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Transações milionárias alertaram polícia sobre 'drogas elitizadas' no ES

Transações milionárias alertaram polícia sobre 'drogas elitizadas' no ES

Organização criminosa alvo de operação na última quinta (6) era formada por empresários que movimentavam milhões de reais em diversas contas; entenda como esquema funcionava

Publicado em 7 de outubro de 2022 às 20:58- Atualizado há 2 anos

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Delegados José Lopes, Andreia Maria Pereira e Guilherme Eugênio
Delegados José Lopes, Andreia Maria Pereira e Guilherme Eugênio deram detalhes sobre as investigações. (Júlia Afonso)
Júlia Afonso
Repórter / [email protected]
Maria Fernanda Conti
[email protected]
Eduarda Moro
Curso de Residência em Jornalismo / sem-email-cadastrado

Transações milionárias fizeram a Polícia Civil chegar até os principais traficantes de uma organização criminosa capixaba que é uma das maiores referências nacionais de fornecimento de haxixe, droga vendida para a "elite". As investigações mostraram que empresários alugavam casas e veículos para preparo e distribuição do entorpecente. Carros de luxo também foram negociados em esquemas de lavagem de dinheiro.

A Gazeta preparou um dossiê para explicar como as investigações chegaram aos traficantes, alvos da operação que aconteceu nesta quinta-feira (6) em bairros nobres de Vitória, que acabou com a captura de nove deles: oito em cumprimento de mandado de prisão e um em flagrante. 

O nome de nenhum dos investigados foi divulgado pela Polícia Civil, mas a reportagem conseguiu confirmar, junto à Secretaria Estadual da Justiça (Sejus), que Luiz Cláudio Ferreira Sardenberg, acusado de matar a ex-namorada Gabriela Regattieri Chermont, em 1996, estava entre os presos. O filho dele, Matheus Salomão Sardenberg, e a namorada do filho, Bárbara Braga, também foram capturados.

COMO TUDO COMEÇOU?

As investigações começaram em setembro de 2021, após a prisão de um jovem que entregava maconha e haxixe a domicílio em Guarapari. À época, ele estava com armas e drogas na companhia do filho de um ano.

O traficante delatou quem eram os fornecedores, que também acabaram presos. A partir daí, os "figurões" da organização criminosa começaram a ordenar uma série de torturas a traficantes da "rede" que, por algum motivo, deixavam de pagar pela mercadoria.

Organização criminosa alvo de operação na última quinta-feira (6) era formada por empresários que movimentavam milhões de reais em diversas contas; entenda como esquema funcionava
Material apreendido com traficante em Guarapari, em setembro de 2021. (Divulgação | Polícia Civil)

Um desses traficantes, que já vinha sendo ameaçado por causa de dívidas, topou um acordo de delação premiada, o que foi o pontapé inicial para que o esquema começasse a ser desvendado.

MOVIMENTAÇÕES MILIONÁRIAS

"Nós focamos as investigações nas pessoas que exercem os papéis mais relevantes dentro da organização, que praticam atos de violência, que movimentam maiores montantes e que, de certa forma, são protagonistas nesse cenário de distribuição interestadual de haxixe", disse o delegado Guilherme Eugênio, da Delegacia Especializada de Narcóticos (Denarc) de Guarapari.

Ele salientou que o haxixe é uma das drogas mais caras comercializadas no Brasil, então o público-alvo costuma ser de camadas mais elitizadas da sociedade.

Aspas de citação

Os alvos dessa operação são essencialmente aqueles que fornecem para outros traficantes. Chegamos em quem acreditamos que sejam os primeiros dentro do território nacional a colocarem a mão nessas drogas e que fazem a distribuição para os varejistas

Delegado Guilherme Eugênio
Titular da Delegacia Especializada de Narcóticos (Denarc)
Aspas de citação

Pelo menos cinco pessoas da organização criminosa movimentaram R$ 1 milhão cada, em um curto período.

