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"É importante rever política de arma de fogo no Brasil", diz secretário do ES

"É importante rever política de arma de fogo no Brasil", diz secretário do ES

Alexandre Ramalho, chefe da Segurança Pública do Estado, usou o episódio do projétil que caiu ao lado de um padre dentro de uma igreja, em Vitória, para exemplificar o fácil acesso que a criminalidade possui às armas e a permissividade da legislação atual

Publicado em 2 de fevereiro de 2021 às 11:48- Atualizado há 3 anos

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Coronel Alexandre Ramalho. Secretário de Segurança Pública e Defesa Social do ES
Coronel Alexandre Ramalho. Secretário de Segurança Pública e Defesa Social do ES. (Vitor Jubini)
"É importante rever política de arma de fogo no Brasil", diz secretário do ES

No mês de janeiro de 2021, o Espírito Santo viu crescer o número de assassinatos e mortes violentas. A escalada no registro de homicídios incomoda a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, que vê na disputa pelo tráfico de drogas um catalisador nos óbitos brutais em solo capixaba. Esta é a opinião do secretário da pasta, Alexandre Ramalho, que ainda classifica estes crimes como um desafio diário para as polícias atuantes no Estado.

A facilidade no acesso às armas e as brechas na legislação existente no país são os principais desafios para a segurança pública. Ramalho cita o episódio do projétil que cai aos pés de um padre dentro de uma igreja em Maruípe, em Vitória, como exemplo do poderio de fogo da criminalidade e ineficácia da política de controle de armas. Na ocasião, a bala perfurou o teto da capela e por pouco não atingiu o religioso.

"Primeiramente é lamentar profundamente o ocorrido e também a nossa solidariedade à Igreja Católica e aos fiéis. Este caso só retrata, infelizmente, o que acontece. São jovens inconsequentes, irresponsáveis com um poder de fogo absurdo, até porque a legislação hoje permite o alcance a armas como pistola 9 milímetros, pistola .40 e atiram para qualquer lado. No caso da igreja, ainda não temos os relatos, mas pode ser que disparos feitos do alto do morro, feitos para dizer aos rivais que eles possuem poderio de fogo, tenham caído lá, pois não há controle sobre onde este tiro vai cair. Lamentavelmente caiu na igreja. São questões relacionadas ao tráfico e que não temos o efetivo controle do momento exato de quando irá acontecer", avaliou Ramalho em entrevista ao Bom Dia ES, da TV Gazeta, na manhã desta terça-feira (02).

Em Maruípe, Vitória
O padre Robinson de Castro Cunha por pouco não foi atingido pelo projétil que entrou pelo teto da igreja de Maruípe, em Vitória. (PASCOM - Pastoral da Comunicação)

O secretário explicou que as forças de segurança do Estado trabalham para frear a escalada da violência, inclusive existindo um monitoramento dos locais onde mais se matam pessoas no Espírito Santo, entretanto o tráfico tem grande poder de recrutamento de pessoas, especialmente jovens, o que faz com que o número de criminosos siga elevado. 

"Nós temos um mapeamento destes homicídios, remonta mais uma vez aquela faixa etária entre 12 a 28 anos, de jovens totalmente inconsequentes e irresponsáveis, ligados ao tráfico de drogas, e ainda sob o comando de alguém que determina as execuções. O que estamos vivendo em Cariacica, por vezes vivemos também neste mês de janeiro no Morro do Quadro, Cruzamento e Jucutuquara (em Vitória), essa conflagração do tráfico de entorpecentes. O que fazemos é remodelar nosso planejamento ostensivo da Polícia Militar e trabalhar com as investigações da Civil", destacou.

Em relação especificamente à Cariacica, na Grande Vitória, onde nos últimos dias diversos assassinatos foram contabilizados, Ramalho destaca que algumas regiões recebem atenção especial das forças de segurança pública do Estado.

"A grande região de Porto de Santana, com incidência maior no Morro do Quiabo, e Aparecida tem sido nossa maior preocupação. Na data de ontem (segunda-feira, 01) fizemos a apreensão de um menor de 17 anos que havia um mandado contra ele por homicídio. São jovens violentos, munidos de armas de grosso calibre protagonizando estas cenas de violência nas comunidades.

FORÇA NACIONAL

Por ser um dos epicentros da violência no Espírito Santo, Cariacica conta há mais de um ano com a atuação da Força Nacional no Município, ainda assim os indicadores relacionados aos crimes brutais seguem em viés de alta na cidade. O secretário, entretanto, salienta que a atuação da Força na cidade é positiva.

"O efetivo da Força Nacional desde que foi implantado o programa "em Frente Brasil" diminuiu, mas tem sido uma força aliada das polícias Militar e Civil, e independentemente dela, foram mais de 3 mil operações policiais no ano passado em Cariacica, que resultaram na apreensão de 3,5 mil pessoas, 20% destas menores de idade, além de 444 armas de fogo tiradas de circulação. Somente neste mês de janeiro, foram outras 30, ou seja, uma arma por dia é apreendida do ano passado para cá. É neste sentido que destacamos a ação das polícias", pontuou Alexandre Ramalho.

Na visão do chefe da segurança pública capixaba, o afastamento forçado de muitos jovens das escolas em 2020 em decorrência da pandemia do novo coronavírus levou menores à criminalidade. Neste sentido, Ramalho faz um apelo aos pais ara que estimulem os filhos a retornarem em segurança aos colégios, visto que o ano letivo de 2021 com mescla entre aulas presenciais e à distância já foi iniciada nas redes estadual e também particular.

Ainda segundo o chefe da Sesp, são muitas armas em circulação no Estado e no Brasil sem o devido controle necessário. Para ele, é preciso discutir mais a questão da acessibilidade às armas no país.

Polícia
Quase que diariamente armas de grosso calibre são tiradas de circulação. Ainda assim, a criminalidade tem fácil acesso a modelos como pistolas e outros armamentos de grosso calibre. (Divulgação/Polícia Civil)

"Não é que o Estado não tenha o controle. O que ocorre é que existe uma legislação permissiva e que autoriza a aquisição de arma de fogo para que as pessoas as tenham em suas residências, bem como uma quantidade elevada de munição. O que não podemos ter o controle é se elas estão ficando efetivamente em casa. Nós já começamos a apreender armas autorizadas pela Polícia Federal para posse para ficar em casa, mas que estão circulando nas ruas. Existe uma ilegalidade e é preciso rever a política de armas de fogo no Brasil. Cerca de 80% dos homicídios do país são por arma de fogo, mas não temos uma legislação eficaz que combata isso. Esse problema deságua na segurança pública", finalizou o secretário.

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Com informações de Mayara Mello, da TV Gazeta

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