Publicado em 14 de junho de 2020 às 07:55
Além do Sistema Único de Saúde (SUS), a ciência também tem ganhado destaque. Como ainda não há tratamento com um medicamento específico contra à Covid-19, toda a atenção está voltada ao desenvolvimento de uma vacina que crie anticorpos para impedir a evolução do coronavírus no organismo humano. No Estado, pesquisas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) estão presentes na produção de frutas como o mamão; do café, cultivado nos diversos municípios capixabas; no asfalto usado em obras de pavimentação e até mesmo em como se dá a sincronização dos semáforos da Grande Vitória.>
Para o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, como gestor e médico, o momento atual permite que um conjunto da sociedade em todo o mundo, sobretudo no Brasil, reavalie questões que eram dilemas como o fortalecimento do SUS, o financiamento de pesquisas e a manutenção de investimentos para melhorar a oferta de serviços públicos de saúde.>
Nésio Fernandes
Secretário estadual de Saúde
A pós-doutora em Epidemiologia e professora da Ufes, Ethel Maciel, é outra defensora de um SUS cada vez mais equipado e capaz de oferecer serviços à população com melhor qualidade. Ela destacou que em países desenvolvidos, como Alemanha e Inglaterra, a pesquisa é valorizada, até mesmo como alternativa viável para movimentar a cadeia econômica nacional.>
Antes da pandemia, a Alemanha anunciou milhões de euros de investimentos em pesquisas. Os orçamentos de vários países em desenvolvimento funcionam assim. Eles já entenderam que se você investe em pesquisa, acaba movimentando a economia porque descobre novas vacinas, novos medicamentos e até mesmo equipamentos. Tudo isso gera patente e move a economia, explicou.>
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Na avaliação dela, os investimentos públicos nesse setor são mais importantes que os aportes privados. A indústria farmacêutica, por exemplo, não vai querer investir em algo que talvez não dê em nada. Então o investimento público é importante porque, por exemplo, eu estou investigando 40 produtos. Digamos que sejam compostos de planta, talvez um apresente um resultado promissor. O que acontece em geral nos países desenvolvidos é que você tem o financiamento público para a pesquisa básica, que não é aplicada, que tem estudos em laboratório. Essas pesquisas geram patentes.>
Como exemplo prático, Ethel citou que um grupo de pesquisadores da Ufes criou uma câmara com lâmpadas que geram radiação ultravioleta capaz de destruir microorganismos, inclusive o novo coronavírus. O primeiro protótipo, batizado de Covidkiller, já está sendo utilizado na desinfecção de equipamentos hospitalares recebidos para manutenção no Centro Tecnológico.>
Essa criação tem características de ser transformada em um produto, mas a Ufes não tem capacidade de produção desse nível, teria que ter a participação da indústria para poder fazer esse investimento. Ali já passamos da fase da descoberta, estamos na parte da aplicação. A gente tem isso muito pouco, a gente não consegue avançar até que vire um produto para ser comercializado. Esse caminho é incipiente no Brasil, declarou.>
A pesquisadora também faz um mea-culpa. Sem identificar canais de comunicação eficazes entre a população e o mundo das descobertas, Ethel enxerga o momento para destacar a importância da pesquisa e da ciência no cotidiano da sociedade. De acordo com ela, as produções acadêmicas sempre ficaram muito restritas ao universo científico das publicações de artigos em revistas e sites específicos sobre o tema.>
Agora há um momento de valorização da ciência, mas ela precisa ser efetivada em recursos. Fazer ciência é caro e é importante que essa valorização se efetive em maiores investimentos. A gente tem no Brasil uma qualificação muito grande de pesquisadores, mas tem pouco investimento neles. Acaba que as pessoas saem, tentam buscar financiamento fora e aquilo que você faz acaba sendo produto ou patente para outro país, revelou.>
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