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Pandemia reduz pela metade diagnósticos e tratamentos de câncer

Pandemia reduz pela metade diagnósticos e tratamentos de câncer

Problema atinge setor público e privado e decorre do medo dos pacientes de serem contaminados pelo novo coronavírus. Situação preocupa médicos que alertam para complicações das doenças, que podem matar

Publicado em 17 de junho de 2020 às 20:26

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 Anne Karina Kiister Leon, radio-oncologista do Instituto de Radioterapia Vitória (IRV)
Anne Karina Kiister Leon, radio-oncologista do Instituto de Radioterapia Vitória (IRV). (Julia Terayama/IRV)

O medo de serem contaminados pelo novo coronavírus tem afastado os pacientes dos consultórios médicos, o que acabou reduzindo a procura por exames de diagnóstico e tratamentos de câncer. Um centro especializado de tratamento da doença em Vitória registrou queda de quase 50% no volume de atendimentos de novos pacientes desde o início da quarentena.

Uma situação diversa do setor público, onde pacientes relatam que estão ficando sem assistência em decorrência da suspensão dos serviços em ambulatórios e unidades de saúde.

Segundo Anne Karina Kiister Leon, radio-oncologista do Instituto de Radioterapia Vitória (IRV), a procura por exames de diagnóstico e tratamentos de câncer teve uma redução de mais de 45% no número de pacientes em início de tratamento durante a pandemia. A médica observa que o diagnóstico não precoce limita as chances de tratamento curativo ou outras intervenções. Ela destaca que os cuidados oncológicos não podem parar ou serem postergados, uma vez que a doença é crônica e pode até matar.

“O risco de adiar o início do tratamento é ele se tornar mais difícil para a pessoa, pois o tumor pode ficar maior. A orientação é o paciente receber todos os cuidados oncológicos e continuar sua investigação, seus exames de seguimento, sem se esquecer da prevenção à Covid-19”, orienta.

Ela relata que no início da pandemia a orientação era para que estes pacientes, que são de grupos de risco, deveriam buscar atendimento em casos extremos. Com isto, muitos foram deixando de fazer exames de rotina e até para sintomas menos agressivos, o que tem feito com que caia o número de diagnósticos precoces de câncer.

O perigo nestes casos, observa a médica, é o avanço e a gravidade dos tumores. “Ao não procurar o médico, a doença vai crescendo e quando vai em busca de atendimento, vai depender de cirurgias de urgência ou porque teve um sangramento”, explica ao citar como exemplo o melanoma, que é muito agressivo. “Ele, a princípio, não dói, mas se não vai no dermatologista fazer a biópsia e não sabe o que é, corre sérios riscos. É um câncer extremamente agressivo e mata muito rápido”, alerta Anne.

DADOS DO BRASIL

Levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), junto a serviços especializados em todo o país, projeta que cerca de 70% das cirurgias no Sistema Único de Saúde (SUS) e na Saúde Suplementar (planos de saúde) não foram realizadas neste período de pandemia.

Já a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) aponta que na maioria dos serviços de referência houve um aumento de 10% a 20% das biópsias realizadas no último mês. Por sua vez, alguns locais chegam a ter ainda 80% de redução em relação ao mesmo período do ano passado.

Desde o começo da pandemia, a redução média no país é de 50%. Baseando-se nessas informações, a projeção da SBP é de que ao menos 70 mil pessoas não terão sido diagnosticadas com câncer nos três primeiros meses de pandemia no Brasil.

É citado como exemplo um centro de referência em São Paulo, onde o número de análises em abril caiu de 6.977 em 2019 para 1.754 em 2020. Em Caxias do Sul, um serviço estratificou os dados por tipos de câncer e a redução em abril de um ano para o outro foi de: colo do útero (58,3%), mama (51,4%), próstata (68,4%) e tumores gastrointestinais (40%).

Segundo o presidente da SBPC, Alexandre Ferreira Oliveira, há casos de pacientes já com diagnósticos de presunção, mas que precisam da constatação por intermédio de exames, como biópsias, mamografia, colonoscopia, exames de imagem. E há ainda as situações em que os pacientes já contam com o diagnóstico definitivo.

Nos dois casos, as pessoas estão deixando de buscar o tratamento, até mesmo quando já há constatação da doença. “Estão com medo de tratar e não procuram o médico. Têm mais medo da Covid-19 do que do câncer”, pondera Oliveira.

Uma realidade, acrescenta, presente em todos os setores, público e privado. “No caso do SUS já havia uma demanda reprimida pelos exames de diagnósticos e tratamento, e que tende a piorar com esta situação. O SUS esta estrangulado com Covid-19 e a regulação para pacientes com câncer se perdeu. Esta na hora do governo retomar tomar as rédeas”, destaca.

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Oliveira lembra que os cânceres e as doenças cardiológicas são as que mais matam no país. E faz um alerta: “Tendo suspeita de câncer ou a doença, tem que buscar o atendimento médico. Não pode ficar esperando a pandemia acabar, porque o câncer continua avançando, ele não espera”, assinala.

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