Foram 15 anos para que as 917 casas do Residencial Mata do Cacau, em Linhares, começassem a ser entregues pelo governo federal. Como força de expressão, dá para dizer que demorou uma vida para que esse empreendimento do Minha Casa Minha Vida começasse a cumprir o seu papel de dar um teto a tantas famílias. Habitação é uma urgência, não pode esperar.
E, além do drama pessoal dessa demora — as obras começaram no governo Lula 2 em 2010 e só foram terminadas no Lula 3, com outros três presidentes nesse intervalo —, essas casas, com padrão simples e sem grandes exigências de engenharia e arquitetura, acabam simbolizando a ineficiência estatal no cumprimento de seus deveres.
O que fica ainda mais explícito nos prejuízos. O custo inicial do empreendimento, em 2010, foi de R$ 40 milhões. Agora, serão entregues por R$ 97,7 milhões, segundo o Ministério das Cidades. A previsão de entrega inicial era 2012, mas os imóveis não tinham nem água encanada nem esgoto.
A deterioração da obra foi inevitável nesse tempo todo. Os imóveis sofreram com inundações do Rio Doce em 2012 e 2013. Somente em 2018, as obras de diques para evitar esses alagamentos foram concluídas. A promessa, então, era de que as casas seriam entregues naquele ano. Nada aconteceu.
Em 2021, as casas populares foram tomadas pelo mato. No ano seguinte, antes de as obras serem finalmente retomadas, um incêndio em parte dessa vegetação danificou as paredes externas dos imóveis.
Tantas intempéries expõem uma trágica situação brasileira, porque mesmo que o país invista em programas de moradia, o planejamento e a execução ainda são precários demais. Também houve recorrentes atrasos no repasse de verbas. É um sonho para famílias de baixa renda — no caso do Residencial Mata do Cacau, aquelas que recebem de zero até três salários mínimos, inscritas no CadÚnico — que acabou se transformando em um pesadelo.
Moradia é dignidade. Com a entrega das casas, espera-se que as famílias beneficiadas tenham um destino mais digno. E, principalmente, que tanto desperdício de dinheiro público com obras atrasadas e mal planejadas deixe de ser um retrato do Brasil que não dá certo.
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