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Os cenários do que pode acontecer após o adiamento do Enem 2020

Os cenários do que pode acontecer após o adiamento do Enem 2020

Confira como a mudança na data do exame nacional vai impactar os alunos de escolas públicas e privadas, além dos vestibulares que usam a nota da prova para selecionar os candidatos.

Publicado em 21 de maio de 2020 às 06:01

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Enem 2020 adiado. (Piterest)

O que aguarda os estudantes após o adiamento das provas do Enem 2020? Os cenários são diferentes para escolas públicas e privadas. Enquanto os primeiros esperam que a realização das provas ocorra só quando as aulas presenciais forem retomadas, dentro de uma certa normalidade, após a pandemia do coronavírus, as particulares apostam que o exame ocorra no máximo até dezembro.

A realização ou não do Enem impacta ainda outros programas. Além de funcionar como vestibular para várias faculdades, universidades e institutos federais, as notas obtidas no exame podem ser usadas para conseguir uma vaga gratuita pelo Sisu, uma bolsa de estudo pelo ProUni ou financiamento pelo FIES.

Afeta ainda o Nossa Bolsa, programa do governo estadual que utiliza as notas no exame nacional para oferecer bolsas em instituições particulares de ensino superior presentes no território capixaba.  Os três programas no Ministério da Educação (MEC) para ingresso no ensino superior tiveram suas datas divulgadas na tarde de quarta-feira (20), poucos minutos após o adiamento do Enem. Mas o MEC não confirmou se elas sofrerão novas alterações. 

CENÁRIO PRIVADO

Para as escolas privadas, o cenário ideal é o de que as provas do Enem 2020 ocorram, no máximo, até o mês de dezembro. De acordo com o superintendente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES), Geraldo Diório, as unidades estão trabalhando duramente para a conclusão do ano letivo dentro deste ano.

A rede particular, relata ele, conseguiu se reinventar em um curto espaço de tempo após o decreto que suspendeu as aulas presenciais, em 13 de março. “Os conteúdos estão sendo ofertados em aulas remotas, com acompanhamento dos professores, dentro da normalidade, e seria prejudicial para alunos e escolas um adiamento por data para além de dezembro", explica.

Acrescenta que uma suspensão por tempo indeterminado ou após a retomada das aulas com o fim da pandemia seria muito prejudicial aos alunos, principalmente os que estão concluindo o terceiro ano do ensino médio. “Eles já estão sendo preparados e vão sofrer com a perda de um ano”, pondera.

Diório avalia que ainda no segundo semestre as aulas presenciais, com um novo protocolo, devem ser retomadas, o que daria aos alunos de escolas públicas tempo para estarem aptos para a prova.

As provas serão aplicados no dia 26 de janeiro e no dia 02 de fevereiro.
Para Sinepe-ES,  exame nacional deve ser aplicado até dezembro. (Freepik)

PREJUÍZO PARA AS PÚBLICAS

Para o professor de História e secretário de relações étnico-raciais do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), Adriano Albertino, a situação é muito diferente nas escolas públicas, onde as desigualdades sociais foram acentuadas pela pandemia.

A atual situação dificulta a realização de provas como a do Enem sem que os alunos estejam devidamente preparados. Albertino  cita como exemplo as aulas à distância. “Na forma como tem sido tentado pela gestão pública, sem acesso às ferramentas necessárias para desenvolver a aprendizagem necessária, não tem dado certo e não recomendamos”.

Adriano destaca que não é por falta de capacidade dos alunos, mas da condição sócio-econômica e financeira que os impede de ter acesso aos instrumentos de aprendizagem e que  faz com que acabem ficando mais dependentes do que é oferecido nas escolas. “É impossível um gestor desconsiderar que os métodos que tentaram até agora não auxiliaram esta parcela da escola pública. Zelamos muitos por estes alunos e queremos que tenham acesso ao ensino superior, porque educação é uma ferramenta de acesso”, destaca.

A situação fica ainda mais complicada relata, para a camada da população que é negra. “É a quem mais tem prejuízo. Basta verificar qual é a cor predominante das famílias com menor renda, que moram nos morros, na periferia, onde o transporte e mais difícil, sem biblioteca pública, sem espaços de lazer, onde só a escola oferece os instrumentos de aprendizagem. Locais onde a desigualdade vai ao detalhe: no acesso a bens de consumo, como computador, internet de boa qualidade, pai e mãe que não têm o hábito de ler porque precisam trabalhar”, pontua.

