A Secretaria de Estado da Educação (Sedu) tomou a única decisão cabível ao ser informada sobre o vazamento das provas da Avaliação de Monitoramento da Aprendizagem (AMA): cancelou a aplicação do exame, que seria realizado na semana passada e agora foi remarcado para as próximas segunda (13) e terça-feira (14). Mas, para que essa falha não se repita, a pasta precisará ir além.
O secretário de Estado da Educação, Vitor de Angelo, foi informado sobre o vazamento primeiramente pela reportagem de A Gazeta. Porém, antes disso, profissionais que perceberam a livre circulação das provas, em data anterior à prevista para o exame, deveriam ter comunicado de imediato à Sedu, por uma questão de responsabilidade moral e ética.
A Gazeta teve acesso, na tarde de 29 de setembro, às questões de Língua Portuguesa e Matemática que seriam aplicadas na AMA. O material estava sendo compartilhado em uma pasta virtual, no Google Drive, onde foram lançadas informações sobre diretrizes da avaliação. A reportagem compartilhou o link vazado com o secretário, que constatou que se tratavam, de fato, dos cadernos das provas a serem aplicadas nos dias 1º e 2 de outubro. Além de cancelar a aplicação da avaliação, Vitor de Angelo também determinou a investigação do caso pela corregedoria da Sedu.
É preciso que essa investigação seja rigorosa e culmine em punição exemplar aos culpados pelo vazamento. Em vídeo, o secretário disse que o trabalho da corregedoria se baseia no possível envolvimento de um servidor público, uma vez que as provas da AMA foram enviadas pela Sedu para e-mail institucional de profissionais da educação. Ou seja, alguém que deveria zelar pela seriedade do exame possivelmente não teve o cuidado necessário para protegê-lo. Algo inadmissível, dada a importância do teste para o fortalecimento da educação no Espírito Santo.
É por meio da AMA, realizada trimestralmente, que é possível aferir o nível de aprendizagem dos estudantes do 5º e 9º anos do ensino fundamental e todo o ensino médio da rede estadual. Por meio dela, é analisado o avanço dos alunos e define-se o que precisa ser melhorado no processo de ensino. É ainda uma etapa preparatória para avaliações externas, como o Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo (Paebes) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), de nível nacional.
Esse diagnóstico é fundamental, pois envolve duas disciplinas que, apesar dos esforços, ainda alcançam resultados decepcionantes. Estudo recente no Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 demonstrou que apenas um a cada 10 alunos no Espírito Santo termina o ensino médio com aprendizagem considerada adequada em Língua Portuguesa e Matemática. O levantamento constatou que o nível de aprendizagem cai de 48,3% no 5º ano do ensino fundamental para apenas 10,7% ao fim do ensino médio.
Nesse ponto, caso não fosse descoberto, o vazamento das provas do AMA causaria uma distorção nos resultados da avaliação e, consequentemente, levaria a um diagnóstico impreciso dos problemas escolares no Espírito Santo. A deficiência nos processos educacionais coloca um freio no desenvolvimento pleno do país. E provoca carência de mão de obra qualificada no mercado de trabalho, o que impede o Estado de crescer. Cria-se uma cadeia de prejuízo tanto humano quanto econômico.
Tudo isso deixa mais explícito o tamanho do problema que envolve o vazamento das provas, por mais que se tratem de avaliações internas. Há a promessa agora, por parte da Sedu, de aumentar a segurança nos procedimentos que antecedem a aplicação do exame, por meio do rastreamento da prova. É bom que assim seja. Impedir que essa falha se repita é um compromisso que deve ser assumido por todos os envolvidos na rede pública de ensino, para o bem da formação dos estudantes e, por consequência, do desenvolvimento do Estado.
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