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Crescimento do PIB está ancorado na injeção de recursos públicos

Crescimento do PIB está ancorado na injeção de recursos públicos

Soma das riquezas do país avançou 7,7% no terceiro trimestre. Crescimento, porém, ainda não foi suficiente para recuperar as perdas. Veja o que dizem economistas

Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 16:43

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Supermercado Hortifruti
Supermercados e materiais de construção tiveram os melhores números durante a pandemia, impulsionados pelo auxílio emergencial. (Delizete Debona)

A recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) nacional do terceiro trimestre deste ano, é sem sobra de dúvidas um alívio diante das gigantescas perdas econômicas causadas pela pandemia do coronavírus, mas também traz preocupações. Se de um lado a soma das riquezas do país avançou 7,7% no terceiro trimestre, ante ao trimestre anterior, por outro esse crescimento ainda não foi suficiente para recuperar as perdas e tem sido ancorado, principalmente, pela injeção de recursos públicos.

Segundo economistas ouvidos por A Gazeta, o pacote bilionário de transferências de recursos do governo federal para famílias e entes subnacionais contribuiu para ampliar as vendas do setor de bens de varejo, como supermercados e materiais de construção, o que também estimulou a indústria nacional. Porém, essas ajudas estão prestes a acabar.

O economista Eduardo Araújo destaca que o processo de retomada foi desigual e cita, por exemplo, o setor de serviços, que ainda acumula perdas de faturamento de 30% em comparação a 2019. Outra preocupação é também com uma solução definitiva para a saída da pandemia: a vacina. 

"A continuidade do crescimento econômico em 2021 vai depender muito do sucesso da política de imunização da população. O Brasil possui um potencial de riquezas naturais, recursos humanos e um literal extenso que pode ser aproveitado para gerar prosperidade. É preciso avançar nas pautas do Congresso que favorecem a melhoria do ambiente de negócios e produtividade (como reforma tributária, administrativa e a PEC do Pacto Federativo)", expõe.

Já para o economista e coordenador geral da Faculdade Pio XII, Marcelo Loyola, o crescimento do PIB em 7,7% está nos patamares de crescimento da China, por exemplo. "Esse número é sempre uma ótima notícia, porém, ainda estamos abaixo do período pré-crise, pois comparando com o mesmo período do ano passado, ainda há uma queda acentuada de 3,9%", comenta. 

O conselheiro do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES) Vaner Corrêa, lembra que os números do PIB do terceiro trimestre deste ano indicam que a mola da economia foi descomprimida. Segundo ele, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou, em fevereiro, a existência de um processo pandêmico e os países começaram a tomar as providências, no sentido do "lockdown", a economia mundial foi comprimida como uma mola, perdendo toda a sua energia.

"No Brasil, não foi diferente. Os números do PIB indicam a compressão dessa mola. Na comparação entre o quarto trimestre de 2019 com o terceiro trimestre de 2019 cresceu apenas 0,2%; já se comparado o primeiro trimestre de 2020 com o quarto trimestre de 2019 ocorreu uma retração de 1,5%; e na comparação do segundo trimestre de 2020 com 0 primeiro trimestre de 2020 nova queda, agora de 9,6%", aponta.

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Injeção de dinheiro público é a âncora

O resultado do PIB veio um pouco abaixo das expectativas de mercado. Observou-se um recuo de 5% no acumulado até setembro, mas a atividade econômica deve fechar o ano com queda um pouco menor (de 4,5% em comparação ao ano anterior). É um desempenho ruim e que se traduz em empobrecimento coletivo. Mas, ainda assim, o número ainda é satisfatório se comparado às projeções mais catastróficas que foram feitas na fase mais aguda da pandemia. 

O que preocupa é que essa recuperação tem sido ancorada principalmente na injeção de recursos públicos, sendo que se reduziu o espaço fiscal para continuidade de medidas emergenciais. 

O pacote bilionário de transferências de recursos do governo federal para famílias e entes subnacionais contribuiu para ampliar as vendas do setor de bens de varejo (como supermercados, material de construção). Mas esse processo de retomada foi desigual com o setor de serviços ainda acumulando perdas de faturamento de 30% em comparação a 2019. 

