Publicado em 17 de agosto de 2020 às 05:00
O auxílio emergencial foi pago aos sócios de 144 empresas milionárias do Espírito Santo. Ao todo são 170 pessoas que fazem parte do quadro societário de companhias que têm mais de R$ 1 milhão em capital social. >
O benefício foi criado em março para ajudar financeiramente trabalhadores autônomos, microempreendedores individuais e desempregados que ficaram sem renda por conta da crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus. >
O levantamento foi feito por A Gazeta com base em cruzamento de dados de sócios de empresas da Receita Federal e da Dataprev. Foram comparados os nomes e CPF das pessoas que obtiveram o benefício.>
Os nomes não foram revelados porque não é possível saber se essas pessoas pediram o auxílio por vontade própria ou se elas foram vítimas de fraudes.>
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Entre as 144 empresas, foram identificados 170 sócios, isso porque uma empresa pode ter mais de um sócio que solicitou o auxílio. >
Segundo registro na Receita Federal, essas empresas têm capital social de mais de R$ 1 milhão. Contudo, em uma delas, esse valor ultrapassa os R$ 20 milhões. >
Pelas regras do programa não há impedimento formal para que empresários requisitem a ajuda financeira mensal de R$ 600. Contudo, eles têm que cumprir os demais requisitos que incluem ter renda familiar de até R$ 500 por pessoa ou rendimentos tributáveis de até R$ 28 mil em 2018. >
Essa "brecha" fez com que mais de 18 mil sócios de empresas capixabas de todos os portes obtivessem o auxílio. O pagamento das cinco parcelas do auxílio emergencial só para eles pode custar R$ 71,5 milhões aos cofres públicos. >
Entre as empresas milionárias, a maior delas tem sede em Domingos Martins e atua na compra e venda de imóveis. O capital social da empresa é de R$ 21,3 milhões. Dos oito sócios cadastrados na Receita Federal, apenas um aparece na lista de beneficiários do auxílio emergencial. >
Segundo o portal da transparência do governo federal, a pessoa em questão já recebeu três parcelas de R$ 1.200, destinadas às mães chefes de família. >
Em seguida está o sócio de uma empresa que fabrica estruturas metálicas destinadas à indústria do petróleo e tem sede na Serra. A empresa, que ainda está em atuação, tem capital social de cerca de R$ 19 milhões. >
Também estão na lista três sócios de uma boate na Praia do Canto em Vitória. Há ainda donos de empresas de transporte, engenharia, construtoras e três clínicas médicas.>
Um dono de uma startup de finanças também apareceu entre os contemplados com três parcelas do auxílio, mas ele devolveu o dinheiro, segundo o Portal da Transparência.>
O ministro Bruno Dantas, relator do processo no Tribunal de Contas da União (TCU) que apura irregularidades no auxílio, também encontrou indícios de fraude entre empresários ao analisar dados nacionais. >
"O público identificado nesse cruzamento (de empresários que receberam auxílio) é bastante heterogêneo, podendo conter desde o pequeno empresário que está com seu comércio fechado sem a renda necessária para alimentar sua família até o grande empresário que possui as condições de se sustentar em casa durante a quarentena", escreveu em relatório à corte de contas. >
Ele afirma que os dois casos citados deveriam ter sido separados através do critério de renda tributável declarada. Contudo, demonstra o ministro, os lucros das empresas (além de outras aplicações) são isentas de tributação e, portanto, não contariam para o limite determinado pelo programa.>
Ou seja, se um empresário declarou como pro-bono (um tipo de salário que paga a si mesmo) menos de R$ 28 mil em 2018, ele teria, tecnicamente, direito ao auxílio, mesmo que tenha recebido milhões em lucro na empresa da qual é sócio.>
Pelo menos 50 dos 170 pedidos de auxílio foram retidos para avaliação de divergências cadastrais mesmo após a pessoa ter tido o valor aprovado pelo sistema do governo.>
Em julho, o ministério da Cidadania enviou à Caixa 1,3 milhão de CPFs em que havia suspeita de fraude ou inconsistência no cadastro. Essas contas foram bloqueadas. >
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de maio apontam que 39% dos beneficiados pelo auxílio emergencial no Estado viviam em domicílios cuja renda per capita ultrapassava o limite máximo estipulado pelo programa (R$ 522). Em 11% deles, essa renda era superior a R$ 1 mil por pessoa, ou seja, o dobro do limite exigido.>
O TCU também já indicou que milhões de pessoas da classe média alta no país conseguiram o auxílio porque houve uma falha no cruzamento dos dados. >
No momento de fazer a verificação dos pedidos o governo não levou em conta os dependentes das pessoas que declaram o Imposto de Renda de Pessoa Física.>
Com isso, jovens de classe média alta conseguiram receber o benefício mesmo ainda vivendo com o dinheiro da família. >
A reportagem de A Gazeta também já demonstrou que o benefício foi pago a uma delegada aposentada que recebe R$ 20 mil por mês. Também usufruiu do auxílio emergencial a esposa do prefeito de São Domingos do Norte. Ela mora com o marido, que recebe quase R$ 13 mil por mês.>
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