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Samuel Pessôa: 'Economia vai cair mais após contágio do coronavírus começar'

Samuel Pessôa: "Economia vai cair mais após contágio do coronavírus começar"

Para economista, empresas correm risco de não conseguirem arcar com despesas se cenário de isolamento de pessoas chegar ao Brasil. Clima de incerteza no campo político tem ajudado a agravar a situação

Publicado em 12 de março de 2020 às 19:02

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Samuel Pessôa é economista e pesquisador associado do FGV/Ibre. (Divulgação | FGV/Ibre)

O novo dia de caos nos mercados internacionais diante do avanço do novo coronavírus (Covid-19) tem sua razão de ser. Na avaliação do economista Samuel Pessôa, sócio da consultoria Reliance e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), trata-se de um choque externo que deve provocar perdas ainda maiores na nossa economia.

Nesta quinta-feira (12), em meio ao aumento de casos do Brasil e as medidas globais na tentativa de controlar a doença, bolsas de todo mundo, inclusive a de São Paulo, operaram em forte queda. Para Pessôa, há dois problemas graves afetando a economia brasileira  que certamente vão impactar o crescimento da atividade econômica neste ano, sendo o coronavírus o principal deles.

"O coronavírus é algo externo, um choque de fora da economia que vai gerar perda da atividade econômica em vários países do mundo. Em todos lugares quando o vírus chega, a economia para porque as pessoas ficam em casa, deixando de trabalhar, de consumir e evitando aglomerações. Então a atividade econômica do Brasil vai cair mais quando essa fase de contágio começar aqui e crescer menos do que se esperava", disse em entrevista para A Gazeta.

O economista explicou que o temor nos mercados por causa do vírus não se deve apenas pelo medo da doença, e sim dos impactos que seu avanço pode ter para empresas.

Em um cenário de contágio e da população em isolamento, como acontece na China e na Itália, por exemplo, companhias acabam tendo que fechar as portas. Sem operar, elas podem ficar sem liquidez para honrar seus compromissos e acabarem quebrando.

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O risco que há é se os mercados financeiros e bancos centrais vão conseguir prover liquidez e crédito para aquelas atividades econômicas que vão ser perturbadas por essa crise. Uma empresa que precisa pagar uma dívida e não tem receita porque ficou com a atividade parada vai precisar disso. Então o temor global é de que essa crise gere uma falta de liquidez, provocando uma ruptura na economia em função de contratos não serem cumpridos

Samuel Pessôa
Economista e pesquisador associado do FGV/Ibre
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A outra incerteza, segundo o especialista, é institucional, com a crise política aguda que o país tem vivido com os embates entre governo federal, Congresso e Judiciário. 

"É uma crise política que o Brasil passa desde a manifestação do general [Augusto] Heleno veio a público, uma fala que detonou um conflito aguda entre Legislativo, Executivo e Judiciário. Depois teve o convite do presidente [Jair Bolsonaro] para os atos deste domingo através de um vídeo. E ontem (quarta) teve a aprovação de uma pauta-bomba no Congresso lembrando aquelas do governo Dilma [Roussef] em 2015", comentou.

A pauta-bomba a qual o economista se referiu foi a derrubada do veto presidencial sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC) pelo Congresso, aumento a lista de quem tem direito ao pagamento e criando um impacto fiscal de R$ 20 bilhões ao ano segundo o governo.

De acordo com Samuel Pessôa, o episódio reforçou que a "crise entre Poderes tem aumentado, gerando uma paralisia no governo" justamente em um momento que as instituições precisam dar uma resposta firme e efetiva para o controle do coronavírus no país.

"O governo tem que agir rápido com relação ao coronavírus e o Congresso tem que votar uma dotação especial de recursos extra-teto, o que é possível e está dentro da responsabilidade fiscal, e abrir um crédito suplementar para combater esse problema de saúde pública grave e organizar um esforço coletiva de enfrentamento dessa crise".

O pesquisador ainda afirmou que a emenda constitucional que estabeleceu o teto dos gastos públicos "não introduz nenhum constrangimento financeiro para o país poder enfrentar a doença", com isso, não é preciso alterá-lo.

Na agenda doméstica, ele ainda pontuou outra necessidade: "É preciso que os Três Poderes sentem e passem a atuar de forma harmônica, pois se continuarmos com um clima de enfrentamento o país vai entrar numa recessão sem fim".

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