Varíola dos macacos: testar, vacinar e controlar para não repetir erros da Covid

Trata-se de duas doenças distintas, com características epidemiológicas próprias, mas o Ministério de Saúde precisa se organizar e encarar o surto com seriedade para evitar que situação saia do controle

Publicado em 27/07/2022 às 02h00
Doença
Feridas na pele provocadas pela varíola dos macacos. Crédito: OMS/Divulgação

Não é o caso aqui de comparar a Covid-19 com a varíola dos macacos, doenças infecciosas distintas, com características epidemiológicas próprias. Nem mesmo as formas de enfrentamento são as mesmas. As definições desses protocolos, que podem sustentar políticas públicas emergenciais, ficam a cargo de infectologistas e epidemiologistas, esses sim habilitados a tomar as melhores decisões, com bases científicas. O que está em questão é como o governo federal deve reagir diante desse novo desafio de saúde pública.

No último sábado (23), a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a varíola dos macacos como uma emergência de saúde pública de alcance internacional.  Uma categoria anunciada quando há "um evento extraordinário que constitui um risco à saúde pública de outros Estados através da disseminação internacional da doença". Basicamente, conclamando os governos das nações a intensificarem o monitoramento e se prepararem para medidas de contenção do contágio.

A vacina já existe. Pelo menos no discurso, o Brasil parece estar se movimentando. O Ministério da Saúde já informou que negocia a compra da vacina Jynneos com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Contudo, o governo também já afirmou que não tem a intenção de realizar a imunização em massa: as vacinas seriam destinadas para os profissionais de saúde em um primeiro momento. O Brasil estará no bom caminho se seguir as orientações da comunidade científica internacional, sobretudo as sistematizadas pela OMS, assim que forem divulgadas. 

"É provável que a estratégia seja mais no sentido de orientar as pessoas sobre como identificar (a doença) e proceder com o isolamento dos casos suspeitos", informou um auxiliar do ministro Marcelo Queiroga em entrevista ao Valor Econômico. Informação e orientação em crises sanitárias precisam atingir a população em massa, inspirar os cuidados. O que talvez não seja tão simples de se fazer após o desgaste provocado pela pandemia de Covid. 

Os números da doença no país devem servir de alerta, já são 813 casos confirmados, de acordo com o Ministério da Saúde, o que representa um aumento de 33% em relação a última sexta-feira (22). Naquele mesmo dia, a  Secretaria da Saúde do Espírito Santo (Sesa) havia divulgado a investigação de dois novos casos suspeitos, além de um terceiro que já estava em análise. Até o momento, dois casos foram confirmados no Estado.

A varíola dos macacos tem algo que  pode ser considerado uma vantagem em relação à Covid: o contágio acontece de forma mais lenta, o que a torna mais controlável. O que não libera as autoridades sanitárias de suas responsabilidades. Organização e planejamento são cruciais neste momento, principalmente no que diz respeito à testagem para a detecção da doença para promover o isolamento imediato dos casos confirmados e o devido tratamento.

Em entrevista ao ES 2, da TV Gazeta, o subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde, Luiz Carlos Reblin, afirmou que o Laboratório Central (Lacen) já desenvolveu a capacidade técnica para realizar os testes, mas aguarda a entrega dos insumos pelo Ministério da Saúde, ainda sem data definida. A testagem é essencial para dar a dimensão exata da disseminação, evitando a subnotificação.

É preciso atenção, mas sem pânico, pois especialistas acreditam que as chances de a varíola dos macacos se tornar uma pandemia sejam pequenas, já que a capacidade de transmissão do vírus é baixa. Mas não dá para relaxar. O que precisamos que seja alta, em momentos assim, é  a capacidade de reação organizada dos gestores da saúde.

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