É assessor de investimentos da Valor/XP Investimentos. É mestre em Direito e professor de pós-graduação.

Hora de investir no exterior? Entenda como, as vantagens e os riscos

A desvalorização do real e a economia global em alerta, investir fora do Brasil deixou de ser exclusividade dos grandes investidores e passou a ser uma estratégia de proteção e diversificação ao alcance de todos

A grande variação no preço do dólar nas últimas semanas, decorrente da guerra tarifária que tem dominado a cena econômica global, vem chamando atenção daqueles que buscam diversificar seus investimentos fora do Brasil. Se outrora o acesso a mercados externos era uma exclusividade dos grandes investidores, o avanço das plataformas digitais e a globalização dos mercados financeiros permitiram que “pessoas comuns” pudessem investir no exterior.

Mas por que procurar mercados externos se o Brasil é considerado o paraíso dos juros altos no mundo? De fato, a Selic, fixada atualmente em 14,25% ao ano, é um convite para manter todo o patrimônio no país. Mas o que dizer de uma moeda que já se desvalorizou 87% desde que foi lançada em 1994? Na prática, uma nota de R$ 5 valeria o mesmo que 64 centavos em 1994, em virtude da inflação acumulada desde então, de quase 700%. Então, de início, investir no exterior significa amenizar esse movimento de queda no poder de compra da moeda local.

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Investimento no exterior é uma forma de diversificar carteira e proteger o patrimônio. Crédito: Freepik

Outro fator a se considerar é a diluição de riscos. Ao concentrar seus investimentos no Brasil, há uma dependência integral do desempenho da economia local, com suas desvantagens setoriais e turbulência (risco político, fiscal e outros).

Ao mesmo tempo, ainda que não se invista no exterior, os efeitos do movimento de mercados externos são sentidos diretamente no dia a dia da população, pela infinidade de produtos, insumos e matérias-primas que têm seus preços cotados em dólar, como o trigo, petróleo, eletrônicos, aço, etc., fazendo com que todo brasileiro esteja exposto à variação cambial (em momentos de desvalorização do real frente ao dólar, são necessários mais reais para comprar os mesmos produtos de antes).

E como investir em mercados externos? Basicamente de modo indireto ou direto, cada um com suas vantagens e riscos associados.

O investimento indireto no exterior se dá sem a remessa de dinheiro para outro país. Investe-se no Brasil, mas com exposição ao mercado externo, através de ativos que refletem o desempenho de ativos de referência no exterior, tais como fundos de investimento internacionais, fundos cambiais, ETFs, cupons de ações estrangeiras negociadas na bolsa brasileira (BDRs), entre outros.

Pelo fato de o dinheiro permanecer em “solo brasileiro” nesses casos, as leis brasileiras regem as relações jurídicas decorrentes desses investimentos. Regras para movimentação, impostos e demais regulações são definidos por autoridades brasileiras e uma questão judicial surgida nesSes investimentos, por exemplo, seria resolvida pela Justiça brasileira.

Já os investimentos feitos diretamente no exterior implicam na remessa de dinheiro para o país de destino, com uma operação de câmbio de moedas, por exemplo, para transformar reais em dólares para serem investidos nos Estados Unidos. Nessa hipótese, há a necessidade de abertura de uma conta internacional, que será regida por leis do país onde estiver sediada, inclusive no que se refere a eventuais questões judiciais. Parece complexo e burocrático, mas boa parte dos bancos brasileiros e corretoras possui o serviço de conta internacional para pessoas físicas, sem grandes complicações.

Uma vez remetido o numerário ao exterior, caberá ao investidor escolher em quais ativos investir, o que dependerá do perfil e objetivos de cada um. Exceto pela gama muito maior de ativos, a experiência é similar à gestão de investimentos que já se faz em uma conta no Brasil, porém investindo-se diretamente com a moeda estrangeira ao invés de reais como se faz no Brasil. De títulos da dívida pública (treasuries nos EUA, ou títulos soberanos na Europa) a cryptomoedas, passando por bonds, ações, fundos variados, derivativos ou imóveis, não faltam opções para todos os bolsos e gostos.

Um cuidado a ser tomado, porém, é observar os detalhes da legislação no país onde for aportar o dinheiro, que vão desde a regulação básica sobre o ativo que deseja comprar (um título de renda fixa ou um fundo, por exemplo), até questões jurídicas mais complexas, como tributação e regras de sucessão post mortem.

Ainda que sujeito à regulação legal do país estrangeiro, o fato do investimento internacional gerar ganhos de capital em moeda estrangeira também tem relevância para fins de apuração do imposto de renda a ser recolhido no Brasil, o que é detalhado na Lei 14.754/2023 e na Instrução Normativa RFB 2.180/2024.

Mas, com o dólar acima de R$ 5, ainda compensa esse tipo de investimento? Talvez a trava emocional mais difícil de ser quebrada pelo investidor que ainda não aportou dinheiro no exterior seja exatamente essa, que está relacionada ao custo da moeda estrangeira necessária ao investimento. Sabidamente, o real se desvalorizou sobremaneira desde seu lançamento em 1994 frente a moedas de referência como o dólar, euro ou libra.

Porém, o ponto fulcral a se considerar é que, ao se buscar um investimento no exterior, a tese de investimento deve estar atrelada não exatamente na moeda adjacente (dólar, por exemplo), mas ao ativo onde se pretende investir (renda fixa, ações ou imóveis), pois a valorização destes ativos se dará na moeda “de destino” (por exemplo, o investimento terá um retorno de um percentual, em dólares, por ano). O fator câmbio, por ser imprevisível (quanto valerá 1 dólar daqui a 5 anos?), acaba sendo secundário, uma vez que os objetivos de proteção patrimonial, diversificação e diluição do risco Brasil continuarão valendo ao longo do tempo, independentemente da volatilidade da nossa moeda em uma ou outra ocasião.

E se o receio de investir ainda reside nas mudanças no xadrez político e econômico global que o mundo acompanha com certa apreensão, vale lembrar o conselho de Warren Buffett, de ser prudente quando os outros forem vorazes e ser voraz quando os outros forem prudentes. Ele deve saber o que diz.

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