Você sabia que o seu patrimônio pode ser bloqueado em outro país mesmo sem processo judicial prévio? Essa possibilidade parece distante, mas é exatamente o que a Global Magnitsky Act, lei americana de 2016, permite. Criada para punir indivíduos e empresas envolvidos em violações graves de direitos humanos e corrupção, ela autoriza os EUA a bloquear bens de estrangeiros em qualquer lugar do mundo, desde que haja conexão com o sistema financeiro americano.
Além do caráter jurídico, a Global Magnitsky Act também é vista como um poderoso instrumento de política global. Ao permitir bloqueios de ativos e restrições de viagens sem a necessidade de um processo judicial prévio, a lei fortalece a capacidade dos EUA de exercer pressão diplomática de acordo com seus interesses. Em 2017, por exemplo, sanções impostas contra empresários russos próximos ao Kremlin foram amplamente interpretadas como uma resposta política às tensões geopolíticas com a Rússia. Em anos seguintes, líderes e autoridades de países da África e da Ásia também foram alvos de sanções, em muitos casos em paralelo a disputas diplomáticas com Washington.
Críticos argumentam que a lei, embora tenha um propósito legítimo, pode ser usada de forma seletiva, atuando como uma arma política para influenciar governos, punir adversários ou reforçar posicionamentos estratégicos em negociações internacionais. Essa percepção reforça a noção de que decisões unilaterais de Estados podem gerar impactos econômicos relevantes sobre indivíduos e empresas.
E esse alcance não está restrito aos Estados Unidos. O Reino Unido, por meio do Sanctions and Anti-Money Laundering Act de 2018, a União Europeia, através de seus regulamentos de sanções financeiras e comerciais, e o Canadá, com a sua própria “Lei Magnitsky” (Justice for Victims of Corrupt Foreign Officials Act), possuem mecanismos semelhantes. Em todos esses casos, governos podem determinar unilateralmente o bloqueio de contas bancárias, ações, imóveis, participações societárias e outros ativos vinculados à sua jurisdição.
Essas medidas costumam ter efeito imediato e, na maioria das vezes, são aplicadas sem qualquer aviso prévio ao atingido. Isso significa que, de um dia para o outro, indivíduos e empresas podem perder o acesso aos seus recursos. Para quem concentra todo o patrimônio em um único país ou mercado, as consequências podem ser devastadoras, já que não há margem de manobra para proteger parte do capital.
Se essas leis existem para proteger valores universais, o que elas ensinam ao investidor comum? Que concentrar todo o seu patrimônio em um único país é mais arriscado do que parece. Quando todos os recursos estão vinculados a uma só moeda, banco ou mercado, há mais vulnerabilidade às crises econômicas, mudanças regulatórias e decisões governamentais que fogem ao controle de pessoas comuns. Imagine, por exemplo, ter todo o seu patrimônio atrelado a um único banco nacional e, de repente, este banco enfrentar dificuldades políticas ou econômicas: sua liberdade de movimentar o dinheiro poderia ser severamente limitada.
É aí que entra a diversificação internacional. Muito mais do que ampliar possibilidades de retorno — afinal, diferentes economias podem estar em ciclos distintos de crescimento —, ela é um escudo de proteção patrimonial. Ter ativos distribuídos em países e moedas diferentes reduz o impacto de qualquer evento isolado, como bloqueios, restrições ou instabilidades localizadas. Esse tipo de estratégia protege não apenas contra riscos políticos, mas também contra variações cambiais extremas e crises financeiras regionais.
Diversificar não exige grandes fortunas nem complexidade. Você pode começar de forma simples, aplicando em fundos internacionais que investem em empresas globais, comprando ETFs listados no exterior com exposição a setores inovadores, mantendo parte do patrimônio em moedas fortes como dólar, euro ou franco suíço e abrindo uma conta em corretoras globais que oferecem acesso a mercados fora do Brasil.
Além da proteção, a diversificação internacional traz acesso a setores e empresas que não estão disponíveis no Brasil. Quer investir em tecnologia de ponta, empresas de saúde globais ou setores inovadores como inteligência artificial? É muito mais fácil fazer isso com uma carteira global. Além disso, ativos internacionais podem atuar como um amortecedor natural em momentos de volatilidade do mercado local, ajudando a suavizar perdas em tempos de incerteza.
O ponto não é evitar mercados relevantes como os EUA, mas equilibrar a exposição nacional e internacional. Quanto mais global for a carteira, menor a chance de que uma decisão governamental isolada afete de forma drástica o futuro financeiro.
Em um mundo cada vez mais interligado e sujeito a disputas geopolíticas, leis como a Global Magnitsky Act mostram que a segurança dos investimentos vai além de rentabilidade. Diversificar é a chave para não ficar refém de decisões cujo controle está muito além do seu próprio dinheiro.
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