Café é uma das culturas que conta com trabalho tecnológico e pesquisa para formar grãos fortes, saudáveis e mais saborosos
Café é uma das culturas que conta com trabalho tecnológico e pesquisa para formar grãos fortes, saudáveis e mais saborosos. Crédito: Fernando Madeira

Ciência cria superalimentos e dá mais força e sabor a produções no ES

Pesquisas ajudam a deixar produtos agrícolas mais resistentes a doenças e mudanças no clima, além de desenvolver variedades com mais qualidade

Tempo de leitura: 5min
Publicado em 06/06/2022 às 09h34

Samantha Dias

Ciência e produção agropecuária estão andando lado a lado rumo à melhoria na qualidade dos produtos e ao aumento da produtividade e sustentabilidade.

Das frutas às especiarias, são variadas as culturas que depositam na pesquisa genética a solução para desenvolver produtos fortes, de qualidade e mais saudáveis.

Somente o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) tem, atualmente, 127 pesquisas em desenvolvimento sobre agroecologia, aquicultura, cafeicultura, culturas alimentares e condimentares, desenvolvimento socioeconômico, fruticultura, pecuária, recursos naturais e silvicultura.

Como o Espírito Santo é o segundo maior produtor de café e o principal produtor de conilon do país, de acordo com a Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), a cafeicultura é que tem mais recebido investimentos nesse setor.

Além da sua importância pela quantidade, abastecendo os mercados nacional e também internacional, o Estado também é reconhecido no quesito qualidade, pois produz um dos melhores cafés do mundo. Parte desse destaque se deve ao desenvolvimento dos grãos.

Nos últimos concursos da Semana Internacional do Café (SIC), uma das maiores feiras do segmento, o produto capixaba vem se destacando por sua qualidade, figurando todos os anos, desde 2017, entre os primeiros lugares na competição. O reconhecimento consagra não só os trabalhos dos produtores no campo, mas também os resultados das pesquisas científicas.

Alguns desses estudos, especificamente sobre cafeicultura, são coordenados por Abraão Carlos Verdin. Ele explica que o Incaper já lançou 11 variedades de café a partir de estudos para atender demandas diferentes, de acordo com hidrografia, topografia, temperatura, qualidade, produtividade, entre outros.

Verdin cita uma variedade desenvolvida para ser mais resistente à seca, necessária após o período de crise hídrica entre 2014 e 2016 no Estado.

Abraão Carlos Verdin

Abraão Carlos Verdin

Pesquisador do Incaper

"O trabalho de pesquisa não para, porque as situações mudam constantemente, surgindo novas necessidades, e a ciência busca responder com estudos e testes. Além disso, as condições dos locais de plantio mudam, e cada produtor desenvolve a prática e a cultura que atendem a sua situação"

Atualmente, na avaliação do especialista, pesquisas com foco na qualidade, produtividade e sustentabilidade são as principais demandas.

“A variedade de café Conquista é resultado do cruzamento de 56 clones de mudas para ganho de produtividade e também de qualidade. Ela é 47% mais produtiva que a Robusta Tropical, primeira cultivar (termo usado para falar da forma que uma planta é cultivada) propagada por semente, lançada pelo Incaper em 2000. E a qualidade da Conquista foi considerada superior, conforme classificação mundial, com mais de 80 pontos.”

Trabalhando com cafeicultura desde 1985, Abraão diz que a produtividade média era de oito sacas por hectare. Hoje é de 43 sacas por hectare. “Por meio da pesquisa, o agro se desenvolve e se transforma”, destaca.

Pimenta-rosa tem evoluído e é usada em diversas preparações, desde alimentos à cosméticos
Pimenta-rosa tem evoluído e é usada em diversas preparações, desde alimentos a cosméticos. Crédito: Pixabay

Questionado sobre os principais focos dos estudos mais recentes, o pesquisador aponta dois: desenvolver culturas resistentes a pragas e doenças; e que não demandam muita mão de obra, pois há carência de trabalhadores.

Fábio Partelli é diretor de pesquisa na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) na área de genética e melhoramento em várias frentes, incluindo as ciências agrárias. Ele explica que existem alguns processos de melhoramento de mudas, entre eles a seleção de materiais superiores, em que são escolhidas somente as plantas que apresentam os melhores resultados, para que se multipliquem com as características de interesse.

Fábio Partelli

Fábio Partelli

Pesquisador da Ufes

"Outro método é realizar o cruzamento direcionado em laboratório. Imagine realizar o cruzamento de uma planta muito produtiva com outra tolerante a doenças. O resultado será uma planta produtiva e resistente"

O pesquisador defende que a ciência pode auxiliar muito a agricultura, mas é taxativo ao dizer que as pesquisas não são a “salvação da pátria” e que é preciso também ter um conjunto de ações, como conservação do solo, técnicas adequadas de nutrição, de manejo, de irrigação etc.

Entre os principais trabalhos da Ufes sob sua coordenação, Fábio conta que, recentemente, foram registradas mudas com alto teor de cafeína.

Os pesquisadores trabalham com mudas selecionadas que apresentam esse teor elevado e os resultados desses estudos, ainda em desenvolvimento, podem ser interessantes para atletas.

Já o pesquisador do Incaper Hélcio Costa conduz uma linha de estudos para controle de pragas e doenças. Em meio ao trabalho, ele encontrou, pela primeira vez no Brasil, um fungo que acomete o inhame, o Dematophora bunodes. Ocupando uma área de mais de 3.200 hectares, com produção de cerca de 90 mil toneladas ao ano, o tubérculo está entre as quatro principais culturas hortícolas produzidas nas terras capixabas. Daí a importância das pesquisas para controle desse fungo.

