Publicado em 2 de janeiro de 2021 às 14:05
- Atualizado há 5 anos
O presidente da República, Jair Bolsonaro, sancionou a lei que lança as bases para a formulação do Orçamento de 2021 com vetos que devem desagradar ao Congresso Nacional, num momento em que o Palácio do Planalto busca consolidar sua base de apoio.>
Em uma só canetada, Bolsonaro rejeitou a tentativa dos parlamentares de controlar maior volume de recursos e de permitir o uso do Orçamento do ano que vem para bancar despesas de 2022 em diante. O presidente também vetou a proposta de blindar de eventuais bloqueios gastos para combater a covid-19 e adquirir vacinas, em caso de frustração de receitas. >
As mudanças foram incorporadas à Lei de Diretrizes Orçamentários (LDO) pelos congressistas em meio às "votações do fim do mundo", que ocorreram de forma acelerada no apagar das luzes de 2020. A lei precisava ser aprovada ainda no ano passado para evitar um apagão completo nos gastos do governo. O texto sancionado, com os vetos polêmicos, foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União já no fim do dia 31 de dezembro.>
A LDO estabelece como meta fiscal uma possibilidade de déficit de R$ 247,1 bilhões para este ano. O resultado é obtido a partir da diferença entre despesas e receitas. Caso a arrecadação seja menor que o esperado, a equipe econômica precisa bloquear gastos para evitar estouro da meta.>
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Em antecipação, o Congresso havia incluído no texto proibições ao contingenciamento de 59 ações, incluindo os gastos de combate à pandemia, para produção ou aquisição de vacinas contra covid-19, de prevenção e combate ao desmatamento e às queimadas, para demarcação de terras indígenas e de enfrentamento à violência contra a mulher, entre outros.>
Da lista proposta pelo Congresso, 58 foram vetados, e apenas despesas destinadas à segurança pública continuam protegidas. Por iniciativa do governo, gastos militares, com programas de desenvolvimento de submarinos ou aquisição de cargueiros por exemplo, ficarão à prova de tesouradas.>
Esses vetos foram propostos pelo Ministério da Economia sob o argumento de que proibir os bloqueios reduz o espaço das despesas discricionárias (não obrigatórias), que incluem custeio e investimentos e já estão restritas a R$ 83,9 bilhões (perto do mínimo essencial ao funcionamento da máquina pública), e deixa a gestão do Orçamento bastante engessada. Os vetos ainda serão apreciados pelo Congresso, que pode derrubá-los. >
Lideranças governistas acreditam que há "boas chances" de manter o texto como sancionado pelo presidente.
Menos poder. Bolsonaro também vetou o dispositivo que criava as emendas do relator-geral do Orçamento e de comissão, uma manobra para ampliar o poder dos parlamentares na distribuição dos recursos do Orçamento, permitindo a escolha de obras ou serviços que contemplassem seus redutos eleitorais.
>Os congressistas repetiram estratégia adotada na LDO de 2020, quando o mesmo mecanismo foi incorporado e permitiu ao relator-geral do Orçamento indicar, sozinho, R$ 30 bilhões em recursos. Sem o veto, esse poder ficaria com o senador Marcio Bittar (MDB-AC), relator não só do Orçamento, mas também das Propostas de Emenda à Constituição (PEC) emergencial e do pacto federativo, reformas que são aposta do governo para conter gastos.>
Bolsonaro já havia vetado a criação das emendas de relator e comissão no ano passado, mas, com a pandemia do novo coronavírus, a polêmica arrefeceu. Boa parte dos recursos acabou sendo redirecionada ao combate à covid-19. Agora, o embate deve voltar a ganhar força.>
Para a Economia, a medida ampliaria a rigidez já elevada do Orçamento, impedindo o remanejamento de recursos para áreas mais necessitadas. "Frise-se que os dispositivos em comento investem contra o princípio da impessoalidade da administração pública, ao fomentarem cunho personalístico nas indicações e priorizações das programações decorrentes de emendas", justificou a pasta.>
Bolsonaro ainda rejeitou o trecho da LDO que abria brechas para órgãos usarem o Orçamento de 2021 para bancar despesas de anos seguintes. O dispositivo, como revelou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), foi inserido numa articulação direta do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) junto a parlamentares e em contrariedade com a equipe econômica.>
O objetivo era tornar perene a exceção autorizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para que gastos previstos no Orçamento de 2020 sejam executados apenas em 2021. A decisão gerou controvérsia, pois técnicos avaliam que há quebra do princípio da anualidade orçamentária (prever no Orçamento de cada ano o que será executado naquele período).>
Na prática, o Congresso autorizou órgãos a se comprometerem com gastos a serem executados apenas em 2022, ano eleitoral, ou ainda no período seguinte. A permanência desse trecho havia sido celebrada no MDR, que vê no instrumento uma forma de garantir recursos para suas obras.>
Técnicos da área econômica, porém, veem nesse tipo de manobra uma forma de criar mais dificuldades para o teto de gastos, que limita o avanço das despesas à inflação, e reforçar o discurso de que uma flexibilização será necessária. Isso porque as obrigações acumuladas competem dentro do teto com as despesas previstas para o próprio ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.>
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