A continuidade do crescimento econômico em 2021 vai depender muito do sucesso da política de imunização da população. O Brasil possui um potencial de riquezas naturais, recursos humanos e um literal extenso que pode ser aproveitado para gerar prosperidade. É preciso avançar nas pautas do Congresso que favorecem a melhoria do ambiente de negócios e produtividade (como reforma tributária, administrativa e a PEC do Pacto Federativo).

Foto de Eduardo Araújo*

Eduardo Araújo*

* Eduardo Araújo é economista e consultor do Tesouro Estadual

Crescimento chinês, mas abaixo do nível pré-crise

Um crescimento do PIB de 7,7% no terceiro trimestre pode ser comparado aos patamares chineses, ou seja, elevado. Isso é sempre uma ótima notícia, porém, ainda estamos abaixo do período pré-crise, pois comparando com o mesmo período do ano passado, ainda há uma queda acentuada de 3,9%. De todo modo, é um número que precisa ser comemorado, pois, é o maior da série histórica do IBGE, que se iniciou em 1996. 

Apesar de vários economistas alertarem que o cenário para o ano que vem é nebuloso, não penso da mesma forma. Claro que fazer previsões em economia não é tarefa das mais fáceis, porém, fatores importantes como taxa de juros e inflação ainda baixa, demonstram que a economia brasileira tem tudo para atingir patamares elevados de crescimento, pois ainda há muito a recuperar. Principalmente, no setor de serviços que foi o mais atingido pela pandemia, pois exige muito mais interação entre as pessoas. 

Este setor está com níveis de 2017, entretanto com fortes expectativas da vacina para o início do ano que vem, estimo que o setor de serviços vai viver a sua melhor fase dos últimos anos, uma vez que as pessoas querem voltar a viver normalmente e ainda “recuperar o tempo perdido”. 

Por isso, o setor de serviços não só recuperará o que perdeu, mas avançará, em minha análise, em termos reais. Além dos serviços, ainda não se recuperou as obras de infraestrutura e, neste caso, devem ser puxadas pelo governo. 

Talvez isso ainda não tenha começado, pois, houve gasto público acentuado para evitar o pior. Mas é possível a equipe econômica buscar alternativas para tirar projetos do papel, situação que já deveria estar acontecendo, especialmente com financiamento de organismos internacionais.

Foto de Marcelo Loyola*

Marcelo Loyola*

* Marcelo Loyola é economista e coordenador geral da Faculdade Pio XII

Mola da economia foi descomprimida

Os números do PIB do terceiro trimestre de 2020 indicam que a mola da economia foi descomprimida. Quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou, em fevereiro deste ano, a existência de um processo pandêmico e os países começaram a tomar as providências, no sentido do lockdown, a economia mundial foi comprimida como uma mola, perdendo toda a sua energia. 

No Brasil, não foi diferente. Os números do PIB indicam a compressão da mola, a saber: na comparação entre o quarto trimestre de 2019 com o terceiro trimestre de 2019 cresceu apenas 0,2%;  já se comparado o primeiro trimestre de 2020 com o quarto trimestre de 2019 ocorreu uma retração de 1,5%; e na comparação do segundo trimestre de 2020 com o primeiro trimestre de 2020 tivemos uma nova queda, agora em 9,6%. 

Já no terceiro deste ano, comparado com o segundo trimestre de 2020 houve uma elevação de 7,7%, portanto, é óbvio que a mola já começou a ser descomprimida. Em termos absolutos isto significa a expressão de R$ 1,9 trilhão. 

Quando os números são comparados por setor, em relação ao segundo trimestre de 2020, a Agropecuária amargou um decréscimo de 0,5%, já a indústria mostrou vitalidade, pois subiu 14,8%. Os serviços, apesar de terem resultado positivo, cresceram menos do que o esperado para o setor. Com certeza a economia já começa a ter tração, a mola se descomprimiu de vez. 

Foto de Vaner Corrêa

Vaner Corrêa

* Vaner Corrêa é conselheiro do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES)

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