Publicado em 11 de agosto de 2023 às 05:00
Há dois anos, Mary Lamberti, de 30 anos, começou a produzir chocolates artesanais. Poderia ser mais uma história de empreendedorismo, mas, no caso da empresária, a aposta na fabricação do doce é uma das mudanças que ela implantou nos negócios familiares. >
Mary é da quarta geração da família, que, há mais de 60 anos, mantém propriedade em Itarana com tradição no segmento de laticínios. Ela saiu de casa para concluir o curso técnico em Agropecuária e a faculdade de Engenharia Mecânica, mas voltou. “Há alguns anos, o sistema incentivava a gente a estudar e ir para a cidade, porque o campo não gerava renda. Mas lá fora, a gente vê que no campo tem mais renda do que em muitas áreas”, pontua.>
Ao enxergar oportunidade para diversificar a produção, Mary investiu na fabricação de chocolates artesanais. Com conhecimento técnico e atenta às inovações de mercado, ela conta que, desde que se formou, em 2015, e decidiu aplicar seus conhecimentos na propriedade familiar, conseguiu aprimorar os processos, implantar melhorias, diversificar a produção, reduzir perdas e aumentar o lucro.>
Aliás, uma das mais importantes mudanças da gestão da jovem produtora foi ter agregado valor aos produtos. “Nosso queijo era considerado caro para alguns clientes. Mas passamos a agregar valor aos nossos produtos, mostrar os insumos de qualidade, a tradição da nossa família e, consequentemente, dos nossos produtos. Realizamos algumas consultorias com especialistas e chegamos a um preço compatível para o consumidor e que representa o valor agregado do nosso queijo.”>
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Com persistência, estudos e testes, a empresária conseguiu inserir a fabricação de manteiga, a partir do soro que antes era descartado, e de iogurtes. “Se não tivesse estudado, acabaria repetindo o mesmo que meu avô e meu pai fizeram. Quando vamos atrás, abrem-se novos horizontes, enxergando o que dá para melhorar”, afirma Mary, que trabalha na propriedade com o irmão Sandro Lamberti e o primo Júlio Lamberti, ambos estudantes de Medicina Veterinária.>
No município vizinho, em Afonso Cláudio, Michel Mendonça dos Santos, de 21 anos, ainda está finalizando o curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos, mas confessa que seu plano, havia algum tempo, era sair da casa da família e cursar Agronomia. Nem passava pela cabeça trabalhar na propriedade familiar onde viveu a infância.>
Até que, em 2019, tudo mudou quando ele participou de um curso e se apaixonou pela produção de cafés especiais. “Minha família é produtora de café há muitos anos, eu cresci no ‘meio do cafezal’, mas não tinha ideia de todo o processo”, lembra Michel.>
Hoje, as tarefas na propriedade são divididas entre as gerações: o pai dele, João Roberto dos Santos, cuida do manejo e da gestão de pessoas; a irmã, Sabrina Mendonça dos Santos, de 23 anos, é responsável pelo setor financeiro; e as áreas de venda e qualidade são atribuições de Michel. A propósito, assim como ele, Sabrina optou por trabalhar no campo com a família após concluir a faculdade de Administração.>
Indagado sobre o que acredita ter conseguido agregar na produção com seus conhecimentos, Michel conta que, desde que passou a comandar os negócios, com a irmã, o pai, o tio e outros integrantes da família, todas as etapas do processo são feitas visando a obter os melhores resultados. “Percebo que muitos produtores ainda não sabem como melhorar o que produzem, como e quando plantar, quais variedades são mais atrativas, qual o espaçamento da lavoura, a importância de colher o grão bem maduro. A maioria não sabe os motivos pelos quais age de determinada maneira, simplesmente faz. Às vezes, você investe um valor absurdo, sendo que é possível obter o mesmo resultado com uma técnica simples, mas, para isso, é preciso ter conhecimento.”>
Ao buscar soluções eficazes, Michel implantou uma tecnologia na etapa de descascar o café que reduziu o consumo operacional de 80 mil para 20 mil litros de água por dia. E essa quantidade é reaproveitada para irrigar o pasto. “Não estaria tão feliz e satisfeito se tivesse seguido meus planos iniciais de carreira. Ver o negócio da família prosperar, dar lucro e se tornar referência não têm preço”, vibra.>
Quem também está feliz da vida cuidando do café na propriedade particular em Pancas é o médico-veterinário Wendius Henrique Lucas, de 36 anos. O nascimento da filha, Maria Clara, hoje com 2 anos, foi o motivo principal para decidir pela volta “às raízes” a fim de cuidar das terras da família ao lado do pai, Darcy Sebastião Lucas, 71.>
A propriedade mantém criação de gado de corte e de leite, e o cultivo de café foi a grande novidade desde que Wendius, vindo das salas de aula, voltou para ajudar o pai a cuidar dos negócios rurais. “Meu objetivo principal foi atrair mão de obra para a pecuária, porque um dos grandes gargalos da atividade rural é a falta de pessoas capacitadas para trabalhar no campo”, sustenta.>
Com mestrado e pós-graduação na área de Produção Pecuária, o médico-veterinário conta que, paralelamente ao cultivo de café, está inserindo técnicas que, segundo ele, estão fazendo a diferença na criação do gado. “A quantidade de ração que os animais recebem, o teor de proteína, teor de energia: tudo hoje é calculado com base em estudos e testes. Antes, não era feito dessa forma. A prática é baseada na teoria. A gente estuda para trazer para dentro da propriedade as melhores práticas que vão garantir os melhores resultados.” >
“Sempre estive por perto, mas nunca estive dentro dos negócios da família. Meu arrependimento é não ter vindo antes, de não ter abraçado as propriedades antes, mas, por outro lado, ter saído e estudado me deu bagagem e conhecimento para estar onde estou hoje”, reflete Wendius.>
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