Vazamento de provas da Sedu é uma falha que não pode se repetir

Impedir que o problema volte a acontecer é um compromisso que deve ser assumido por todos os envolvidos na rede pública de ensino do Estado

Publicado em 10/10/2025 às 01h15
Provas da Avaliação de Monitoramento da Aprendizagem (AMA) que vazaram em pasta no Google Drive
Provas da AMA estavam sendo compartilhadas em uma pasta virtual, no Google Drive. Crédito: Reprodução

Secretaria de Estado da Educação (Sedu) tomou a única decisão cabível ao ser informada sobre o vazamento das provas da Avaliação de Monitoramento da Aprendizagem (AMA): cancelou a aplicação do exame, que seria realizado na semana passada e agora foi remarcado para as próximas segunda (13) e terça-feira (14). Mas, para que essa falha não se repita, a pasta precisará ir além.

O secretário de Estado da Educação, Vitor de Angelo, foi informado sobre o vazamento primeiramente pela reportagem de A Gazeta. Porém, antes disso, profissionais que perceberam a livre circulação das provas, em data anterior à prevista para o exame, deveriam ter comunicado de imediato à Sedu, por uma questão de responsabilidade moral e ética. 

A Gazeta teve acesso, na tarde de 29 de setembro, às questões de Língua Portuguesa e Matemática que seriam aplicadas na AMA. O material estava sendo compartilhado em uma pasta virtual, no Google Drive, onde foram lançadas informações sobre diretrizes da avaliação. A reportagem compartilhou o link vazado com o secretário, que constatou que se tratavam, de fato, dos cadernos das provas a serem aplicadas nos dias 1º e 2 de outubro. Além de cancelar a aplicação da avaliação, Vitor de Angelo também determinou a investigação do caso pela corregedoria da Sedu.

É preciso que essa investigação seja rigorosa e culmine em punição exemplar aos culpados pelo vazamento. Em vídeo, o secretário disse que o trabalho da corregedoria se baseia no possível envolvimento de um servidor público, uma vez que as provas da AMA foram enviadas pela Sedu para e-mail institucional de profissionais da educação. Ou seja, alguém que deveria zelar pela seriedade do exame possivelmente não teve o cuidado necessário para protegê-lo. Algo inadmissível, dada a importância do teste para o fortalecimento da educação no Espírito Santo.

É por meio da AMA, realizada trimestralmente, que é possível aferir o nível de aprendizagem dos estudantes do 5º e 9º anos do ensino fundamental e todo o ensino médio da rede estadual. Por meio dela, é analisado o avanço dos alunos e define-se o que precisa ser melhorado no processo de ensino. É ainda uma etapa preparatória para avaliações externas, como o Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo (Paebes) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), de nível nacional.

Esse diagnóstico é fundamental, pois envolve duas disciplinas que, apesar dos esforços, ainda alcançam resultados decepcionantes. Estudo recente no Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 demonstrou que apenas um a cada 10 alunos no Espírito Santo termina o ensino médio com aprendizagem considerada adequada em Língua Portuguesa e Matemática. O levantamento constatou que o nível de aprendizagem cai de 48,3% no 5º ano do ensino fundamental para apenas 10,7% ao fim do ensino médio.

Nesse ponto, caso não fosse descoberto, o vazamento das provas do AMA causaria uma distorção nos resultados da avaliação e, consequentemente, levaria a um diagnóstico impreciso dos problemas escolares no Espírito Santo. A deficiência nos processos educacionais coloca um freio no desenvolvimento pleno do país. E provoca carência de mão de obra qualificada no mercado de trabalho, o que impede o Estado de crescer. Cria-se uma cadeia de prejuízo tanto humano quanto econômico.

Tudo isso deixa mais explícito o tamanho do problema que envolve o vazamento das provas, por mais que se tratem de avaliações internas. Há a promessa agora, por parte da Sedu, de aumentar a segurança nos procedimentos que antecedem a aplicação do exame, por meio do rastreamento da prova. É bom que assim seja. Impedir que essa falha se repita é um compromisso que deve ser assumido por todos os envolvidos na rede pública de ensino, para o bem da formação dos estudantes e, por consequência, do desenvolvimento do Estado.

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