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Entenda por que aumento de casos da Covid no ES não é 2ª onda da doença

Entenda por que aumento de casos da Covid no ES não é 2ª onda da doença

Especialistas observam que primeira onda da doença não acabou, pois, não houve interrupção da transmissão, mas alertam para nova aceleração no contágio

Publicado em 19 de novembro de 2020 às 15:47

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Uso de máscara nas ruas de Vitória
Manter o distanciamento é uma das medidas necessárias para evitar a infecção pelo coronavírus. (Carlos Alberto Silva)

Espírito Santo está passando por uma aceleração de casos de Covid-19, o que tem feito muitas pessoas imaginarem que se trata de uma nova onda da doença, assim como está sendo registrado em países da Europa. Apesar do crescimento no número de infectados pelo coronavírus, não se pode afirmar que o Estado vivencia uma segunda onda. Mas, seja qual for a definição do momento, o certo é que a pandemia não acabou e segue fazendo vítimas. 

Os dados mais recentes sobre o coronavírus, divulgados nesta quarta-feira (18), indicam que Espírito Santo registrou, em 24 horas, 1.314 novos casos de pessoas infectadas, totalizando 174.238 confirmados desde o início da pandemia. No levantamento apresentado pelo Painel Covid-19, ferramenta da Secretaria do Estado de Saúde (Sesa) para monitoramento diário da doença, 4.058 pessoas já morreram em decorrência da infecção.

primeiro caso de coronavírus registrado em território capixaba foi no dia 26 de fevereiro. A pandemia teve uma curva de crescimento acelerado, com pico de casos e mortes em junho. Nesta primeira quinzena de novembro, observa-se novamente uma tendência de crescimento: o Estado contabilizou 154 novas mortes pela Covid-19 em apenas 15 dias.

Apesar desses repiques, com aceleração no número de novos casos e estagnação na queda de óbitos, especialistas afirmam que não estamos passando por uma segunda onda da doença. “A primeira onda nunca acabou. Nós não conseguimos controlar a pandemia e é por isso que essa não é uma segunda onda clássica. É a primeira que está em ascensão”, explica o  infectologista Lauro Ferreira Pinto.

Para o médico, primeira e segunda onda são detalhes técnicos pouco relevantes no caso do Brasil, pois, por aqui, não houve uma interrupção na taxa de transmissão da doença, como ocorreu em alguns países da Europa. “Tecnicamente, uma segunda onda é quando se resolve a primeira, e nós nunca resolvemos a primeira onda. Nunca paramos a transmissão de modo efetivo, e é por isso que nós falamos que esta é a primeira onda que está em ascensão ainda”, destaca.

A pós-doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, corrobora com a opinião do infectologista sobre a segunda onda da doença, e acrescenta que a comunidade científica e médica ainda está aprendendo e formulando essas definições.

“Um exemplo claro é o que está acontecendo na Europa. Após um verão em que o número de casos chegou muito próximo de zero, e em que a taxa de transmissão foi muito desacelerada, o outono trouxe de volta o aumento exponencial de casos da doença e de morte. Também foram identificados novas cepas virais [mutações] que podem estar relacionadas com aumento do número de casos, ainda em investigação”, exemplifica Ethel sobre o que seria uma segunda onda.

Eleitores capixabas lotaram bares e restaurantes neste domingo (15)
Eleitores capixabas lotaram bares e restaurantes no último domingo (15). (Maria Fernanda Conti )

DESCUMPRIMENTO DAS RECOMENDAÇÕES DE SAÚDE

O infectologista Lauro Ferreira Pinto relaciona o crescimento de novos casos da doença ao descumprimento das orientações de prevenção, como a necessidade de manter o distanciamento social e o uso da máscara pela população. No último domingo (15), por exemplo, a reportagem de A Gazeta flagrou bares lotados na Grande Vitória. Além da aglomeração e descumprimento da distância mínima de 1 metro, muitas pessoas não faziam o uso da máscara.

