Publicado em 5 de outubro de 2020 às 20:29
As regras anunciadas pelo governo do Estado, que autorizou que passageiros possam andar em pé nos ônibus duas pessoas a cada um metro quadrado além de alguns coletivos circularem com ar-condicionado, foram criticadas por especialistas. Eles avaliam que o risco de contaminação para os passageiros do transporte coletivo é grande, sem contar o fato de serem diferentes das regras do próprio Estado para outros setores, que estabelecem distanciamento bem maior.>
Segundo o subsecretário estadual de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece que os ônibus podem, pela área física total, transportar até seis pessoas viajando em pé por metro quadrado. Em função disto o Estado estabeleceu uma redução para 2 pessoas por metro quadrado.>
A doutora em saúde coletiva e epidemiologia, Ethel Maciel, observa que o cálculo da ABNT é voltado para situações não-pandêmicas. Observa ainda que a regra estabelecida pelo Estado desrespeita as próprias recomendações feitas pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para outras atividades, que estabelecem um distanciamento de 1,5 m. >
Os cinemas, por exemplo, foram autorizados a funcionar com 40% de sua capacidade, exatamente para evitar este tipo de proximidade. E estudo mais recentes, como os realizados pela Universidade de Princeton, a partir da análise aerodinâmica das gotículas, já apontam que o distanciamento seja de 2 metros. É estranho que as atividades recreativas obedeçam às recomendações de 1,5 m de distância e no ônibus duas pessoas possam ficar em um metro quadrado, pondera.>
>
Na avaliação dela, os ônibus não deveriam transportar passageiros em pé. Não justifica o transporte coletivo, que é um local de transmissão de várias doenças, com evidências que o próprio inquérito sorológico feito pelo Estado já apontou, ter este tipo de liberação, assinala.>
O infectologista Crispim Cerutti também é contrário à medida. Não sou favorável a aproximação de pessoas. O trajeto do transporte coletivo, em geral, não é menor que meia hora. É sempre para mais. E as pessoas estão em contato o tempo todo, o que é problemático, destaca.>
Na avaliação dos dois, o Estado deveria promover uma fiscalização para evitar não só que os passageiros andem em pé nos coletivos, mas também evitar as aglomerações nas filas e nas entradas dos coletivos. Ao invés de protocolos mais rígidos para impedir a proximidade, o que esta sendo feito é oficializar para que isto aconteça, o que é muito preocupante, principalmente em um momento que temos sinais de que a contaminação volta a aumentar, destaca Ethel.>
Outra medida considerada polêmica é a circulação de coletivos com ar-condicionado. Segundo o subsecretário Reblin, a medida é positiva para o cenário da Covid-19 no Estado.>
"O ar-refrigerado é um equipamento que renova o ar interior do veículo. Além disso, entendemos que ele é o padrão que já se aplica a todos os ambientes de trabalho que enfrentamos cotidianamente, bem como no comércio e nos shoppings centers. Então a entrada destes veículos em funcionamento reduz também a quantidade média de pessoas pelos ônibus que anteriormente eram somente os sem ar-condicionado", disse.>
O infectologista considera a decisão um desastre. Com o ar condicionado a premissa do distanciamento cai por terra e não faz diferença, porque as gotículas ficam em aerosol pelo sistema de circulação fechado do ar-condicionado, relata.>
Na avaliação dele, o Estado deveria ampliar a frota em bem mais de 100%, deixando que as pessoas possam viajar sentadas. E, de preferência, distantes, com uma pessoa por cada instalação de banco, assinala.>
Ethel pondera que um dos legados da pandemia deveria ser um transporte coletivo mais respeitoso. É indigno que a pessoa vá para o trabalho e tenha que ficar em um ambiente desconfortável, desrespeitoso. Minimamente é momento de reforçar que não podemos retornar ao que tínhamos antes, precisam ter melhorias no transporte coletivo. Se a pandemia não for razão suficiente para investir no transporte coletivo, o que será?, questiona a doutora.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta