Deputados têm obrigação de se posicionarem sobre tíquete de R$ 1,8 mil

Não é este jornal que exige explicações, são os seus leitores, que usaram os perfis da Gazeta nas redes sociais para chamar a atenção dos parlamentares que votaram o jabuti em benefício próprio

Publicado em 27/04/2023 às 01h00
Ales
Plenário da Assembleia Legislativa do Espírito Santo no dia 19 de abril de 2023. Crédito: Ellen Campanharo/Ales

"Me assustou mesmo o deputado @tyagohoffmann se prestar a esse papel de fazer a inclusão dessa forma e o @marcelosantosdeputado deixar isso acontecer! ?"

Esse foi o comentário da leitora Joseane Louro na postagem da Gazeta sobre a matéria "Deputados dizem que não sabiam sobre vale-alimentação que aprovaram no ES" no Instagram. 

Os deputados Alcântaro Filho (Republicanos) e Camila Valadão (Psol) também foram provocados por outros leitores nos comentários, como pode ser visto na seção "Fala, leitor" sobre o caso.  Espontaneamente, o parlamentar Lucas Polese (PL) usou a caixa de comentários para explicar a situação.

A avalanche de comentários criticando o valor do tíquete (R$ 1,8 mil) e a artimanha usada na votação — em uma emenda que não estava prevista para o dia e foi autorizada, por unanimidade, em meio à discussão sobre a criação permanente de Proteção e Bem-Estar aos Animais na sessão do último dia 19 — é um indicativo da indignação. As manifestações de leitores, somente nas redes sociais deste jornal, passaram dos 3 mil comentários.

Mas nem mesmo a força da opinião pública conseguiu quebrar o silêncio dos deputados. Em matéria publicada por este jornal na terça-feira (25),  foi aberto espaço para os 30 parlamentares eleitos no ano passado se posicionarem livremente sobre o caso. Camila Valadão e Lucas Polese, de campos políticos antagônicos, fizeram reclamações parecidas sobre o "jabuti", quando uma proposta é colocada dentro da votação de outro projeto, e alegaram não estar cientes do tema votado.

O deputado Tyago Hoffmann (PSB), que apresentou a emenda oral do auxílio-alimentação estendido aos parlamentares, deu retorno à reportagem, mas limitou-se a enviar uma nota de sua assessoria citando o projeto geral.

Resumo da ópera: dos 30 deputados que receberam o voto dos eleitores para responderem pelos interesses da população, a quem devem satisfação total sobre os seus atos, apenas três se dispuseram a falar.

Os eleitores ainda esperam que cada um dos deputados abaixo se manifeste. Lembrando que todos foram procurados pela reportagem de A Gazeta:

  • Adilson Espindula (PDT); 
  • Alcântaro (Republicanos); 
  • Alexandre Xambinho (PSC); 
  • Allan Ferreira (Podemos); 
  • Bispo Alves (Republicanos); 
  • Callegari (PL); 
  • Capitão Assumção (PL); 
  • Coronel Weliton (PTB); 
  • Dary Pagung (PSB); 
  • Delegado Danilo Bahiense (PL);
  • Denninho Silva (União Brasil); 
  • Dr. Bruno Resende (União Brasil); 
  • Fabrício Gandini (Cidadania); 
  • Ferraço (PP); 
  • Hudson Leal (Republicanos); 
  • Iriny Lopes (PT); 
  • Janete De Sá (PSB); 
  • João Coser (PT); 
  • Jose Esmeraldo (PDT); 
  • Lucas Scaramussa (Podemos); 
  • Marcelo Santos (Podemos); 
  • Mazinho Dos Anjos (PSDB); 
  • Pablo Muribeca (Patriota)
  • Raquel Lessa (PP);
  •  Sergio Meneguelli (Republicanos); 
  • Vandinho Leite (PSDB); 
  • Zé Preto (PL)

Alguns deputados podem afirmar que usaram as próprias redes sociais para darem esse retorno à sociedade. Mas o perfil pessoal nas redes sociais é um ambiente confortável, sem contestação. Já a imprensa continua sendo um canal no qual o contexto faz a diferença, no qual as contradições são apontadas, e que faz as cobranças dos leitores. Ignorar os questionamentos é ignorar a população.

O cidadão capixaba, se pudesse, cancelaria essa votação. Há um cansaço geral de condutas patrimonialistas que nunca são abandonadas por quem chega ao poder. Mas esse episódio específico escancarou uma prática legislativa que, se supostamente confunde até um deputado, quem dirá uma pessoa comum. Emendas estranhas aos projetos não deveriam ser válidas, o processo legislativo precisa ser moralizado. E simplificado. Afinal, sempre há quem se beneficie da confusão e daquilo que escapa aos olhos e ouvidos.

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