"Considerando que essas pessoas movimentaram R$ 1 milhão cada, temos uma base para acreditar que a movimentação efetiva delas seja muito maior. Percebemos que um dos alvos, em apenas um ano, depositou em dinheiro, em apenas uma conta, R$ 400 mil. E esse dinheiro transita por várias contas, inclusive de laranjas, para chegar a seus efetivos titulares", ressaltou o delegado.

QUEM ERAM OS FIGURÕES

Entre os alvos da operação estão empresários, sócios de empresa do setor portuário e donos de firmas atacadistas.

"Diferente do perfil daquele traficante que atua em morros e se dedica à venda de crack, cocaína e maconha, os alvos dessa operação são, em geral, pessoas que circulam livremente pela sociedade, tidas como pessoas de bem e que viajam muito também. Todos eles frequentam diversos estados da federação e inclusive fazem viagens internacionais", destacou Eugênio.

COMO A DROGA CHEGAVA ATÉ O ES?

Segundo o delegado, o haxixe costuma ser produzido no Marrocos, país do Norte da África, passa pela Espanha, Portugal e depois chega ao Brasil. O que chamou a atenção é por qual motivo o Espírito Santo era um dos escolhidos para receber a droga aqui no País.

Aspas de citação

Tudo indica que elas vinham chegando através do Porto de Vitória, uma vez que um dos que se encontram atualmente presos é sócio de uma empresa que presta serviços às embarcações que encontram-se paradas nas imediações do nosso porto. Essa empresa pode ter acesso a esses navios e acreditamos que essas drogas possam ser desembarcadas ainda antes que esses navios efetivamente aportem em Vitória

Delegado Guilherme Eugênio
Titular da Delegacia Especializada de Narcóticos (Denarc)
Aspas de citação

Cada um dos sócios da organização era responsável por distribuir a droga para um estado do País. "De acordo com o depoimento prestado em delação premiada, um dos traficantes, o único que foi efetivamente delatado, que era conhecido pelo delator, abastecia especificamente o mercado de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os demais sócios dele abasteciam outros estados da federação", pontuou Eugênio.

ALUGUEL DE CASAS E VEÍCULOS

Os traficantes eram cuidadosos: para preparar a droga, eles utilizavam casas alugadas através de aplicativos. Na distribuição do produto, eles também usavam veículos locados.

"Aquele que concretamente ordenou o transporte de cargas aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro empregou veículos alugados e muitas vezes até mesmo viagens de ônibus feitas com o emprego de aplicativos", detalhou o delegado.

CARROS DE LUXO E LAVAGEM DE DINHEIRO

As investigações mostraram que os suspeitos chegaram a vender carros de luxo para lavarem o dinheiro. Um Audi foi vendido no Paraguai, enquanto uma BMW foi comercializada pela organização em Belo Horizonte.

A Polícia Civil do Estado está compartilhando informações com a Polícia Federal e com polícias de outros estados, e as investigações continuam. Na operação da última quinta (6), houve ainda apreensão de drogas, máquinas de cartão e o bloqueio das contas dos investigados.

O QUE DIZ A DEFESA

A defesa de Bárbara Braga entrou em contato com a reportagem de A Gazeta para se posicionar sobre o caso.

"Bárbara não tem e nunca teve papel de protagonismo na organização, pelo contrário, tinha seu nome usado e nunca usufruiu de nenhum centavo sequer do valor que era movimentado. Desde o primeiro momento, quando soube que a Polícia Civil estava em sua casa, se dirigiu espontaneamente até eles. Posteriormente, sua defesa procurou as autoridades para esclarecer todos os fatos, apresentar documentos e contraprovas para demonstrar que Bárbara nunca foi integrante ativa de nenhuma organização voltada à prática delitiva", declarou o advogado Rodrigo Bandeira de Mello.

Errata Atualização
14 de outubro de 2022 às 15:30

O advogado que faz a defesa de Bárbara Braga, uma das presas na operação, entrou em contato com a reportagem para um posicionamento. O texto foi atualizado. 

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