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Terras raras: onde estão no ES os minerais cobiçados pela indústria mundial

Terras raras: onde estão no ES os minerais cobiçados pela indústria mundial

Estudos feitos pela Ufes e Ifes apontam a presença no Estado principalmente de dois dos 17 minerais que compõem o grupo chamado de terras raras; elementos já têm sido usados em projetos

Publicado em 29 de julho de 2025 às 19:36

Você conhece os benefícios da areia monazítica? A praia da Areia Preta é famosa por seus poderes medicinais, comprovados cientificamente por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)

Em meio ao impasse a respeito da tarifa de 50% imposta pelo presidente americano Donald Trump sobre os produtos brasileiros, um assunto tem surgido nos últimos dias como possível trunfo que pode ser usado na conversa do governo brasileiro com os Estados Unidos: as terras raras.

Cobiçadas pela indústria mundial, terras raras correspondem a um grupo de 17 elementos químicos que podem ser essenciais para indústria automotiva, de energia, chips de computadores e outras aplicações. E os Estados Unidos demostraram interesse nesses minerais do Brasil.

No país, vários Estados têm potencial para a presença de terras raras no solo. O Espírito Santo, por exemplo, tem potencial em pesquisa e exploração no tema, concentrando dois dos minerais desse grupo: cério (Ce) e samário (Sm), segundo Marcos Tadeu Orlando, professor do Departamento de Física da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e representante da universidade no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT).

Cério e Samário são minerais de terras raras encontrados no Espírito Santo
Cério e Samário são minerais de terras raras encontrados no Espírito Santo Crédito: Reprodução

O que são terras raras?

As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos: lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio, lutécio, escândio e ítrio (Y), de acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB).

China é o país que possui a maior reserva de terras raras do mundo, com 44 milhões de toneladas. Em seguida, aparecem o Brasil, com 21 milhões de toneladas, e a Índia, com 6,9 milhões de toneladas.

O professor de Engenharia de Minas do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) Juliano Zagôto explicou que, apesar do nome, os elementos não têm nada de raros.

"São até abundantes na crosta terrestre. O problema é a dificuldade em extrair os elementos. Muitas vezes tem que ter um processo físico e químico, o que pode deixar muito caro extrair, pois muitos deles estão associados a outros minerais", explica o professor.

No Espírito Santo, ele afirma que os depósitos de terras raras se concentram principalmente no litoral, nas praias que têm areias pretas, como Guarapari e Anchieta, entre outras do Sul do Espírito Santo, que são ricas em monazita.

Zagôto explica que a monazita, encontrada nas praias com areia preta, é formada por elementos como o cério e lantânio e outros radioativos, como urânio e tório. 

Já o professor Marcos Tadeu explica que, além do litoral Sul do Estado, em regiões de planície, minerais de terras raras também podem ser encontrados em grandes reservas na Região Serrana do Espírito Santo.

Aspecto metálico dos elementos de terras raras beneficiados
Aspecto metálico dos elementos de terras raras beneficiados Crédito: Picasa/SGB Educa

Usos em projetos

O Espírito Santo também está no cenário de desenvolvimento de projetos práticos e aplicáveis com uso de elementos de terras raras, que têm impacto na saúde, tecnologia e sustentabilidade.

Segundo o professor Marcos Tadeu, a Ufes participa de um projeto de R$ 10 milhões do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia que envolve várias universidades visando, ao longo de cinco anos, impulsionar o desenvolvimento de materiais inovadores à base de terras raras.

A iniciativa fortalecerá a soberania tecnológica do Brasil, com impactos diretos em energia renovável, armazenamento de energia e produção de materiais avançados, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil.

Alguns dos minerais encontrados no Estado têm sido usados em vários projetos.

  • Cério é fundamental na parte óptica. Possui uma reação muito forte com a luz, sendo utilizado na fabricação de células fotovoltaicas. Além disso, é amplamente empregado em sistemas catalíticos para reduzir o CO2, alinhando-se às atuais buscas por sustentabilidade.
  • Samário também é usado na parte óptica.

A pesquisa no Estado está fortemente vinculada a interesses práticos e aplicabilidade. Projetos já bem desenvolvidos e com potencial de curto prazo de aplicação incluem:

  • Suportes (scaffolds) para crescimento ósseo: Trata-se de um material que lembra um coral, poroso, que é colocado em áreas onde o osso precisa regenerar (por exemplo, na arcada dentária). Ele serve de estrutura para o osso crescer e é absorvido e eliminado pelo corpo posteriormente. Esse projeto, financiado pelo governo do Estado e já aplicável, está quase em fase comercial e tem utilidade para a população, inclusive para implantes dentários onde não há massa óssea suficiente.
  • Portas lógicas para computadores quânticos: Pesquisadores do Espírito Santo estão trabalhando no desenvolvimento desses componentes essenciais para a computação quântica, utilizando terras raras locais.
  • Recuperação de materiais estratégicos de rejeito: Foca na reciclagem de elementos de terras raras presentes em baterias de lítio, o que é crucial para uma indústria de reciclagem que gera muito emprego e aplicabilidade.
  • Catalisadores para redução de CO2: Combinados com metais abundantes como ferro e titânio, esses catalisadores estão bem adiantados e há empresas interessadas em seu desenvolvimento e comercialização.
  • Ímãs de alta magnetização: Embora o Estado tenha menos Praseodímio (Pr) – um elemento usado por outros grupos de pesquisa, como a USP –, há estudos para o desenvolvimento desses ímãs, que aumentam a eficiência de motores elétricos (usados em bicicletas e motos elétricas).

Potencial do lítio

Além das terras raras, o Espírito Santo possui potencial para o lítio, que deve ser explorado, na avaliação do professor Juliano Zagôto. O elemento é muito utilizado na confecção de baterias, principalmente para veículos elétricos.

Ele explica que o lítio no Estado está associado a pegmatitos, que são um tipo de rocha. Existe uma continuidade geológica dessa formação, vinda de Minas Gerais, para a porção Norte e Noroeste do Espírito Santo.

Para ele, o potencial do lítio no Espírito Santo ainda precisa ser bastante estudado e avaliado para verificar sua real viabilidade. Juliano enfatiza que é fundamental determinar se a concentração do mineral torna a extração economicamente viável, pois operações caras, com baixa concentração, podem não compensar financeiramente.

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