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Chuvas fortes em curto espaço de tempo vão ser mais frequentes no ES

Chuvas fortes em curto espaço de tempo vão ser mais frequentes no ES

Os eventos climáticos, como o aquecimento global, têm transformado chuvas fortes num curto espaço de tempo em algo cada vez mais recorrente

Publicado em 28 de fevereiro de 2020 às 11:23

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Cachoeiro de Itapemirim após as chuvas neste domingo. (Wagner Queiroz)

As chuvas intensas em curto espçao de período, como as que ocorreram no Sul do Espírito Santo no mês de janeiro, tendem a ser cada vez mais frequentes no Estado devido às mudanças climáticas.  Em Vitória, por exemplo, o número de temporais com essa característica dobrou em 40 anos, segundo os cálculos do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). 

Apesar disso, especialistas são unânimes ao dizer que o grande problema não é a ocorrência desse fenômeno, mas a forma desordenada que as pessoas têm se organizado no município, que ocasionam grandes impactos. No Espírito Santo, mais de 300 mil pessoas vivem em área de risco.

O professor do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Renato David Ghisolfi, explicou que os eventos climáticos, como o aquecimento global, têm transformado chuvas fortes num curto espaço de tempo em algo cada vez mais recorrente. Pontuou que não é a quantidade de chuva que tem aumentado, mas a distribuição que tem mudado fazendo com que esse fenômeno fique cada vez mais frequente.

“Esse fenômeno sempre ocorreu, o que está acontecendo é que está se intensificando. Se antes ocorria de 40 em 40 anos, agora passou a ser de 10 em 10 anos. Um grupo de cientistas do qual faço parte associa essa mudança a uma eventual alteração do clima, como o aquecimento global. Quanto mais calor, mais energia é produzida e mais intenso os fenômenos ficam”, disse.

O coordenador de meteorologia do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Hugo Ramos, explicou que nesta época do ano já é normal que chuvas de grande intensidade num período curto de tempo sejam formadas pela zona de convergência do Atlântico Sul. Em dias mais abafados, a combinação de calor e umidade também favorecem o desenvolvimento de tempestade que resultam num grande volume de água em pouco tempo.

Ele esclareceu que as cidades precisam se adaptar aos extremos. “Tanto chuvas intensas em pouco espaço de tempo e ciclos de seca vão sempre ocorrer no Espírito Santo. Temos que conviver com extremos climáticos e preparar as cidades para esse tipo de situação”, destacou.

CIDADES DESORDENADAS 

O professor do departamento de engenharia ambiental da Ufes e pós-doutor em Engenharia de Recursos Hídricos, Antônio Sérgio Ferreira Mendonça, explicou que as chuvas têm causado estragos devido a um problema histórico de formação das cidades que cresceram na beira do rio, ocasionando a redução de muitos deles. 

“Os solos ficaram menos impermeáveis porque a construção de casas e ruas tiraram os lugares das árvores que serviam como esponjas que absorvem a água para o lençol freático. A água corre mais rapidamente para o rio, que por sua vez está mais estreito, fazendo com que vazão do rio aumente rapidamente e cause as enchentes”, destacou.

Segundo Antônio Sérgio, é importante que o poder público pense em medidas estruturais, como diques, sistema de bombeamento de água, galerias de águas fluviais, além de medidas não estruturais como, por exemplo, mapear áreas de inundação e deslizamento de encosta e impedir que elas sejam habitadas de forma ilegal. 

“Os impactos dessas inundações são muito maiores hoje do que se essa chuva tivesse ocorrido há 20, 30 anos porque de lá para cá a ocupação desordenada das cidades foi se ampliando. As chuvas intensas não são o problema, o que ocorre é que as nossas cidades não estão preparadas para essas chuvas”, disse.

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O professor Renato David Ghisolfi também enfatiza que o problema não é o fenômeno que tem se intensificado, mas o crescimento desordenado das cidades, com muitas pessoas vivem em áreas de risco. “Precisamos nos adaptar a essa nova realidade e sair das áreas de risco para que as chuvas não causem impactos grandes, como ocorreu em Iconha. Além disso, devemos fazer nossa parte para ajudar o meio ambiente para que as mudanças climáticas não aconteçam tão rápido. É preciso pensar globalmente e agir localmente”, disse.

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