É assessor de investimentos da Valor/XP Investimentos. É mestre em Direito e professor de pós-graduação.

Sobre a ganância: nos investimentos, saiba dizer não

Veja alguns comportamentos que podem levar quem investe a cair em armadilhas e sair do controle, mas é possível trilhar caminhos para estabelecer limites e saber quando parar

Warren Buffett, maior investidor de todos os tempos e que acaba de anunciar sua aposentadoria aos 94 anos, considera que saber dizer não é uma característica que distingue as pessoas muito bem-sucedidas das apenas bem-sucedidas. Para ele, o primeiro grupo, os muito bem-sucedidos, dizem não para quase tudo, focando no que é o mais importante e necessário apenas.

Seja em relacionamentos pessoais, seja em profissionais, saber dizer não é considerada uma habilidade essencial para a saúde e equilíbrio emocional, capaz de evitar decisões equivocadas, cujos desdobramentos podem permanecer por muito mais tempo do que se imagina. Sendo assim, se dizer não pode ser o passaporte para o sucesso pessoal, o que dizer quando transportado para o plano das finanças?

Bolsa de Valores, investimentos
O desejo irrefreável e desmedido que a ganaância desencadeia influencia na tomada de decisões do investidor. Crédito: Reprodução

Investir é uma jornada contínua de tomada de decisões. Do início ao fim, compete ao investidor fazer escolhas diversas, entre as quais, quando dizer não! É um exercício de autocontrole que, quando bem executado, previne o ímpeto de querer sempre mais, mais rápido e a qualquer custo. Em outras palavras, saber dizer não é dominar a ganância.

Ela – a ganância – está sempre ao lado de quem investe, cabendo a cada um definir seu tamanho, que pode ser mesmo infinito. Se o desejo irrefreável e desmedido que ela desencadeia é ruim, problema ainda maior é o modo como ela influencia na tomada de decisões do investidor. Investir em algo desconhecido, apenas por promessas de ganhos altos e fáceis; desconsiderar solenemente os riscos; resistir a não realizar lucros, sempre esperando ganhar mais e mais. Tais comportamentos são sinais claros de que a ganância falou mais alto que o poder de dizer não ao que saiu do controle.

Como outros sentimentos, a ganância é influenciada pelo modo como o investidor se relaciona com outras pessoas. O medo de ficar de fora da oportunidade de que todos estão falando caracteriza o FOMO (fear of missing out), tornando o ato de investir uma decisão destituída de fundamento e racionalidade, embalada apenas pelo “efeito manada” que só gera prejuízo. Se ainda estiver acompanhada de alguma paixão financeira, as consequências poderão ser ainda mais devastadoras.

Tal como se trata um vício, o caminho para dominar a ganância é estabelecer limites e quando parar, ou seja, saber dizer não. E isso não equivale a se contentar com ganhos irrisórios ou apenas investir em estratégias conservadoras. Saber dizer não nos investimentos importa em adotar uma postura compatível com o próprio perfil, igualmente alinhada com os objetivos, experiências e conhecimentos que possui de mercado, evitando-se agir por impulso, sem estratégia definida para o antes, o durante e o depois.

Definir as regras do investimento antes que ele aconteça, como qual o retorno esperado e o que fazer se algo não der certo no meio do caminho, é uma preparação para o “não” que precisará ser dito em algum momento. Fugir de decisões financeiras fundadas em manchetes de jornal ou redes sociais também é outra regra básica.

Por fim, para se proteger da armadilha da própria ganância, diga não às promessas de ganho fácil e garantido e aprenda, de uma vez por todas, que não se deve esticar a sorte. Como se diz, mais vale um passarinho no bolso do que dois voando. Se já chegou a determinado patamar de lucro, realize-o e o coloque no bolso antes que seja tarde.

Esses cuidados cotidianos da vida do investidor podem parecer metódicos e enfadonhos, mas exigem coragem, paciência e propósitos bem definidos. Quando praticados, resultam na maturidade financeira capaz de separar, tal como disse Buffett, os bem-sucedidos daqueles que sucumbiram pelo caminho. Escolha em qual lado deseja estar.

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