> >
"Era previsível", diz primo de mulher morta na frente da filha em Vitória

"Era previsível", diz primo de mulher morta na frente da filha em Vitória

Parente relatou que Kátia Matos já havia sido ameaçada pelo marido; vítima morreu na frente da filha de dez anos, na noite de domingo (11)

Publicado em 12 de abril de 2021 às 15:02

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura
Cabo da PM, Márcio Borges Ferreira matou a esposa Kátia Matos da Silva Ferreira no domingo (11), na frente da filha, em Vitória. (Reprodução | Redes Sociais)

O sentimento é de impotência. No edifício em que Kátia Matos da Silva Ferreira foi morta a tiros pelo marido e policial Márcio Borges Ferreira, um primo dela revelou a rotina de violência. "Não é a primeira vez que houve essa tentativa. Na verdade, houve tentativas e ontem foi fatal. Era previsível", disse, sem querer ser identificado.

A professora de 49 anos foi assassinada pelo cabo da Polícia Militar, após uma discussão na noite de domingo (11), em Vitória. O crime aconteceu dentro do apartamento em que eles moravam e foi presenciado pela filha do casal, de apenas dez anos. Após o disparo, a criança saiu correndo e pedindo ajuda aos vizinhos.

De acordo com o parente, a prima já havia relatado diversas agressões e ameaças à família. Boletins de Ocorrência também chegaram a ser registrados na Polícia Militar, e a própria Corporação teria aberto um inquérito para investigar o policial. As queixas, porém, acabaram sendo retiradas pela vítima.

Aspas de citação

Ela retirou a queixa para não prejudicar a carreira dele, para ele poder ser promovido. Logo depois, ele virou cabo e, agora, fez isso aí

Primo da vítima
Identidade preservada
Aspas de citação

Pelo relato do familiar, a situação é um exemplo claro do ciclo da violência doméstica: discussões evoluem para ataques mais graves, intercalados com pedidos de desculpas. Somados a fatores como dependência financeira, a mulher muitas vezes tem medo ou desiste de levar o caso à Justiça. Não raramente, tudo termina com mais um feminicídio.

"Há cerca de oito anos, se não me engano, ele chegou a ser detido, mas depois voltou, pediu desculpas. A família conversou, e ficaram algum tempo vivendo bem. O pai dela chegou a alertar, a aconselhar algumas vezes. Mas o cara fala que vai mudar, a mulher acredita e, no fim, acontece isso", desabafou o primo, emocionado.

Kátia Matos da Silva Ferreira foi morta pelo marido, um cabo da Polícia Militar. (Reprodução | Redes Sociais)

No caso de Kátia há ainda outro agravante: o marido e agressor ainda era – ou pelo menos deveria ser – um representante da lei, que dá segurança às pessoas. Ou seja, é como se ela se sentisse encurralada, sem saída. Ainda assim, a orientação das autoridades é justamente fazer a denúncia e pedir por proteção.

Sem poder voltar atrás para evitar a morte da prima, o familiar fez um pedido a outras mulheres que possam estar passando por algo semelhante. "Na primeira situação que acontecer uma violência, denuncia e separa. Não espera, porque vai vir mais. Vai ser pior e você pode acabar sendo mais uma vítima", concluiu.

POLICIAL ARRASTOU A VÍTIMA PELO CABELO E TERIA ALEGADO SUICÍDIO

Ainda de acordo com o parente da vítima que acompanhou o trabalho de perícia da Polícia Civil no apartamento, o cabo Márcio Borges Ferreira teria alegado que o crime tratava-se de um suicídio. "Mas em hipótese nenhuma isso é cabível. Todos os vizinhos ouviram a discussão", afirmou o primo, categoricamente.

No auto de prisão em flagrante também relata que o policial teria arrastado a vítima pelos corredores do prédio, segurando-a pelos cabelos. Em seguida, ele teria jogado a esposa no interior da residência, deixando-a trancada no local. As informações constam em uma decisão judicial publicada nesta segunda-feira (12).

Cabo da PM, Márcio Borges Ferreira matou a esposa Kátia Matos da Silva Ferreira no domingo (11), na frente da filha, em Vitória
Márcio Borges Ferreira e Kátia Matos da Silva Ferreira estavam juntos há mais de dez anos e tiveram uma filha. (Reprodução | Redes Sociais)

AVÓ MATERNA É ACAMADA E AVÔ ENFRENTA UM CÂNCER

No meio do crime, com a mãe morta e o pai preso, está uma menina de apenas dez anos. A família ainda está decidindo com quem ela ficará e por quem será cuidada, mas revelou que os avós maternos têm condições delicadas de saúde. A avó está acamada, em fase terminal de Alzheimer, e o avô enfrenta um câncer no pâncreas.

"A Kátia era uma pessoa extremamente amável, tomava conta dos pais, que são idosos, e da filha. Tudo desse apartamento, ela que conseguiu. Ele era apenas o marido", disse um primo. "O que o cidadão fez com a filha dele? Com quem ela vai ficar? Vai ser muito difícil. Vamos ver o que faremos", desabafou.

CRIME É INVESTIGADO, MAS CORREGEDORIA AINDA ESPERA

Na própria noite do crime, a Polícia Militar compareceu ao imóvel de Jardim da Penha e encontrou o cabo Márcio Borges Ferreira. Embora detido, ele se queixou de mal-estar e dor de cabeça, e foi levado para o Hospital da PM, que também fica na Capital, antes de ser encaminhado ao Plantão Especializado da Mulher.

Por meio de nota, a Polícia Civil informou que ele foi autuado em flagrante por homicídio qualificado (por motivo fútil, por não ter dado chance de defesa à vítima e por ser em contexto de violência doméstica) e majorado (por ter sido na frente da filha). Ele está preso no presídio do Quartel da PM, em Maruípe.

Em decisão proferida nesta segunda-feira (12), a Justiça converteu a prisão em flagrante para prisão preventiva e revelou que ele já tinha dois registros criminais: uma ação penal e uma medida protetiva. Já internamente, a Corregedoria da PM aguarda o envio de documentos para verificar qual procedimento administrativo cabe ser instaurado.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais