Publicado em 27 de outubro de 2021 às 09:58
Uma auditoria operacional realizada pelo Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES) constatou que, nos últimos quatro anos, municípios do Estado realizaram um quantitativo inferior de exames, considerando a população-alvo - mulheres de 50 a 69 anos - para mamografia, exame que pode detectar precocemente o câncer de mama. >
A fiscalização também verificou que o tempo de espera entre a solicitação e a realização do exame e também entre a solicitação e a entrega do resultado, que foi superior a 60 dias em mais de 40% das cidades. O prazo foi considerado excessivo em algumas localidades, sendo fatores que podem retardar o diagnóstico precoce do câncer de mama.>
O relatório da auditoria, realizado pelo Núcleo de Avaliação e monitoramento de Políticas Públicas de Saúde (NSaúde) já está em análise pelo relator do processo, conselheiro Sérgio Aboudib. A área técnica do TCE-ES sugeriu que sejam feitas recomendações aos municípios onde foram encontrados problemas. Após a deliberação do TCEES, os municípios serão monitorados para verificar se os problemas foram resolvidos. >
Um dos pontos da auditoria foi analisar os quantitativos de exames de mamografia de rastreamento realizados entre 2017 e 2021, em mulheres de 50 a 69 anos, que é a população-alvo das políticas de prevenção ao câncer de mama, já que, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), quatro entre cada cinco casos da doença, ocorrem após os 50 anos. A outra análise foi apurar se a realização das mamografias ocorre em tempo superior a 30 dias, a partir da sua solicitação. >
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Foram feitos levantamentos e pesquisas contemplando todos os 78 municípios do Estado, e após a coleta de dados, foi realizada uma fiscalização de forma presencial em oito municípios, além da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). >
Analisando a proporção de exames realizados nos últimos 4 anos, o tempo de espera entre a solicitação e a realização do exame e também entre a solicitação e a entrega do resultado, foram selecionados aqueles que obtiveram os piores resultados em pelo menos 2 destes 3 critérios avaliados: Atílio Vivácqua, Fundão, Iconha, Jerônimo Monteiro, Mantenópolis, Mimoso do Sul e Muqui. O município de Santa Maria de Jetibá, também foi selecionado, porém, em razão de ter apresentado bons indicadores nos critérios avaliados. >
Considerando somente a população-alvo que é dependente do SUS, o Espírito Santo obteve, em 2019, a 2ª maior frequência de mamografias de rastreamento entre os Estados, com 43,04%, tendo sido realizadas 66.077 mamografias em um grupo de 307.027 mulheres capixabas pertencente ao grupo de 50 a 69 anos. >
Para 2020, já com a pandemia da Covid-19 em curso, observou-se uma queda expressiva na média nacional no rastreamento de mamografias para o grupo de 50 a 69 anos. No Espírito Santo, caiu de 43,22% para 23,17%, com 36.690 exames realizados. Mesmo com a queda, o Estado alcançou o 3º melhor nível no ranking nacional. >
Na análise por município, aqueles que figuraram como últimos colocados no ranking de realização de exames, entre de 2017 a 2021, foram respectivamente Rio Bananal (2,8%), Laranja da Terra (2,3%), Muniz Freire (2,0%), Divino São Lourenço (1,1%) e Água Doce do Norte (0,4%).>
Os maiores percentuais foram: Itarana (2017 com 104,9%), Vitória (2018 com 94,9%), Santa Maria de Jetibá (2019, com 83,4%, e 2020, com 57%) e Venda Nova do Imigrante (2021 com 82,7%).>
A auditoria apurou que os municípios de Iconha, Mimoso do Sul, Jerônimo Monteiro, Atílio Vivácqua, Muqui, Fundão, e Mantenópolis possuem somente um prestador do serviço para a realização de exames de mamografia previamente pactuados, e em alguns desses municípios, houve a indisponibilidade total da oferta de exames de mamografia por dependerem exclusivamente de um prestador. >
Este tipo de situação causa atraso no diagnóstico e, consequentemente, no início do tratamento nos casos em que for detectado o câncer de mama no estágio inicial, dificultando a cura da paciente, ressaltou a área técnica do TCE-ES.>
A equipe de fiscalização também procurou investigar se as cotas de mamografia de rastreamento eram adequadas ante a meta de execução de exames no Plano Estadual de Saúde 2020-2023. No entanto, os dados apresentados pelo Estado e pelos municípios se mostraram divergentes. >
O relatório técnico frisou que é necessário que o conhecimento sobre a oferta de vagas para a população seja uniforme, sob pena prejudicar o próprio planejamento, pois pode ocorrer uma leitura equivocada sobre a adequação de cotas frente a demanda natural e as filas existentes.>
Cabe destacar que foram encontradas filas em alguns municípios. Fundão, por exemplo, confirmou, no último dia 27 de agosto, a existência de uma fila de espera de 176 mulheres. Já Atílio Vivácqua informou uma fila de 48 pessoas.>
Uma vez realizado o pedido do exame, é necessário compreender o que está ocorrendo entre o agendamento e a sua realização, bem como se houve o retorno tempestivo da paciente para a atenção básica.>
Em relação a essa tempestividade do serviço, o relatório de auditoria mostra que, dos 225.058 exames realizados no Espírito Santo entre 2017 e 2020 (mulheres de 50 a 69 anos), 98.517 demoraram mais de 60 dias entre o pedido de solicitação e a emissão do laudo, ou seja, 43,8%. Neste quesito, o Espírito Santo tem a 4ª pior colocação nacional, entre os Estados.>
Os motivos constatados pelo TCE-ES foram a fragilidade no monitoramento e avaliação do tempo de espera da usuária nos municípios, e de falta de institucionalização da Carta de Serviço ao Usuário. Esta “Carta” é um documento, que deve ser divulgado na internet para trazer informações claras e precisas em relação aos serviços prestados.>
Sem ela, segundo a equipe de auditoria, a usuária do serviço público ao ser atendida pelo enfermeiro ou médico, conforme entendimento colhido nas entrevistas, não é informada sobre requisitos, documentos, formas e informações necessárias para acessar o serviço; principais etapas para processamento do serviço; previsão do prazo máximo para a prestação do serviço; locais e formas para se manifestar sobre ele, sem condições de saber com quem reclamar no caso de algum problema ou insatisfação. >
Além da falta da Carta de Serviço ao Usuário, verificou-se que fora os eventos alusivos do mês Outubro Rosa, não há evidências de ações contínuas de comunicação nos municípios.>
Desta forma, a auditoria concluiu que há a necessidade de uma agenda política com planejamento estratégico e ações concretas urgentes para alterar a realidade atual. Além de reforçar as campanhas, a área técnica do TCE-ES defendeu que é preciso que de fato sejam ofertados os serviços de mamografia de rastreamento em quantidade e tempo adequados para atender a demanda da população capixaba. Diversas recomendações podem ser encaminhadas aos secretários municipais de saúde, após a votação do processo pelo plenário. >
O Ministério da Saúde considera como “melhor aposta” a detecção precoce do câncer de mama por meio do rastreamento com exame de mamografia pelo menos a cada dois anos, para a população-alvo, seguido de confirmação diagnóstica para mamografias com resultado anormal e tratamento oportuno de 100% dos casos confirmados de câncer de mama.>
Quantidade de mamografias de rastreamento realizadas no público feminino de 50 a 69 anos, no Estado:>
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