É curioso que a primeira acepção da palavra "descobrir" em alguns dicionários seja algo que varia em torno de "remover o que cobre algo ou alguém, deixando exposto". Pois é justamente uma reunião realizada em 22 de abril, data em que se celebra o descobrimento deste país continental, que pode revelar quem diz a verdade na crise política iniciada com o desembarque do ex-juiz Sergio Moro do governo Bolsonaro.
Um dos dois será "descoberto" com base em um encontro ministerial que foi registrado em vídeo, cuja exibição a investigadores na terça-feira (12) já começou a balançar o mundo político. Extraoficialmente, fontes que tiveram acesso ao conteúdo afirmam que, nas imagens, o presidente associou de fato a troca na superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro à defesa de seus próprios filhos, alegando uma perseguição à sua família.
É uma investigação que está em curso, portanto todas as inferências podem cair no vazio. Mas os indícios de possíveis crimes de responsabilidade se engrossam a cada novo episódio. Ainda na terça-feira, com a circulação das informações sobre o teor do vídeo, Jair Bolsonaro chegou a afirmar que a Polícia Federal nunca havia investigado ninguém de sua família.
Um dia depois, o ex-superintendente da Polícia Federal do Rio Carlos Henrique Oliveira confirmou em depoimento que o senador Flávio Bolsonaro era investigado em um inquérito em curso na superintendência fluminense.
Para piorar, os depoimentos de ministros tampouco ajudam a dissipar as suspeitas sobre as intenções políticas de Bolsonaro. Enquanto o presidente se defende dizendo que não mencionou a Polícia Federal durante a fatídica reunião, os ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, afirmaram que o presidente citou, sim, o órgão. Os depoimentos integram o inquérito do STF que investiga a acusação de interferência política na PF feita pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
O vídeo se tornou uma espécie de Caixa de Pandora do governo. No momento está entreaberta, mas já causando estragos. O ministro Celso de Mello deu 48 horas para o procurador-geral da República, Augusto Aras, manifestar-se sobre o sigilo do registro audiovisual.
Da exibição privê da terça-feira, cercada de segurança, sabe-se que a reunião de quase duas horas foi marcada por palavrões e brigas explícitas de ministros. O anúncio de distribuição de cargos para o Centrão foi vociferado, sem pudores. Aos que testemunharam, ficou a marca de uma conferência com nenhuma deferência republicana.
Uma reunião realizada em pleno 22 de abril, dia em que o Brasil pós-descobrimento completava 520 anos. Uma data que marcou 45.757 casos registrados de Covid-19 e 2.906 mortes em todo o país, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
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Ironicamente, a pandemia que aflige o planeta foi assunto meramente figurativo no evento que reuniu a cúpula governamental deste pobre país. Impropérios, conchavos e autoritarismo, ao que parece, foram os protagonistas. Vale repetir: em plena pandemia. Independentemente de quem vai se sair vencedor desse embate político, Moro ou Bolsonaro, é o Brasil que já está perdendo há tempo demais.
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