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Publicado em 4 de abril de 2022 às 19:07
Os efeitos cíclicos do mar combinados com a ocupação desordenada podem ser a causa da erosão na Praia da Areia Preta, em Guarapari. É o que apontam especialistas em relação ao avanço do mar na cidade. >
No mês de março, a força das águas derrubou um trecho do muro e do calçadão. O local foi interditado pela prefeitura. Para conter os prejuízos, o Executivo municipal colocou pedras e terra na região.>
A professora Jacqueline Albino, do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), é pós-doutora em Engenharia Marítima.>
Ela explica que a região costeira, principalmente as praias, tem a capacidade de adaptar sua forma às mudanças climáticas e oceanográficas. Isso acontece quando há erosão (e a praia fica menor) ou progradação (quando a praia é ampliada).>
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Jacqueline Albino
ProfessoraA professora pontua que quando há uma tempestade, as ondas ficam mais altas. Dessa forma, mais uma vez, o nível do mar aumenta relativamente. De acordo com ela, o aumento se dá por variáveis climáticas e oceanográficas que se intensificaram nos últimos anos.>
“A região costeira se adapta a isso. Em alguns lugares, ela recua, que é o que a gente configura erosão. Só que essa erosão, nos dias atuais, causa prejuízo porque a região costeira é densamente ocupada por construções urbanas residenciais ou calçadas”, destaca.>
Ainda sobre o assunto, Albino cita o Projeto Orla, uma política pública desenvolvida pelo governo federal que prevê que haverá mudança no nível do mar, seja por mudanças climáticas ou por fenômenos naturais. >
“E qual seria a área ideal de ocupação? Era previsto que essa faixa arenosa, que hoje está sendo erodida, porque mudou o nível relativo do mar, teria de ser desocupada para se adaptar às variáveis.”>
Já o engenheiro civil, oceanógrafo e mestre em engenharia ambiental Pablo Prata alerta que “a gente tem uma impressão meio errada de que o mar que esta avançando sobre a terra”, enfatiza.>
O especialista ressalta que lá no ano de 1500 existiam no Brasil faixas de erosão e de deposição de areia (que influenciavam no tamanho das praias) e áreas estáveis, que não apresentavam modificação nenhuma.>
Ele chama a atenção para uma foto que faz parte do acervo disponibilizado na biblioteca do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). A imagem é o retrato da Praia da Areia Preta, em Guarapari, feito na década de 1950.>
Na foto estão banhistas na praia de Guarapari que ainda contava com uma extensa faixa de areia, dunas e uma falésia. Segundo o engenheiro, tudo isso contribuía para o funcionamento ordenado da famosa praia.>
“Falésia é uma faixa que está sempre esbarrancando. A foto mostra que não tem casa construída ali, não tem nada. Esse ponto do litoral é um ponto erosivo. O mar está retirando material do continente e depositando do outro lado, onde estão as pessoas. É isso que ajudava a formar a praia”, relata.>
Ele ressalta que da década de 1950 para os dias atuais, foi iniciada uma ocupação desse trecho com a construção de prédios e muros no entorno da praia. Assim, de acordo com Prata, o mar perdeu a duna e a falésia como fontes de materiais (sedimentos) que serviam como aporte.>
Pablo Prata
Engenheiro civilO engenheiro critica as construções executadas na área costeira sem o conhecimento do comportamento do litoral e dos pontos onde tradicionalmente o mar interage com o continente. >
Segundo ele e a professora Jacqueline, é preciso planejamento e estudo antes da execução de qualquer empreendimento no litoral. Seja público ou privado.>
Erosão causa prejuízo na Praia da Areia Preta em Guarapari
“Quando você constrói paredões na região de duna e faz prédios e muros nas falésias, acaba com o suprimento de areia da praia. Uma onda com mais energia iria lá, desfazia um pouco da duna para gastar essa energia. Agora, tem uma parede de concreto. O que a onda faz?”>
Sem o amortecedor natural, a onda bate na intervenção humana e reflete sua energia. “Quando ela reflete energia, ela tira areia da faixa da praia, onde as pessoas estão sentadas, e leva areia para dentro do mar. Ao longo de vários anos, esse processo vai fazendo a praia perder o material, ela vai ficando mais magra”, explica. >
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