Publicado em 7 de janeiro de 2021 às 08:35
- Atualizado Data inválida
Embora o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha afirmado que o Brasil quebrou, o governo adotou medidas ao longo da pandemia que ampliam gastos públicos e provocam perdas de arrecadação, inclusive para os próximos anos. As ações são voltadas especialmente a setores simpáticos ao presidente. >
Ao mesmo tempo que o governo concede benesses a áreas mais ligadas ao bolsonarismo, a crise fiscal do país vem sendo usada como argumento para barrar medidas como o auxílio emergencial e até mesmo promessas feitas pelo presidente.>
Em maio, já com o estado de calamidade decretado, Bolsonaro editou uma medida provisória para garantir aumento salarial a policiais civis, militares e bombeiros do Distrito Federal, cujos salários são bancados com recursos do Orçamento da União. O custo anual é de R$ 505 milhões, que também se estende para os próximos anos por ser um gasto obrigatório e permanente.>
Na mesma semana de maio, o presidente também autorizou a convocação de novos agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Para isso, ele teve que adiar a sanção do pacote de socorro financeiro a estados e municípios na pandemia, que também impõe fortes restrições ao aumento de despesa com servidores.>
>
A expectativa era que, com o decreto de Bolsonaro, fossem nomeados 614 agentes aprovados num concurso da PRF de 2018. O salário inicial é de R$ 9.800.>
Em agosto, com a pandemia aprofundada, o governo enviou ao Congresso o Orçamento de 2021 com ampliação de verbas para o Ministério da Defesa para R$ 110 bilhões. No ano anterior, o projeto previa R$ 106 bilhões para a pasta.>
Em outubro, o presidente anunciou um corte de imposto sobre videogames. A tarifa de importação para esses produtos já havia sofrido redução no ano anterior. A nova iniciativa baixou a alíquota de 32% para 22% para partes acessórios de consoles e de 16% para 6% no caso de máquinas de jogos com tela incorporada. O impacto é estimado em R$ 36 milhões neste ano e R$ 39 milhões em 2022.>
No mês seguinte, foi a vez de uma redução das tarifas de importação de brinquedos. A medida foi criticada por empresários do setor, que temem uma perda de competitividade do Brasil em relação à China.>
Em dezembro, o presidente anunciou que o governo decidiu zerar a tarifa de importação sobre armas de fogo, como revólveres e pistolas.>
Na ocasião, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que a medida mostra a "falta de prioridade e de sensibilidade" do governo, que é cobrado para apresentar um plano efetivo de vacinação contra a pandemia.>
Nesta terça-feira (5), Bolsonaro, ao falar sobre a falta de espaço no Orçamento público para realizar a anunciada ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR), declarou: "o Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer nada". Segundo ele, esse foi um efeito da crise da Covid-19.>
Corrigir a tabela do IR representaria queda de arrecadação, pois um número maior de trabalhadores se enquadraria nas faixas salariais em que incidem menores alíquotas ou no patamar com isenção.>
Apesar do aperto fiscal, Bolsonaro, portanto, tem adotado medidas que atendem a demandas de sua base de apoio político, como profissionais de segurança pública.>
O Ministério da Economia não havia se pronunciado até a conclusão deste texto.>
Membros da equipe econômica têm minimizado essas iniciativas implementadas no ano passado. O argumento é que as ações têm impacto relativamente baixo e não podem ser comparadas a propostas de valor elevado, como o auxílio emergencial.>
Depois que Bolsonaro zerou o imposto de importação sobre armas, por exemplo, o ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou que o custo anual da medida, de R$ 200 milhões, é baixo e não viola as ações da pasta.>
O próprio ministro, no entanto, reconheceu que a isenção concedida em meio à pandemia gerou ruídos.>
"O momento dá interpretações infelizes, sim. Você fala 'pô, na hora em que estão precisando de vacina, você está facilitando arma'", disse.>
Diversas propostas cobradas pelo Congresso e especialistas, além de medidas prometidas pelo governo, estão travadas, sob a justificativa de que a situação fiscal não permite implementá-las.>
Estão na gaveta sob o argumento de falta de recursos o reforço de programas sociais, redução de encargos trabalhistas para aliviar custos a empresários, corte no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da linha branca, como geladeira e máquina de lavar roupa, e outras medidas, como a mudança na tabela do Imposto de Renda.>
Desde o início do governo, a equipe de Bolsonaro quer reformular programas como o Bolsa Família e o Pronatec (de ensino técnico), cujas marcas são atreladas ao PT. Mas, sem ter como ampliar a verba dessas ações, os ministérios ainda patinam nessas discussões.>
Outra promessa é a redução de tributos para empresários. A principal medida - diminuição dos encargos sobre contratação de mão de obra-- só será viabilizada, segundo integrantes do Ministério da Economia, se houver compensação. Ou seja, uma outra forma de arrecadação para manter a receita dos cofres públicos, que hoje origina da tributação sobre a folha de pagamentos.>
Após dizer que o Brasil está quebrado, o presidente Jair Bolsonaro, em conversa com apoiadores na manhã desta quarta (6), afirmou que o país está "uma maravilha".>
"Confusão ontem, você viu? Que eu falei que o Brasil estava quebrado. Não, o Brasil está bem, está uma maravilha. A imprensa sem-vergonha, essa imprensa sem-vergonha faz uma onda terrível aí. Para a imprensa, bom estava Lula, Dilma, gastava R$ 3 bilhões por ano para eles", disse Bolsonaro na porta do Palácio da Alvorada.>
O vídeo com a declaração foi publicado por um canal simpático ao presidente.>
Na terça-feira (5), ele disse a apoiadores pela manhã que o Brasil está quebrado e que ele não consegue fazer nada. "Chefe, o Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta