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De pak a uva: haxixe de quadrilha do ES ia para classe média e periferia

De pak a uva: haxixe de quadrilha do ES ia para classe média e periferia

Uma das variedades da droga ganhou popularidade com a vinda de um dos principais líderes do grupo para o Espírito Santo; ao todo, 14 suspeitos foram indiciados; seis estão presos

Publicado em 3 de maio de 2023 às 21:14

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Associado normalmente ao grupo de pessoas com alto poder aquisitivo, o consumo do haxixe entre as comunidades carentes do Sudeste foi impulsionado por uma quadrilha do Espírito Santo e de Minas Gerais. A organização criminosa – formada por indivíduos de classe média – movimentou mais de R$ 15 milhões com a venda da droga, segundo a Polícia Civil capixaba. 

Ao todo, 14 suspeitos foram indiciados, sendo que seis estão presos e outras oito pessoas seguem foragidas.

De acordo com a corporação, as prisões ocorreram durante a Operação Jedidias, iniciada em setembro de 2021. Os entorpecentes, que eram trazidos do Marrocos e Paraguai, chegavam a ser vendidos a R$ 250/grama.

Organização criminosa alvo de operação na última quinta-feira (6) era formada por empresários que movimentavam milhões de reais em diversas contas; entenda como esquema funcionava
Material apreendido durante operação Jedidias, em Guarapari. (Divulgação | Polícia Civil)

As variedades da droga

Entre os principais tipos distribuídos pela quadrilha, estão a pak, ice e uva – esta última é facilmente comercializável, por ser mais barata. Apesar de todas já estarem introduzidas no Estado, o tipo uva ganhou ainda mais popularidade com a vinda de um dos principais líderes do grupo, que atuava em Minas Gerais, para o Espírito Santo.

Aspas de citação

São todas subespécies do haxixe, só que o nome específico que se atribui a cada uma dessas drogas é relacionado à pureza dela, à concentração de THC (tetrahidrocanabinol)

Guilherme Eugênio Rodrigues
Delegado
Aspas de citação

Titular do 6º Distrito de Polícia de Vila Velha, o delegado Guilherme Eugênio Rodrigues detalhou que Matheus Salomão de Souza Sardenberg, de 24 anos, foi preso em terras capixabas, no ano passado. Segundo na hierarquia da organização criminosa, ele tinha como principal polo de atuação o estado mineiro, mas se refugiou em terras capixabas para fugir da polícia. 

"Matheus forneceria um tipo de droga, a uva, para os clientes do Yves – o "manda-chuva" da associação criminosa –, e este oferecia as drogas de maior valor para os clientes do sócio, ganhando o mercado mineiro", afirmou.

Diferenças entre os tipos de droga

Haxixe uva - Possui uma coloração preta por fora e vermelha/roxo por dentro. Ele também é um haxixe poroso, que, quando comercializado em bolas, lembra um cacho de uvas;

Haxixe ice - A produção dessa variedade de haxixe utiliza água e gelo (por isso a origem do nome);

Haxixe pak - É feito sem solventes. 

Distribuidor do PCV

Ainda segundo o delegado, a popularização dessa droga nas comunidades contou com o apoio de um personagem importante para o esquema. Ian Carlos Dias Mercher, vulgo "Olho Azul", foi o responsável por distribuir o haxixe em larga escala, inclusive para o Primeiro Comando de Vitória (PCV). O grupo atua sobretudo nos morros da Capital e de outras cidades capixabas.

"Em lugares carentes, o grupo criminoso conseguiu criar uma abertura através do Ian Carlos Dias. Ele é bem conhecido aqui no Estado, principalmente pelo apelido. O Ian está foragido e é procurado", destacou Guilherme Eugênio.

Titular do 6º Distrito de Polícia de Vila Velha, delegado Guilherme Eugênio Rodrigues
Titular do 6º Distrito de Polícia de Vila Velha, delegado Guilherme Eugênio Rodrigues. (Polícia Civil do Espírito Santo)

Os presos

Desde o início da operação, 26 suspeitos respondem por envolvimento no grupo criminoso – alguns, no entanto, não chegaram ser presos, por terem feito delação premiada e/ou por terem envolvimento muito pequeno no esquema. Desses, 14 tiveram o mandado de prisão expedido, e oito seguem foragidos.