Andressa Pellanda, coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, destaca que existe uma desigualdade gritante nos diversos acessos a serviços e direitos, e não só por parte dos estudantes, mas até de professores. “E isto sem contar que há famílias que não têm o que comer, passando fome, e recebendo mensagem de que têm que fazer o dever de casa”.

PROVA EM OUTRO ANO

Para a doutora em Educação e Professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cleonara Maria Schwartz, o ano letivo não terá como ser finalizado ainda em 2020 e o calendário escolar vai passar para o próximo ano.

“Em todo o contexto da pandemia, em vários países, as escolas são as últimas a retornarem com as atividades presenciais, é o que esta sendo orientado. Mesmo que isto ocorra em agosto, setembro será praticamente o mês em que as escolas vão precisar para reorganizar as formas de retomada das aulas”, pondera.

Ainda assim, destaca a doutora, será em um contexto de alternância, com alunos presenciais e outros não, com horários escalonados. “Por um bom tempo as escolas vão ter que se planejar, se redimensionar, vão precisar ter um momento intensivo de preparação não só dos alunos, mas dos profissionais para novas formas de convívio social. É um cenário bem concreto para o futuro”, pondera.

Neste cenário, relata, a conclusão do ensino médio só ocorreria em 2021, quando então os estudantes estariam aptos a fazer o Enem. “As famílias precisam entender e conversar com os jovens para não aumentar a angústia e a expectativa”, diz Cleonara.

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Aalunos precisam de mais tempo de preparação para as provas do Enem. (Pinterest)

OUTROS PROBLEMAS

Outro desafio para a realização do Enem 2020, segundo Cleonara, diz respeito aos conhecimentos básicos que serão cobrados no exame. “O que vai ser exigido na prova, o que vai ser considerado conteúdo para avaliar o ensino médio no atual contexto? Isto ainda não foi definido pelo MEC”, relata.

Na avaliação dela, a própria função do exame está na berlinda, uma vez que o Enem não define só a finalização para ensino superior, mas é um processo avaliativo, de acompanhamento do ensino médio. “Estão desconsiderando como uma política de avaliação. É preciso haver um debate com a sociedade e com profissionais de ensino e especialistas em educação sobre quais os conhecimentos essenciais para matriz do Enem, num contexto da pandemia, antes de se definir a data. Levando ainda em conta a diversidade de situações enfrentada no Brasil pelas escolas públicas e privadas”, pondera.

Há ainda, relata, as dificuldades com a acessibilidade, em como a educação está chegando a alunos com deficiências, como surdos, cegos, portadores de baixa mobilidade, dentre outros. “Como este público da educação especial está sendo atendido? Terão condições de fazer a prova?”, questiona Cleonara.

VESTIBULARES

Para as faculdades que vão oferecer vestibulares no meio do ano, o adiamento da prova não terá impacto. É o que acontece com a UVV, como explica o reitor Heráclito Amancio Pereira Júnior.

Ele informa que o vestibular do meio do ano, para a maioria dos cursos, será oferecido com prova on-line. A exceção é para o curso de Medicina, cuja avaliação é feita com a pontuação do Enem. “Neste caso vão ser utilizadas as notas do Enem de 2019 ou 2018 para a seleção, seguindo o edital que já liberamos”, relata.

O planejamento para o final do ano ainda não foi feito. “Estamos avaliando o cenário”, diz o reitor. A UVV, segundo ele, conseguirá terminar os semestres dentro do prazo já que a universidade está conseguindo manter aulas remotas. “Cerca de 95% dos nossos alunos estão on-line. A nossa vantagem é que já tínhamos uma plataforma de ensino à distância consolidada, o que nos permitiu expandi-la para os demais alunos”, explica.

A Faesa, por nota, informou que além de adotar o Enem como forma de ingresso, permitindo que o candidato utilize o resultado de 2010 a 2019, possui vestibular próprio como principal método de seleção. Assinala que vestibular do meio do ano está mantido, com prova on-line.

Já o processo seletivo para 2021 ainda não foi definido. “O Centro Universitário está avaliando a situação para apresentar a solução mais adequada para os candidatos em termos de data e ferramenta”, explica a nota.

A Faculdade Multivix informou que estuda de que forma a recente mudança irá impactar em seus prazos e calendários.

O Unesc informou que, por conta da pandemia, o calendário de vestibulares do segundo semestre ainda não foi definido. Em relação ao adiamento do Enem, a instituição acredita que os impactos serão sentidos no próximo ano. Isso porque, caso seja realizado algum processo seletivo em 2020/2, o aluno poderá ser aprovado com a nota do Enem já realizado.

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As demais faculdades não retornaram as demandas da reportagem.

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