A economia brasileira enfrenta um dos momentos mais críticos, desde o Plano Real, com a tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros, anunciadas para vigorar a partir de 1º de agosto. Essa crise tende a se intensificar caso o Brasil opte por manter uma postura de enfrentamento e por retaliar com tarifas os produtos americanos, como prometeu o presidente Lula. Quais seriam os impactos na economia e nos investimentos? Vamos analisar os riscos e as consequências dessa escalada.
As tarifas de Trump, justificadas por um suposto déficit comercial (contradito por um superávit americano de US$ 7,4 bilhões em 2024, segundo o New York Times), ameaçam as exportações brasileiras, que totalizaram US$ 40,4 bilhões aos EUA em 2024, 12% do total, conforme a American Chamber of Commerce. No Brasil, setores como café (30% do mercado americano) e suco de laranja (41,7% das exportações) podem enfrentar perdas de até US$ 17 bilhões, segundo economistas.
No Espírito Santo, que exportou US$ 1,6 bilhão em 2024, além do café o setor de rochas ornamentais seria muito afetado, a Findes alerta para demissões e perda de competitividade. Retaliar com tarifas equivalentes, sob a Lei de Reciprocidade Econômica, não nos traria nenhuma vantagem, apenas elevaria preços de insumos importados, como máquinas e eletrônicos, tornando os produtos que já são caros aqui, ainda mais caros.
A polarização política agrava o cenário. A campanha de Eduardo Bolsonaro contra Alexandre de Moraes, que resultou na suspensão de vistos de ministros do STF, e as críticas de Lula a Trump na Cúpula do Brics inflamaram a crise. Essa briga de Davi contra Golias é arriscada, não interessa ao povo brasileiro: o Brasil, com um PIB de US$ 2 trilhões, não pode enfrentar os EUA (US$ 25 trilhões) sem danos.
Uma postura conflituosa de enfrentamento pode desencadear sanções mais pesadas, como tarifas ainda maiores ou restrições via OTAN, conforme já veiculado pela Reuters. O real, a R$ 5,50, já reflete a tensão, e investidores estrangeiros, que detêm 55,8% do volume da B3, desde o anúncio das tarifas estão reduzindo posições, aumentando a volatilidade.
Além do fluxo financeiro, para bolsa e títulos da dívida, podemos ter uma redução importante no investimento estrangeiro direto, o que aliado a menores receitas de exportação certamente resultaria num dólar mais alto. Em momento que as taxas de juros estão em patamares elevados, com a economia iniciando uma desaceleração, um cenário de desvalorização mais acentuada da nossa moeda pode ter graves efeitos sobre a inflação, o emprego e a renda.
O momento requer pragmatismo, não podemos aceitar que a ideologia ou interesses eleitorais se sobreponham ao caminho correto, que é o de negociar, não retaliar, sem provocações ou ataques. Uma escalada de sansões pelos Estados Unidos pode nos isolar do mundo não só economicamente e tenho certeza, de que a maioria dos brasileiros não deseja isto.
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