É assessor de investimentos da Valor/XP Investimentos. É mestre em Direito e professor de pós-graduação.

Empoderamento feminino vai muito além do bolso

Mulher que se empodera financeiramente abre espaço para outras fazerem o mesmo, num ciclo cumulativo de capital e também de libertação de conceitos retrógrados

Vitória
Publicado em 05/06/2025 às 10h42
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Crédito: Freepik

Por muito tempo, disseram às mulheres que dinheiro era coisa de homem. Talvez não com essas palavras, mas ao restringi-las à rotina doméstica, oferecer salários menores e deixá-las em cargos secundários no mercado de trabalho. Indiretamente, construiu-se a ideia de que decisões financeiras mais relevantes não lhes cabiam. Investir? Perigoso demais. O “poder” de construir patrimônio era responsabilidade apenas dos homens, tratados como os “centros financeiros” das famílias ou, quem sabe, do universo.

Felizmente, esse cenário vem mudando. As mulheres conquistam cada vez mais espaço, liberdade e poder de decisão sobre suas carreiras, famílias e estilo de vida. Contudo, mesmo com avanços no mercado de trabalho, o mundo das finanças ainda é dominado por homens.

Segundo estatística da B3, o número de mulheres que investem cresceu nos últimos anos. Mas elas ainda representam apenas 25% dos investidores pessoas físicas na Bolsa. No Tesouro Direto, a presença feminina também aumenta, mas a distância ainda é significativa.

Na economia real, as mulheres ganham protagonismo. Segundo pesquisa do Sebrae, o número de negócios comandados por mulheres cresce, assim como seus obstáculos. Um deles, por exemplo, é o acesso ao crédito, que ainda é mais difícil para elas. Surpreendentemente, as taxas de juros são mais altas, mesmo sendo mais adimplentes que os homens.

Mas, se elas ganham tanto destaque no campo profissional, por que ainda não dominam o “lugar de fala” nas finanças e nos investimentos? Seria esse o último reduto tipicamente masculino?

Uma possível resposta está nas exigências quase sobrenaturais que ainda recaem sobre elas (jornadas duplas ou triplas, que acumulam o trabalho com as responsabilidades familiares, sociais e domésticas). Soma-se a esse quadro a cultura misógina e latente que insiste em impor à mulher salários incompatíveis com seus esforços e menores que os dos homens. Realidade dura e vida financeira prejudicada que resultam em menos tempo e dinheiro livres para pensar em investir.

Diante dessa realidade desafiadora e em transformação, como acelerar o empoderamento feminino através do bolso?

Às mulheres nunca faltou coragem para assumir responsabilidades. E é justamente por isso que cuidar do próprio dinheiro é mais que uma questão de gênero. É liberdade e protagonismo para que elas continuem a tomar suas próprias decisões.

Incentivar o pleno domínio sobre suas finanças – o que entra, o que sai e o que se pode fazer para render mais – pode implicar numa mudança radical sobre como a própria mulher se vê e também como os outros a enxergam.

E não é apenas uma simples questão de cifras ou como ganhar mais. O impacto é mais profundo: a educação financeira feminina dá à mulher a liberdade de sair de onde não se quer estar. Isso vale para um emprego ruim, um relacionamento abusivo ou para alçar maiores voos e horizontes. É poder que cabe na bolsa, mas vai muito além dela.

As mulheres que já se sentem seguras no universo financeiro podem ser inspiração para outras e ter um papel duplo neste protagonismo. Não precisam ser especialistas, mas apenas dispostas a apoiar quem está começando a fazer o básico, como controlar gastos que não fazem mais sentido e começar uma reserva de emergência com naturalidade.

Gestos simples como esses podem ser o ponto de partida de uma transformação pessoal, mas que viram referências para a família, as amigas e o círculo social. Não é de se duvidar que isso poderá engajar outras a entrarem nessa mesma tendência.

O resultado? Você já pode imaginar. Uma mulher que se empodera financeiramente abre espaço para outras fazerem o mesmo, num ciclo cumulativo não apenas de capital, mas também de libertação de conceitos retrógrados que ainda afetam gerações e famílias. No fim, o que parecia um ato individual — cuidar do próprio dinheiro — movimenta estruturas sociais em direção à igualdade. E confirma, mais uma vez, que as mulheres podem ser o que quiserem. Inclusive, protagonistas de sua vida financeira.

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