Bebês reborn: leis estão sendo criadas para problemas que não existem

Parlamentares de todo o país estão perdendo tempo e energia com um tema irrelevante, em demandas que estão a léguas de distância das prioridades da população, só porque as redes sociais não param de falar disso

Publicado em 20/05/2025 às 01h00
Bebê reborn (usar só em Opinião da Gazeta)
Bebê reborn . Crédito: Pixabay

Fica até difícil de entender e de explicar esta verdadeira epidemia de projetos de lei em todo o país para dar conta de demandas relacionadas aos chamados bebês reborn. Um assunto que viralizou, estourou a bolha e virou tema de conversa: todo mundo tem seu pitaco a dar sobre os adultos — sobretudo mulheres — que, como mostram vídeos do Instagram e do TikTok, tratariam esses bonecos hiper-realistas como filhos e filhas.

Até que uma jovem de Minas Gerais viralizou, no fim de abril, ao levar seu bebê reborn ao hospital. O que pareceu um absurdo logo teve uma explicação:  tratava-se de uma influenciadora dessa comunidade de bebês reborn, chamada Yasmim Becker,  com mais de 100 mil seguidores, que simulou a situação como uma brincadeira para o seu público. Mas a repercussão tem sido levada a sério, a ponto de mobilizar vereadores e deputados estaduais e federais, inclusive no Espírito Santo, na apresentação de projetos de lei para enfrentar  problemas que na prática não existem.

Na semana passada, na esteira de propostas similares apresentadas pelo país, inclusive na Câmara dos Deputados, um projeto de lei foi protocolado na Câmara de Vitória para proibir o atendimento médico a esses bonecos, com a justificativa  de que "já existem casos relatados na internet de médicos que estão sofrendo agressões por se recusarem a atender 'bebês reborn' levados por estas pessoas aos seus consultórios". Ao se buscar esses casos, não há notícias publicadas por jornais sérios. 

É o bom e velho "estão dizendo por aí", mas não há um registro confiável de que donos de bebê reborn estejam reivindicando atendimento médico ou qualquer outro benefício ou direito concedido aos bebês reais. Mas o frisson das redes sociais é o suficiente para mobilizar os parlamentares, na produção em série de projetos que não se sustentam. 

Nesta segunda-feira (19), uma outra proposição apresentada na Câmara de Vitória quer proibir uso de recursos públicos em eventos, campanhas ou manifestações públicas que se relacionem com bebês reborn. Na Assembleia Legislativa, outro projeto sobre o tema estabelece encaminhamento a serviços de saúde mental de quem tentar atendimento de saúde ou de outros serviços públicos aos tais bonecos ou a outros "objetos inanimados similares".  Mais uma vez, fica a dúvida: há casos consistentes para a criação dessas leis?

Esse efeito dominó nos parlamentos, surfando na onda da polêmica do momento, acaba sendo um sintoma da baixa qualidade propositiva dos legisladores. O apelo midiático fala mais alto do que as urgências do país, que não são poucas. Tempo, energia e recursos públicos são perdidos com a irrelevância, em demandas que estão a léguas das prioridades da população, só porque as redes sociais estão falando nisso, enquanto o Brasil espera que seus parlamentares enfrentem seus problemas reais.

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