“As pessoas estão se aglomerando e deixaram de cumprir o distanciamento social. E isso não está acontecendo só aqui. Tem um cansaço da população, um relaxamento, e claramente isso está aumentando o contágio. Já há um aumento no número de casos, de hospitalização e de mortes. Precisamos coibir a aglomeração de alguma forma. Do jeito que está, vai ter estresse no serviço de saúde, que já sofre. Iremos enfrentar tempos difíceis”, alerta.

Ethel Maciel também se mostra preocupada com o descuido das pessoas quanto às recomendações de prevenção. Já são nove meses desde o primeiro caso confirmado da Covid-19 no Estado, e ambos os especialistas advertem que a pandemia do novo coronavírus ainda não acabou.

“Precisamos entender que ainda não é hora de irmos a festas, eventos, bares e boates. Isso é algo que deve ser evitado porque nós estamos começando uma aceleração da transmissão, e é um momento muito delicado que nos traz muita preocupação com o número de pessoas que poderão morrer nos próximos dias”, sustenta.

RESTRIÇÃO, TESTAGEM E VIGILÂNCIA

Além das recomendações de medidas mais restritivas para evitar aglomerações, os especialistas orientam uma ampliação na testagem e estratégias mais direcionadas. “Nossas medidas precisam ser mais focadas e preservando aquilo que é prioritário. A estratégia mais importante passa a ser testar muito e isolar o máximo possível, para romper a cadeia de transmissão. Não podemos ficar esperando as pessoas chegarem ao hospital”, argumenta Ethel Maciel.

Ela acrescenta ainda que é necessária a garantia da atenção primária à saúde. “Precisamos ir até as casas das pessoas que apresentam os sintomas gripais para serem testadas, e avaliarmos por onde a doença está circulando. Isso é o clássico da epidemiologia”, diz. “Se há notificação de que alguém ficou doente em uma determinada rua, pessoas próximas àquele endereço deveriam ser testadas. Precisamos fazer uma vigilância ativa na busca das pessoas que foram contaminadas para que elas não transmitam a doença”, completa.

Lauro Ferreira Pinto e Ethel Maciel reforçam ainda que os cuidados básicos que cada pessoa precisa se atentar para a prevenção do novo coronavírus continuam os mesmos: evitar aglomerações; se possível, cumprir o isolamento social; fazer o uso correto da máscara cobrindo sempre nariz e boca; manter o distanciamento físico de 2 metros em locais com mais pessoas; uso do álcool em gel e higienização frequente das mãos.

EXPOSIÇÃO DOS JOVENS

Em nota, a Sesa informa que o aumento no número de casos confirmados da Covid-19 no Estado está relacionado tanto pela ampliação da testagem na população - já são 582.288 testes realizados - quanto pela maior exposição de jovens à doença. Segundo a Sesa: “a média móvel de óbitos vem se mantendo baixa e estratégias são adotadas de acordo com o comportamento da curva da doença, que é observada diariamente."

O órgão disse  também que está aberto um edital para contratação de novos leitos para pacientes com a doença, e que trabalha com a previsão de entrega de mais 160 vagas até o final do ano. Segundo a Sesa, esses leitos poderão ser disponibilizados para os quadros graves de Covid-19, em caso de crescimento do número de infectados e hospitalizados.

“A secretaria ressalta ainda que está reorganizando leitos da rede própria, que haviam sido migrados, para atender novamente os pacientes da Covid-19." Por fim, a Sesa frisa, assim como os especialistas, ser essencial a “manutenção dos protocolos de higiene e cuidados como o uso de máscaras, distanciamento social e a higienização das mãos com frequência, para que a redução da ocupação de leitos e número de óbitos sejam mantidos no Estado."

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*Lorraine Paixão é aluna do 23° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob supervisão da editora Joyce Meriguetti e de Aline Nunes.

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