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Entenda por que a Ilha do Príncipe virou alvo de disputa entre facções

Entenda por que a Ilha do Príncipe virou alvo de disputa entre facções

Conflitos têm gerado ataques a tiros e assassinatos na região. O objetivo de quem promove ataques é conquistar um ponto lucrativo de drogas, segundo policiais

Publicado em 13 de outubro de 2020 às 18:20

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Moradores da Ilha do Príncipe fazem protesto e pedem por paz
Moradores da Ilha do Príncipe fazem protesto e pedem por paz. (Carlos Alberto Silva)

"Eu adoro morar na Ilha. Mas sabemos que existe o tráfico intenso de drogas diariamente nas ruas e somos obrigados a conviver com isso. O problema é a guerra. Nesses últimos dias ninguém consegue dormir. Andar na rua à noite, nem pensar. O clima de tensão é geral, só esperando se vai ter tiro de novo". O relato é de um morador que vive há 40 anos na Ilha do Príncipe, em Vitória

A guerra à qual o morador se refere e também o mantém refém do medo é que tem provocado os ataques a tiros que acontecem com frequência no bairro. O local virou alvo da disputa entre facções rivais desde a primeira prisão de um traficante que comandava a venda de drogas no local, de acordo com informações de policiais ouvidos pela reportagem de A Gazeta.

O comandante da Polícia Militar, Douglas Caus, afirmou em entrevista no último sábado (10) que a corporação tem conhecimento do que está acontecendo no bairro. "Há uma guerra de traficantes pela conquista de mais territórios. A Ilha do Príncipe, neste momento, está sendo disputada entre traficantes", afirmou.

Em uma das ações na área, o tenente Xavier, do 1º Batalhão da Polícia Militar, descreveu o que faz a Ilha do Príncipe ser tão disputada ao ponto de gerar mortes e confrontos.

"Os crimes são uma busca pelo domínio da região, que é de acesso a diversas saídas da Capital, como as pontes para Cariacica e  Vila Velha, a via sentido orla de Camburi e ainda tem proximidade com a Rodoviária de Vitória. Essa localização favorece não somente a fuga de criminosos, mas também tende a oferecer muito lucro no tráfico de drogas devido à facilidade de chegada de compradores", explicou o tenente, em 6 de outubro, após prender suspeitos de um assassinato na comunidade. 

Fontes policiais de A Gazeta descrevem que o grupo que mantêm a resistência dentro da Ilha do Príncipe é a Associação Família Capixaba (AFC). Do outro lado, quem quer avançar sobre o território são os traficantes aliados ao Primeiro Comando de Vitória (PCV), que tem como base o Bairro da Penha. 

OCORRÊNCIAS

Um exemplo desse conflito foi o que aconteceu por volta de 21h,  na última sexta-feira (09), quando criminosos armados em um carro deram mais de 70 tiros pelas ruas do bairro.  Na fuga, eles seguiram pela saíram sentido Vila Velha, via Cinco Pontes. Na altura do bairro Cobilândia, a Polícia Militar já estava fazendo acompanhamento e montando cerco quando houve confronto com os suspeitos que ocupavam o veículo. 

Na tentativa de escapar, os quatro ocupantes deixaram o carro suspeito. Um deles invadiu uma casa e fez reféns uma mulher de 45 anos e a filha dela de 20. Ele acabou se entregando aos policiais. Dos quatro suspeitos, três foram detidos. Um deles é apontado pelas polícias Civil e Militar como autor do ataque a um carro de aplicativo em que duas pessoas morreram, duas ficaram feridas e uma saiu ilesa, no domingo, dia 4 de outubro, no Centro de Vitória, em plena luz do dia

Um dos primeiros registros da insegurança que tomou conta da Ilha do Príncipe aconteceu no dia 29 de setembro, horas depois da chacina de quatro jovens na Ilha Doutor Américo de Oliveira, na Baía de Vitória. Um homem foi morto a tiros de pistolas calibres 380 e .40, no início da madrugada. O alvo foi um rapaz que não foi identificado no local e teve o corpo levado para o Departamento Médico Legal (DML). 

No dia seguinte, uma equipe da Polícia Militar conseguiu evitar outro ataque. "Sabemos que quando há ataque feito por um grupo, uns atiraram e outros permaneceram no bairro durante o restante do dia. Por isso, mantivemos o patrulhamento na região até chegar a denúncia de que um grupo armado estaria no beco, e os três foram detidos. Eles aguardavam o restante do bando para, agora à noite, cometer outro ataque na Ilha do Príncipe", explicou na ocasião o tenente Xavier, do 1º Batalhão. 

Para quem mora no bairro, a tensão existe mesmo quando não há ferido ou morto dessa guerra. "Ouvimos tiros e as crianças catam cápsulas. Não temos paz", comentou um morador. Ele não quis ser identificado por medo de represália. 

No dia 10 de outubro, um gari encontrou uma granada em um beco, próximo a uma igreja do bairro. O material foi retirado pela equipe antibomba da Companhia de Missões Especiais (Cimesp) da Polícia Militar. 

"Existem traficantes na Ilha do Príncipe que a Polícia Civil, a PM e a inteligência da Sesp já estão identificando. A Operação Caim e a Sentinela combatem este tipo de indivíduo. Quando a polícia chega, eles vão para as residências, mas, mais cedo ou mais tarde, serão presos. A Ilha do Príncipe é um lugar pequeno, nós sabemos quem são estes indivíduos e já estamos trabalhando no sentido de detectar os esconderijos onde estão, pedir ao Ministério Público e ao Judiciário os mandados de busca e apreensão para, depois do cerco, entrarmos nas residências e fazermos as prisões", completou o comandante-geral, Douglas Caus, no último sábado. 

INVESTIGAÇÕES

Ao ser questionada nesta terça-feira (13) sobre o assassinato e demais crimes, a Polícia Civil informou que estão sob investigação da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória e outros detalhes não serão repassados para que a apuração dos fatos seja preservada.   

A corporação destacou, porém, que a população tem um papel importante nas investigações e pode contribuir com informações de forma anônima através do Disque-Denúncia 181, que também possui um site onde é possível anexar imagens e vídeos de ações criminosas, o disquedenuncia181.es.gov.br. O anonimato é garantido e todas as informações fornecidas são investigadas. 

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