
A rede Dadalto, referência do varejo que atua no Espírito Santo há 82 anos, teve a falência decretada pela Justiça. A empresa, que já chegou a ter mais de 60 lojas, pediu recuperação judicial em 2015 já com dívidas que ultrapassavam os R$ 123 milhões. Porém, fontes do mercado apontam que a mudança nos rumos do grupo começou bem antes, após a crise de 2008, e misturou erros de estratégia, operações de crédito arriscadas e uma conjuntura econômica desfavorável.
A colunista de Economia de A Gazeta, Beatriz Seixas, publicou com exclusividade na noite da última quinta-feira (6) que a falência da companhia, decretada em decisão do juiz Leonardo Mannarino Teixeira Lopes, da Vara de Recuperação Judicial e Falência de Vitória, em fevereiro, tornou-se irrecorrível em julho deste ano.
Impactada pela queda de consumo e passando por dificuldades, a empresa decidiu há oito anos fazer uma operação de crédito de risco para se capitalizar e voltar a investir. A estratégia escolhida foi ampliar a oferta de lojas físicas, abrindo filiais em bairros mais afastados, cidades do interior e aumentando a presença em outros Estados, como Minas Gerais e Bahia.
Contudo, pouco tempo depois da expansão, uma nova recessão fez despencar ainda mais as vendas, impedindo que a empresa arcasse com seus compromissos financeiros. Hoje, a Dadalto tem dívidas com mais de 500 ex-funcionários, centenas de fornecedores, bancos e o Fisco.
Nos bastidores, o sentimento é de consternação pelos rumos que a empresa tomou. “O mercado todo está triste. Não acho que tenha ninguém feliz com a falência de uma empresa com a relevância, solidez e representatividade que a Dadalto tinha no Estado”, afirma George Bonfim, ex-diretor de marketing da empresa.
“É uma das histórias mais bonitas em temos empresariais que já presenciei. Tem muita família capixaba que viveu e construiu patrimônio em função da empregabilidade da empresa”, disse outra fonte próxima à Dadalto que não quis se identificar.
CRISE E QUEDA NO CONSUMO
De acordo com fontes do mercado, durante quase 60 anos, a Dadalto cresceu de forma sustentada. Mesmo sendo uma empresa familiar, foi capaz de formar uma diretoria com grande capacidade técnica e que agia de forma harmoniosa.
Contudo, a queda no consumo provocada pela crise de 2008 acendeu um sinal de alerta e iniciou um período de dificuldades para a companhia.
Já endividada, a empresa decidiu em 2012 fazer um Certificado de Recebidos Imobiliários (CRI). As cotas foram vendidas para grandes empresas, o que rendeu à Dadalto R$ 60 milhões. (veja box no final da matéria)
NOVO DIRETOR E PLANO DE EXPANSÃO
No ano seguinte, a empresa contratou, por meio de uma firma de consultoria, um executivo que não pertencia à família Dadalto. Ele teria a função de implementar um plano de investimentos para que a empresa voltasse a crescer.
Porém, diferentemente das demais redes varejistas, que apostavam cada vez mais nas plataformas de e-commerce, a estratégia da Dadalto foi em sentido contrário.
“Enquanto o mercado todo estava na onda do comércio virtual, vendas pela internet, ele começou a querer expandir, abrindo mais pontos de venda. Eles colocaram um executivo que, em vez de ir para o comércio eletrônico, foi para as vendas presenciais, lojas físicas”, disse uma fonte à reportagem.
Ainda de acordo com pessoas próximas à empresa, a ideia, inicialmente, não agradou muito a “velha guarda” da família, mas eles acabaram convencidos pelos membros mais jovens.
O ex-diretor de marketing também acredita que a expansão liderada por um executivo externo não foi uma decisão acertada. Ele aponta que a própria imagem da empresa sofreu.
“Penso que eles pecaram muito em não pensar na sucessão. Diante de não ter essa formação, tiveram que buscar outras alternativas para a empresa crescer. Não se admite, na minha percepção, uma loja do tamanho da Dadalto com filial em Jacaraípe, interior da Bahia, em locais que não têm venda. A partir do momento que começou a abrir pontos e subpontos, começou a perder a importância”, reflete.
MAIS UMA CRISE
O plano de expansão fez com que a Dadalto chegasse a ter mais de 60 lojas em quatro Estados. Contudo, o mercado, que já não estava aquecido há anos, despencou ainda mais com a crise política e econômica que começou no Brasil, em meados de 2014, e que provocou uma recessão no país por dois anos seguidos.
A disparada do desemprego reduziu as vendas do varejo e a Dadalto se viu cheia de lojas físicas, mas sem clientes.
Sem ter mais como honrar com os compromissos financeiros e pressionada pela alta de juros da época, a empresa pediu recuperação judicial no fim de 2015. O CRI, que deveria financiar o crescimento do grupo, transformou-se em uma grande dívida.
Ainda assim, em 2017, a empresa chegou a ensaiar uma retomada apostando no mercado de franquias, com lojas menores de até 400m².
A tentativa, contudo, não foi suficiente para impedir que a companhia tivesse a falência decretada no início deste ano.
“Eles passam por um período de recuperação judicial e não houve recuperação.T eve uma oferta de compra que eles decidiram não aceitar. Antes salvassem alguns anéis, em vez de perder todos os dedos. Agora, é vender para pagar a quem eles estão devendo”, avalia uma fonte do setor.
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