“Os trabalhos estão sendo desenvolvidos na Região Serrana, como em Domingos Martins e Alfredo Chaves. A comunidade de São Bento de Urânia, em Alfredo Chaves, é a maior produtora de inhame do Espírito Santo”, disse Hélcio.

Além do tubérculo, as pesquisas coordenadas por Hélcio também buscam controlar doenças em outras culturas. Ele cita como exemplo o tomateiro, que com frequência é atacado pela doença requeima (ou mela), causada pelo oomiceto Phytophthora, e as frutas cítricas, como a mexerica ponkan, que podem ser atacadas pela doença conhecida como amarelão.

“A maioria das doenças está controlada, mas, de vez em quando, aparece uma nova praga. O segredo para o produtor é manter a vigilância da sua plantação e, diante de qualquer situação diferente, procurar informação logo”, orienta Helcio.

Fabiana Ruas, bióloga e coordenadora de Recursos Naturais do Incaper, é responsável pela pesquisa que visa a aumentar a produtividade da aroeira, cujo fruto é a pimenta-rosa.

Fabiana Ruas

Fabiana Ruas

Bióloga do Incaper

"O Espírito Santo é um dos principais produtores de pimenta-rosa do país e está nessa caminhada há mais de 30 anos. Entendemos que os produtores já têm bastante conhecimento do manejo da cultura. Agora é hora de ir além, de focar a produtividade e avançar na cadeia produtiva com tecnologia para agregar valor aos produtos"

Já estão sendo cultivadas no campo mudas de aroeira com material genético selecionado para resultados de qualidade e produtividade.

A pesquisadora conta que os frutos dessas mudas selecionadas têm uniformidade de tamanho, cor - devem atingir padrão de coloração vermelho brilhante - e não têm manchas que indicam ataques de fungos. De acordo com ela, a produtividade chega a ser quatro vezes maior.

Atualmente, segundo Fabiana, as pesquisas concentram-se em analisar o óleo da pimenta-rosa e sua usabilidade na cadeia produtiva da indústria farmacêutica, de cosméticos e de bebidas, por exemplo. 

CAFÉ

A evolução do grão capixaba

  1. A Gazeta - a4ol9ine46
    01

    Qualidade e produtividade

    :Pesquisas desenvolvidas pelo Incaper deram origem à Cultivar Conquista, que é resultado do cruzamento de 56 mudas clonais superiores. A produtividade dessa variedade é de 74 sacas por hectare, o que a torna 47% mais produtiva que a Robusta Tropical. A Cultivar Conquista também se adapta aos ambientes quentes do Espírito Santo, é mais tolerante à seca e apresenta moderada resistência à ferrugem (principal doença do café). O tamanho do grão é de médio a grande e a qualidade da bebida foi considerada superior, conforme classificação mundial, pois apresentou mais de 80 pontos.

  2. 02

    Resistência à escassez hídrica

    Entre os anos de 2014 e 2016, o Espírito Santo passou pela maior seca dos últimos 50 anos. Por isso, foi necessário desenvolver pesquisas considerando essa limitação. Pesquisadores do Incaper identificaram mudas clonais mais resistentes à seca, fizeram a seleção e agruparam esses clones para reprodução. O resultado foi a variedade Marilândia.

  3. 03

    Produtividade e escassez de mão de obra

    Por meio de análise e seleção de materiais precoces no processo de amadurecimento, foram desenvolvidas três variedades de café - Diamante, Jequitibá e Centenária - com diferentes tempos de maturação. Dessa forma, o produtor consegue colher café maduro e de qualidade em maio, junho e julho, não acumulando a colheita apenas em julho, podendo distribuir máquinas, equipamentos e mão de obra ao longo de três meses. Além disso, há melhoria no rendimento e na qualidade do café, pois todos são colhidos maduros.

INHAME

Inovação protege alimento

  1. A Gazeta - mfcx4i7a
    01

    Controle de doença

    O fungo Dematophora bunodes ocasiona à cultura a podridão da raiz, além de rápida murcha e morte da planta. Pesquisadores do Incaper descobriram de forma inédita esse fungo no inhame no Espírito Santo e estudam formas de manejo da cultura para controlar a doença. A ideia é acrescentar calcário para elevar o PH do solo, sendo possível, assim, eliminar até 90% do fungo.

TOMATE

Longe de pragas

  1. A Gazeta - nodoqi3th
    01

    Controle de doença

     A principal doença que ataca o tomateiro é conhecida como requeima ou mela, causada pelo oomiceto Phytophthora infestans. Locais onde chove muito são ideais para o aparecimento da doença, que pode acabar com a lavoura em poucos dias. Pesquisas do Incaper indicaram alternativas de manejo, como o cultivo dentro de estufas, onde é possível controlar a umidade.

PIMENTA-ROSA

Força vai além do sabor

  1. A Gazeta - df2etb7dp94
    01

    Produtividade

    Trabalhos coordenados pelo Incaper produziram mudas de aroeira de qualidade com material genético selecionado. Ainda foram adotadas, em parceria com associações de produtores, estratégias no manejo da planta, como adubação, espaçamento entre as mudas e colheita no momento correto. Essas ações deram mais uniformidade e qualidade à pimenta-rosa, o que influencia diretamente no aproveitamento da produção. O óleo da pimenta-rosa também está sendo estudado em laboratório para identificação de todo seu potencial para cadeias produtivas, como nas indústrias farmacêutica, alimentícia, entre outras.

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