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Publicado em 17 de maio de 2025 às 09:31
- Atualizado há 7 meses
Uma Ação Civil Pública (ACP), com pedido de tutela de urgência, foi protocolada por promotores e defensores públicos estaduais e federais na Justiça Federal na última sexta-feira (16), tendo como alvo supostas práticas abusivas em contratos e danos morais causados às vítimas do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, ocorrido em novembro de 2015. A ruptura levou lama de rejeitos de minério ao Rio Doce, tanto em solo mineiro quanto no Espírito Santo, indo até a foz, no distrito de Regência, em Linhares. Milhares de pessoas que viviam de atividades que envolvem o manancial foram afetadas.>
O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) divulgou que a ação judicial mira os escritórios de advocacia Pogust Goodhead Law LTD, com sede no Reino Unido, que representa parte dos atingidos em processos internacionais, e o Felipe Hotta Sociedade Individual de Advocacia, que seria um "braço" do escritório britânico no Brasil. Assinam o documento o MPES, Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) e as Defensorias Públicas do Espírito Santo, de Minas Gerais e da União.>
O documento argumenta que as cláusulas dos contratos firmados pelos escritórios impõem ônus excessivos aos milhares de clientes, como a proibição de acordos ou rescisão contratual sem penalidades e a cobrança de honorários sobre indenizações obtidas em processos brasileiros, mesmo sem a atuação direta do escritório. Além disso, critica a falta de transparência e a vulnerabilidade dos atingidos, solicitando a aplicação da legislação brasileira e a condenação dos escritórios por danos morais coletivos.>
Na Ação Civil Pública, é afirmado que a Pogust Goodhead Law LTD (PGMBM) é um escritório de advocacia localizado em Londres, na Inglaterra, que propôs ação coletiva contra a empresa estrangeira BHP Billiton, representando mais de 700 mil brasileiros impactados pela tragédia ambiental, e menciona o que chama de "responsabilidade civil da empresa pelo desastre". Conforme o processo, as cláusulas consideradas abusivas nos contratos com os atingidos, gera "incerteza sobre os direitos das vítimas do rompimento da barragem". Entre as cláusulas contratuais supostamente abusivas mencionadas no documento, estão:>
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Um dos signatários da Ação Civil Pública, o MPES informou que a Pogust Goodhead LTD "também impôs cláusula de foro exclusivo na Inglaterra e previsão de arbitragem em Londres, com idioma inglês e aplicação da lei inglesa, cuja prática é considerada abusiva e incompatível com a condição de vulnerabilidade dos contratantes, os quais são atingidos brasileiros em sua maior parte de baixa renda e com pouco acesso à informação jurídica", comunicou.>
Os principais pontos da Ação Civil Pública (ACP) são:>
A peça processual pede que os escritórios alvos da ação, sejam condenados ao pagamento de indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 45.525.200,00>
Na tarde deste sábado (17), o escritório Pogust Goodhead Law LTD informou em nota que ainda não foi notificado oficialmente sobre a ação e conhece apenas as informações veiculadas pela imprensa. Reforçou, ao fim, que não há qualquer mudança material nas condições nem nos percentuais a serem cobrados pela firma e disse que recebe honorários apenas em caso de êxito e, para indígenas e quilombolas, atua pro-bono. Confira a nota completa no fim da reportagem.>
A reportagem de A Gazeta tenta contato com o escritório Felipe Hotta Sociedade Individual de Advocacia para se posicionar sobre a ACP e disponibiliza este espaço para se manifestar.
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Nota na íntegra do Escritório Pogust Goodhead
Em relação à referida Ação Civil Pública com pedido de tutela de urgência, ajuizada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e outras instituições, o escritório internacional Pogust Goodhead esclarece que:
- O Pogust Goodhead não foi notificado oficialmente e conhece apenas as informações veiculadas na imprensa.
- Faltando menos de 10 dias para o fim do prazo de adesão ao PID, o escritório Pogust Goodhead é mais uma vez alvo de uma campanha de lawfare. Tal estratégia, como em episódios anteriores, visa a prejudicar o direito – já reconhecido pela Justiça inglesa – dos atingidos de buscarem uma indenização integral e pressionar os mesmos a aceitarem os termos de um acordo incompatível com os danos sofridos.
- Os contratos do PG são regidos pela lei inglesa e estão em vigor desde 2018, mas somente agora estão sendo questionados. Isso porque foi constatado que o PID não teve a adesão massiva esperada e que centenas de milhares de pessoas decidiram continuar litigando na Inglaterra em busca de reparação integral.
- Em cumprimento com sua função de advogados, o Pogust Goodhead vem ativamente esclarecendo seus clientes sobre as condições e consequências da eventual adesão à repactuação que, de acordo com os termos impostos pelas mineradoras, obriga os aderentes a renunciarem a ações judiciais no Brasil e no exterior caso optem por programas como o PID. Diante disso, o Comitê representativo dos clientes aprovou, em 26 de fevereiro e por unanimidade, uma resolução recomendando aos atingidos a não-adesão aos referidos programas.
- Diversas autoridades públicas brasileiras, incluindo o presidente do STF em ao menos três ocasiões, já admitiram que a existência do processo na Inglaterra exerceu uma pressão decisiva para que o acordo no Brasil fosse concluído, depois de quase uma década de idas e vindas nas negociações.
- No acordo da repactuação, as mineradoras impuseram critérios rígidos de elegibilidade que deixaram de fora mais de 400 mil autores da ação contra a BHP em Londres. Esses atingidos têm o processo inglês como único meio para buscar reparação pelo maior crime ambiental da história do Brasil.
- Em relação à atualização dos contratos com o Pogust Goodhead, não há qualquer mudança material nas condições nem nos percentuais a serem cobrados pela firma, que recebe honorários apenas em caso de êxito e, para indígenas e quilombolas, atua pro-bono.
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