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Café, pimenta e rochas: ES tem R$ 390 milhões em cargas aos EUA paradas

Café, pimenta e rochas: ES tem R$ 390 milhões em cargas aos EUA paradas

Desde que taxação de 50% sobre produtos brasileiros foi anunciada, ocorreu a suspensão do envio de ao menos 1.500 contêineres do Espírito Santo para os EUA

Publicado em 23 de julho de 2025 às 19:18

Navio carregado de conteiners atracado no Porto de Vitória
Mensalmente, são destinados 4 mil contêineres de exportação pelo Estado Crédito: Vitor Jubini

Desde o anúncio feito pelo presidente dos Estados UnidosDonald Trump, sobre a taxação em 50% aos produtos brasileiros, no último dia 9 de julho, mais de 1.500 contêineres deixaram de ser embarcados do Espírito Santo rumo ao país norte-americano.

Só do setor de rochas ornamentais, são 1.200. O restante envolve cargas como café, pimenta-do-reino, gengibre, instrumentos musicais, cosméticos e carne bovina. Toda essa carga parada devido à elevação das tarifas, que começam oficialmente a valer no dia 1º de agosto, é estimada em US$ 70 milhões, cerca de R$ 390 milhões.

Esse montante refere-se apenas ao impacto que tem sido contabilizado pelo setor aduaneiro no Login-In/TVV. Segundo o despachante aduaneiro e diretor comercial da Speed Soluções em Comex, Bruno Marques, outros impactos que tem visto no setor são a previsão de férias coletivas de empresas exportadoras e até o encerramento de setor comercial de empresas que cuidavam do mercado externo, principalmente os Estados Unidos. 

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Café, pimenta e rochas: ES tem R$ 390 milhões em cargas aos EUA paradas

Segundo a Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas), no primeiro semestre de 2025, foram exportados US$ 426 milhões em rochas ornamentais para os Estados Unidos, valor considerado pela entidade o maior de todos os tempos. Isso representa um crescimento de 24,6% comparado com o mesmo período de 2024.

Segundo Marques, mensalmente, são destinados 4 mil contêineres de exportação, número que pode ser elevado com o aumento do volume de café enviado ao exterior. Só neste ano, os EUA foram destino de 33,9% do que foi exportado pelo Espírito Santo, como aço, rochas ornamentais, celulose, minério e café.

Há impacto também aguardado em empresas de outros setores, como aço e celulose, que estão entre os produtos mais exportados no Estado. Mas nem as empresas nem as entidades que representam os setores têm se posicionado sobre o assunto. 

O impacto no agronegócio

Os efeitos do tarifaço são sentidos também por setores do agronegócio, que possui forte dependência do mercado norte-americano, principalmente de produtos como gengibre, celulose, café, ovos, pescado e pimenta-do-reino.

Segundo o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli, 51% das exportações capixabas de celulose no primeiro semestre deste ano (de janeiro a junho) foram destinadas aos EUA, assim como 98% dos ovos e 58% do valor exportado de gengibre.

“O gengibre já tem contratos sendo suspensos e exportadores deixando de honrar compromissos. Como 99% da produção é da agricultura familiar, o prejuízo atinge diretamente pequenos produtores”, afirma Enio.

O setor de pescado também enfrenta sérias dificuldades. Segundo o secretário, com o aumento do risco comercial, muitos pescadores estão evitando ir ao mar, temendo que o alto custo das operações não se reverta em retorno garantido com a venda para os EUA.

A pimenta-do-reino, embora tenha apenas 1% da exportação direta para os EUA, também sofre impacto. Isso porque cerca de 33% do produto exportado pelo Espírito Santo passa pelo Vietnã antes de chegar ao mercado norte-americano. Estratégia que também está sendo monitorada e tributada pela cúpula estadunidense.

Já o café, uma das principais commodities capixabas, também foi muito afetado. Um levantamento do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV) noticiou, no último dia 19, que o Estado havia deixado de embarcar cerca de 210 mil sacas para os Estados Unidos. Segundo o secretário, este valor seguramente dobrou desde a data. Uma perda sentida, segundo Bergoli, pelos dois países, pois 41% do café solúvel produzido no Estado é exportado para o país norte-americano.

O secretário ressaltou ainda que o comitê de crise, coordenado pelo vice-governador Ricardo Ferraço, vai se reunir com exportadores na próxima segunda-feira (28) para traçar estratégias. “Estamos discutindo alternativas com o setor privado, apoiando a busca por novos mercados e oferecendo linhas de crédito. Mas é um processo demorado, que não se resolve da noite para o dia”, destaca Bergoli.

Um estudo feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que a retração na economia capixaba estimada é de 0,25%, o que equivale a R$ 605 milhões no período – valor que está entre os mais elevados do país. Considerando o percentual do PIB, o Estado é o sétimo mais impactado e, em número absoluto, o 11°.

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