Publicado em 24 de abril de 2025 às 07:39
A guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo está a todo vapor.>
As exportações chinesas para os Estados Unidos estão sujeitas a tarifas de até 245%, e Pequim respondeu com uma taxa de 125% sobre as importações americanas. Os consumidores, as empresas e os mercados estão se preparando para mais incertezas, à medida que os temores de uma recessão global aumentam.>
O governo do presidente da China, Xi Jinping, afirmou várias vezes que está aberto ao diálogo, mas advertiu que, se necessário, "vai lutar até o fim".>
Veja a seguir o que Pequim tem em seu arsenal para combater as tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump.>
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A China é a segunda maior economia do mundo, o que significa que ela pode absorver os impactos das tarifas melhor do que outros países menores.>
Com mais de um bilhão de habitantes, também tem um mercado interno enorme que poderia aliviar parte da pressão sobre os exportadores que estão sofrendo com as tarifas.>
Pequim ainda está tentando impulsionar este mercado porque os chineses não estão gastando o suficiente. Mas com uma série de incentivos, desde subsídios para eletrodomésticos até "trens prateados" para turistas aposentados, isso pode mudar.>
E as tarifas de Trump deram ao Partido Comunista Chinês um ímpeto ainda maior para alavancar o potencial de consumo do país.>
A liderança pode "muito bem estar disposta a suportar a dor para evitar capitular ao que eles acreditam ser uma agressão dos EUA", afirmou Mary Lovely, especialista em relações comerciais entre EUA e China do Instituto Peterson, em Washington DC, em entrevista ao programa Newshour, da BBC, no início deste mês.>
Como um regime autoritário, a China também tem um limiar mais alto para a dor, pois está muito menos preocupada com a opinião pública no curto prazo. Não há eleições próximas que vão julgar seus líderes.>
Ainda assim, a agitação popular é uma preocupação, especialmente porque já existe descontentamento em relação à crise imobiliária em andamento e à perda de empregos.>
A incerteza econômica em relação às tarifas é mais um golpe para os jovens que só conheceram a China em ascensão.>
O Partido tem apelado aos sentimentos nacionalistas para justificar suas tarifas retaliatórias, com a mídia estatal convocando as pessoas a "enfrentarem juntas a tempestade".>
O presidente Xi Jinping pode estar preocupado, mas, até o momento, Pequim tem adotado um tom desafiador e confiante. Uma autoridade garantiu ao país: "O céu não vai cair".>
A China sempre foi conhecida como a fábrica do mundo — mas tem investido bilhões para se tornar uma fábrica muito mais avançada.>
Sob o comando de Xi, o país disputa uma corrida com os EUA pelo domínio da tecnologia.>
A China investiu fortemente em tecnologia nacional, desde na área de energia renovável até no setor de chips e inteligência artificial.>
Os exemplos incluem o chatbot DeepSeek, que foi celebrado como um forte concorrente do ChatGPT, e a BYD, que superou a Tesla no ano passado, e se tornou a maior fabricante de veículos elétricos do mundo. E a Apple vem perdendo sua preciosa participação de mercado para concorrentes locais, como a Huawei e a Vivo.>
Recentemente, Pequim anunciou planos de gastar mais de US$ 1 trilhão na próxima década para apoiar a inovação em inteligência artificial. >
As empresas americanas tentaram transferir suas cadeias de suprimentos para fora da China, mas tiveram dificuldades de encontrar a mesma escala de infraestrutura e mão de obra qualificada em outros lugares. >
Os fabricantes chineses, em todas as etapas da cadeia de suprimentos, deram ao país uma vantagem de décadas que vai levar tempo para ser replicada.>
Essa expertise incomparável na cadeia de suprimentos e o apoio do governo fizeram da China um forte adversário nesta guerra comercial — de certa forma, Pequim vem se preparando para isso desde o mandato anterior de Trump.>
Desde que as tarifas de Trump atingiram os painéis solares chineses em 2018, Pequim acelerou seus planos para um futuro além de uma ordem mundial liderada pelos EUA.>
O país investiu bilhões em um controverso programa de comércio e infraestrutura, mais conhecido como iniciativa "Cinturão e Rota", ou "Nova Rota da Seda", para fortalecer os laços com o chamado Sul Global.>
A expansão do comércio com o Sudeste Asiático, a América Latina e a África surge no momento em que a China tenta se desvencilhar dos EUA.>
