal | Arquivo Pessoal

A Justiça do Espírito Santo determinou, na quinta-feira (5), a retirada do sigilo do processo que investiga a morte do adolescente Kaylan Ladário dos Santos, de 17 anos, arremessado da Segunda Ponte, entre Vitória, Vila Velha e Cariacica, na madrugada de 18 de fevereiro deste ano. Três policiais militares — o cabo Franklin Castão Pereira e os soldados Luan Eduardo Pompermaier Silva e Leonardo Gonçalves Machado — são réus no processo que apura o crime.

A decisão atende a um pedido da advogada da família de Kaylan, feito durante a audiência de custódia dos acusados, que argumentou que o caso, por envolver agentes públicos, deveria ser de conhecimento da sociedade. "O sigilo foi decretado por envolver menor [de idade], mas entendemos que o processo tem legitimidade para ser público, que é a regra", afirmou a advogada Hiorranna Meneguci Alves, em entrevista ao Gazeta Meio Dia neste sábado (7).

Os documentos mostram que os policiais teriam jogado o adolescente de uma altura de 14 metros na Segunda Ponte, de acordo com denúncia oferecida pelo Ministério Público do Espírito Santo e aceita pela Justiça. Em decisão que determinou a prisão preventiva dos acusados, o juiz Alexandre Pacheco Carreira destacou que os três militares agiram "de forma livre, consciente e assumindo o risco de matar".

"Segundo apurado, a vítima Kaylan Ladário dos Santos teria se debatido nas águas em uma tentativa de sobreviver, porém não conseguiu evitar o seu afogamento, vindo a óbito, e os autores nada teriam feito para salvá-lo", apontou o juiz na decisão. 

A prisão preventiva foi decretada porque, como o caso envolve militares, caso ficassem em liberdade, os acusados poderiam "interferir no ânimo e nos depoimentos das testemunhas ou prejudicar a instrução criminal", ainda de acordo com o juiz.

A advogada da família destacou, no entanto, que algumas informações sobre o caso ainda não foram liberadas, sob a justificativa de conterem dados como endereços dos acusados. Entre os arquivos que permanecem em sigilo está o vídeo que mostra a ação dos PMs.

"Ele deveria ter sido protegido quando estava vivo", diz mãe

O processo estava em sigilo a pedido da defesa de um dos policiais acusados do crime, sob o argumento de que o caso envolvia um menor de idade.

A mãe de Kaylan, Leicester Ladário, viu as imagens do crime e descreveu a cena com angustiante. "Eu vi eles jogando meu filho. Ele estava vivo. Pararam o carro em cima da ponte e o jogaram. Viram ele se debatendo na água e foram embora".

Ela cobra a divulgação total do material. "Não tem por que proteger meu filho agora. Ele deveria ter sido protegido quando estava vivo".

Kaylan foi abordado pelos PMs devido a um mandado de apreensão por um assalto em 2023, mas, ao ser levado à delegacia, descobriu-se que o documento estava vencido. Os policiais alegaram que o levariam para casa, mas, segundo a investigação, desviaram o caminho e o jogaram da ponte. Seu corpo foi encontrado no dia seguinte por um pescador.

Prisão mantida

Na audiência de custódia, realizada na quinta-feira (5), na 4ª Vara Criminal de Cariacica, a Justiça manteve os três PMs presos, por entender que não houve nenhum fato novo, desde a decretação da prisão, que justificasse a liberação dos acusados.

A defesa da família reforça que a condição de agentes da lei agrava ainda mais o crime de homicídio qualificado por impossibilidade de defesa. "Eles usaram o poder para violar direitos fundamentais. Isso gera descrença na Justiça", disse a advogada.

A Polícia Civil informou que o Inquérito Policial foi presidido pela Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cariacica, com o indiciamento dos militares por homicídio qualificado, em razão da impossibilidade de defesa da vítima. O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) ofereceu denúncia nos mesmos termos. 

A Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares do Espírito Santo (Aspra-ES) afirmou que não está prestando assessoria jurídica aos envolvidos. Desde a divulgação do caso, a reportagem de A Gazeta tenta localizar a defesa dos policiais e deixa este espaço aberto para eventuais manifestações.

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