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Efeito cíclico do mar pode ser causa de erosão em praia de Guarapari

Efeito cíclico do mar pode ser causa de erosão em praia de Guarapari

Avanço das águas na Praia da Areia Preta derrubou um trecho do muro e do calçadão. O local está interditado. Especialistas apontam o que pode ter provocado a fúria do mar

Publicado em 4 de abril de 2022 às 19:07

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Calçadão cede na Praia da Areia Preta, em Guarapari
Calçadão cede na Praia da Areia Preta, em Guarapari. (Fernando Madeira)

Os efeitos cíclicos do mar combinados com a ocupação desordenada podem ser a causa da erosão na Praia da Areia Preta, em Guarapari. É o que apontam especialistas em relação ao avanço do mar na cidade.

No mês de março, a força das águas derrubou um trecho do muro e do calçadão. O local foi interditado pela prefeitura. Para conter os prejuízos, o Executivo municipal colocou pedras e terra na região.

A professora Jacqueline Albino, do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), é pós-doutora em Engenharia Marítima.

Ela explica que a região costeira, principalmente as praias, tem a capacidade de adaptar sua forma às mudanças climáticas e oceanográficas. Isso acontece quando há erosão (e a praia fica menor) ou progradação (quando a praia é ampliada).

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Estamos vivenciando uma mudança no regime de ventos, de precipitações e nas chuvas. As chuvas aumentam o nível do mar porque toda a água continental corre para o mar, para o lençol freático. Quando chove mais, as águas também aumentam

Jacqueline Albino
Professora
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A professora pontua que quando há uma tempestade, as ondas ficam mais altas. Dessa forma, mais uma vez, o nível do mar aumenta relativamente. De acordo com ela, o aumento se dá por variáveis climáticas e oceanográficas que se intensificaram nos últimos anos.

“A região costeira se adapta a isso. Em alguns lugares, ela recua, que é o que a gente configura erosão. Só que essa erosão, nos dias atuais, causa prejuízo porque a região costeira é densamente ocupada por construções urbanas residenciais ou calçadas”, destaca.

Efeito cíclico do mar pode ser causa de erosão em praia de Guarapari

Ainda sobre o assunto, Albino cita o Projeto Orla, uma política pública desenvolvida pelo governo federal que prevê que haverá mudança no nível do mar, seja por mudanças climáticas ou por fenômenos naturais.

“E qual seria a área ideal de ocupação? Era previsto que essa faixa arenosa, que hoje está sendo erodida, porque mudou o nível relativo do mar, teria de ser desocupada para se adaptar às variáveis.”

EROSÃO DESDE 1500

Já o engenheiro civil, oceanógrafo e mestre em engenharia ambiental Pablo Prata alerta que “a gente tem uma impressão meio errada de que o mar que esta avançando sobre a terra”, enfatiza.

O especialista ressalta que lá no ano de 1500 existiam no Brasil faixas de erosão e de deposição de areia (que influenciavam no tamanho das praias) e áreas estáveis, que não apresentavam modificação nenhuma.

Praia da Areia Preta, em Guarapari, na década de 1950. (Acervo/IJSN)

Ele chama a atenção para uma foto que faz parte do acervo disponibilizado na biblioteca do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). A imagem é o retrato da Praia da Areia Preta, em Guarapari, feito na década de 1950.

Na foto estão banhistas na praia de Guarapari que ainda contava com uma extensa faixa de areia, dunas e uma falésia. Segundo o engenheiro, tudo isso contribuía para o funcionamento ordenado da famosa praia.

“Falésia é uma faixa que está sempre esbarrancando. A foto mostra que não tem casa construída ali, não tem nada. Esse ponto do litoral é um ponto erosivo. O mar está retirando material do continente e depositando do outro lado, onde estão as pessoas. É isso que ajudava a formar a praia”, relata.

Ele ressalta que da década de 1950 para os dias atuais, foi iniciada uma ocupação desse trecho com a construção de prédios e muros no entorno da praia. Assim, de acordo com Prata, o mar perdeu a duna e a falésia como fontes de materiais (sedimentos) que serviam como aporte.

Calçadão cede na Praia da Areia Preta, em Guarapari
Areia Preta, em Guarapari, em março de 2022. (Fernando Madeira)
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Foram levantados prédios em cima dessa duna que aparece na foto. Era na duna, que numa situação de ressaca, a água subiria ali em cima, retirava o material dela, fazia o mar voltar a ter equilíbrio e depois devolvia esse material de novo

Pablo Prata
Engenheiro civil
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O engenheiro critica as construções executadas na área costeira sem o conhecimento do comportamento do litoral e dos pontos onde tradicionalmente o mar interage com o continente.

Segundo ele e a professora Jacqueline, é preciso planejamento e estudo antes da execução de qualquer empreendimento no litoral. Seja público ou privado.

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“Quando você constrói paredões na região de duna e faz prédios e muros nas falésias, acaba com o suprimento de areia da praia. Uma onda com mais energia iria lá, desfazia um pouco da duna para gastar essa energia. Agora, tem uma parede de concreto. O que a onda faz?”

Sem o amortecedor natural, a onda bate na intervenção humana e reflete sua energia. “Quando ela reflete energia, ela tira areia da faixa da praia, onde as pessoas estão sentadas, e leva areia para dentro do mar. Ao longo de vários anos, esse processo vai fazendo a praia perder o material, ela vai ficando mais magra”, explica.

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