Os acusados vão responder por crimes desde associação criminosa até tortura e lavagem de dinheiro. Confira abaixo os nomes e as funções de cada envolvido:

Suspeitos de integrar organização criminosa presos
Suspeitos de integrar organização criminosa presos. (Divulgação/Polícia Civil)

  1. Yves Marques Fagundes, vulgo "Jaguar": foi preso em São Paulo. É o principal líder da associação. Distribui drogas somente no atacado. Destinatário efetivo de inúmeros depósitos cuja titularidade foi dissimulada e autor de atos de violência física e moral classificados como tortura e extorsão.
  2. Wendell Vieira: foi preso no Espírito Santo. Revende drogas a consumidores finais.
  3. Matheus Salomão de Souza Sardenberg: preso no Espírito Santo. Segundo na hierarquia da organização criminosa. Distribui drogas somente no atacado. Destinatário efetivo de inúmeros depósitos cuja titularidade foi dissimulada. Autor de atos de violência física e moral classificados como tortura e extorsão.
  4. Kelvynton Bourguignon de Souza: preso no Espírito Santo. Já atuou como “longa manus” (executor de ordens) de Matheus Salomão, promovendo, inclusive, o transporte interestadual de drogas ilícitas e recrutando seus próprios revendedores de drogas distribuídas pelo grupo que integrou. Atuou também como laranja e foi vítima de atos de violência classificados como extorsão e tortura psicológica praticados pelo grupo.
  5. Fábio Christe Moscon: preso no Espírito Santo. Fornece, a consumidores finais, drogas distribuídas pelo grupo.
  6. Amanda Neves da Silva: presa em São Paulo. Distribuiu, no estado de São Paulo, drogas fornecidas pelo grupo e empregou as contas de sua mãe para a “lavagem de dinheiro”.

Seguem foragidos

Suspeitos de integrar organização criminosa foragidos
Suspeitos de integrar organização criminosa foragidos. (Divulgação/Polícia Civil)

  1. Pedro Henrique Franco Silva: é considerado o principal “longa manus” (executor de ordens) de Yves Marques Fagundes, que atuou em atividades variadas relacionadas ao tráfico de drogas, dentre as quais, até mesmo o transporte interestadual dessas substâncias. Atuou também como “laranja” e na venda de drogas fornecidas por seu líder a consumidores finais.
  2. Jhonathan Emanuel Gomes Silva: outro executor de ordens de Yves Marques Fagundes, que atuou em atividades variadas relacionadas ao tráfico de drogas, dentre as quais a custódia dessas substâncias. Atuou também como “laranja” e na venda de drogas fornecidas por seu líder a consumidores finais.
  3. Talita Santana de Almeira: atuou como “laranja” da organização criminosa em tela, assumindo a titularidade de depósitos, figurando como locatário de veículos empregados pelo grupo.
  4. Matheus Augusto Barros Alcantra: principal executor de ordens de Mathes Salomão no estado de Minas Gerais e  responsável por gerir os negócios de seu líder no território mineiro. Atuou também como “laranja”.
  5. Ian Carlos Dias Mercher, vulgo "olho azul": distribuiu, em larga escala, drogas fornecidas pelo grupo, obtendo assim grande faturamento “lavado” com o emprego de “laranjas” e intermediários (Rafael Queiroz e Kevyn). Fornece drogas à facção criminosa Primeiro Comando Vermelho (PCV).
  6. Rafael Queiroz de Oliveira Costa: atua como executor de ordens de Ian Carlos, agindo inclusive em prol da dissimulação da titularidade de recursos.
  7. Lucca Marques Costa Coelho: inicialmente recrutado para apoiar as atividades promovidas pelo núcleo ligado a Matheus Salomão, posteriormente tornou-se executor de ordens de Yves Marques Fagundes. Também atua na venda direta de drogas a consumidores finais e como “laranja” do grupo. Participou de atos de violência física classificados como “tortura”. Frequentou imóveis antes frequentados por Matheus Salomão, em Minas, fato que sugere que promoveu também o transporte interestadual de drogas.
  8. Poliane da Silva Olveira: atuou como “mula” da organização criminosa em tela, transportando, entre Belo Horizonte e Vitória, drogas fornecidas pela organização.

A reportagem de A Gazeta tenta localizar a defesa dos acusados. O espaço segue aberto para a manifestação das partes.

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