Os agricultores americanos já forneceram 40% das importações de soja da China — esse percentual agora gira em torno de 20%. Após a última guerra comercial, Pequim aumentou o cultivo de soja no país, e comprou volumes recordes da safra do Brasil, que agora é seu maior fornecedor de soja.>
"A tática mata dois coelhos com uma cajadada só. Ela priva o cinturão agrícola dos EUA de um mercado que já foi cativo, e enaltece as credenciais de segurança alimentar da China", diz Marina Yue Zhang, professora do Instituto de Relações entre Austrália e China da Universidade de Tecnologia de Sydney.>
Os EUA não são mais o maior mercado de exportação da China: este posto pertence agora ao Sudeste Asiático. Na verdade, a China foi o maior parceiro comercial de 60 países em 2023 — quase o dobro dos EUA. Maior exportador do mundo, o país asiático registrou um superávit recorde de US$ 1 trilhão no fim de 2024.>
Isso não significa que os EUA, a maior economia do mundo, não seja um parceiro comercial crucial para a China. Mas significa que não vai ser fácil para Washington encurralar a China.>
Após relatos de que a Casa Branca vai usar negociações comerciais bilaterais para isolar a China, Pequim alertou os países contra "chegar a um acordo às custas dos interesses da China".>
Esta seria uma escolha impossível para grande parte do mundo.>
"Não podemos escolher, e nunca vamos escolher [entre a China e os EUA]", afirmou o ministro do Comércio da Malásia, Tengku Zafrul Aziz, à BBC na semana passada.>
Trump se manteve firme enquanto os mercados de ações despencavam após o anúncio de suas tarifas abrangentes no início de abril, comparando suas taxas exorbitantes a um "remédio".>
Mas ele deu meia-volta, suspendendo a maior parte destas tarifas por 90 dias, após uma forte queda nos títulos do Tesouro dos EUA. Estes títulos são vistos há muito tempo como um investimento seguro. Mas a guerra comercial abalou a confiança nos ativos.>
Desde então, Trump sugeriu uma redução nas tensões comerciais com a China, dizendo que as tarifas sobre os produtos chineses "vão cair substancialmente, mas não serão zero".>
Por isso, segundo especialistas, Pequim agora sabe que o mercado de títulos pode abalar Trump.>
A China também detém US$ 700 bilhões em títulos do Tesouro dos EUA. O Japão, um ferrenho aliado americano, é o único detentor não americano de títulos a possuir mais do que isso.>
Alguns argumentam que isso oferece a Pequim uma vantagem: a mídia chinesa regularmente levanta a ideia de vender ou segurar a compra de títulos dos EUA como uma "arma".>
Mas os especialistas alertam que a China não vai sair ilesa de uma situação como essa.>
Isso vai levar a enormes perdas para os investimentos de Pequim no mercado de títulos, e desestabilizar o yuan chinês.>
A China só vai conseguir exercer pressão com os títulos do Tesouro americano "até certo ponto", avalia Zhang. "A China tem uma moeda de troca, não uma arma financeira".>
O que a China pode usar como arma, no entanto, é seu quase monopólio na extração e no refino de terras raras, uma série de elementos importantes para a fabricação de tecnologia avançada.>
O país asiático possui enormes reservas destes minérios, como o disprósio, que é usado em ímãs de veículos elétricos e turbinas eólicas, e o ítrio, que fornece revestimento resistente ao calor para motores de jatos.>
Pequim já respondeu às últimas tarifas de Trump restringindo as exportações de sete metais de terras raras, incluindo alguns que são essenciais para a fabricação de chips de inteligência artificial.>
A China é responsável por cerca de 61% da produção de terras raras, e 92% do seu refino, de acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia.>
Embora a Austrália, o Japão e o Vietnã tenham iniciado a mineração de terras raras, vai levar anos até que a China possa ser excluída da cadeia de suprimentos.>
Em 2024, a China proibiu a exportação de outro minério essencial, o antimônio, que é crucial para vários processos de fabricação. Seu preço mais do que dobrou em meio a uma onda de compras motivadas por pânico e uma busca por fornecedores alternativos.>
O receio é que o mesmo possa acontecer com o mercado de terras raras, o que prejudicaria gravemente várias indústrias, desde veículos elétricos até defesa.>
"Tudo o que você pode ligar ou desligar provavelmente funciona com terras raras", afirmou Thomas Kruemmer, diretor da Ginger International Trade and Investment, anteriormente à BBC.>
"O impacto sobre a indústria de defesa dos EUA vai ser significativo.">
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