No início de 2025, poucos apostariam que o Ibovespa, principal índice da B3, alcançaria máximas históricas em menos de cinco meses. Analistas projetavam um ano desafiador, com a Selic em patamares elevados, incertezas fiscais e riscos de uma guerra comercial global sob a administração Trump. No entanto, em 8 de maio de 2025, o Ibovespa renovou seu recorde, superando 137.634 pontos, com uma alta de 2,12% em um único dia e um ganho acumulado de 12,08% no ano. Esse movimento, que contraria o pessimismo inicial, reflete uma combinação de fatores domésticos e internacionais que impulsionaram a força do mercado acionário brasileiro.
No final de 2024, o cenário para a Bolsa era nebuloso. A Selic, fixada em 14,25% pelo Banco Central, era a mais alta desde 2016, encarecendo o crédito e pressionando o crescimento econômico. Projeções indicavam um PIB de apenas 1% a 2% em 2025, ante 3,4% em 2024, com a inflação teimando em se manter acima da meta de 3%. No front externo, a eleição de Donald Trump nos EUA trouxe temores de tarifas protecionistas que poderiam atingir as exportações brasileiras, especialmente de commodities, como petróleo e aço.
Bancos como J.P. Morgan e Itaú Unibanco previam um Ibovespa limitado a 135.000 pontos, com alguns alertando para a saída de capital estrangeiro devido ao risco fiscal brasileiro. A percepção era de que a Bolsa, mesmo com valuations atrativos, enfrentaria ventos contrários demais para um bull market.

Contra todas as expectativas, o Ibovespa não apenas resistiu, mas prosperou. A primeira causa dessa força está na estabilização das tensões comerciais globais. Inicialmente, o mercado temia que as tarifas de Trump, anunciadas como “recíprocas”, prejudicassem exportadores brasileiros, o que não se confirmou. O Brasil foi um dos países menos afetados de forma direta pelas tarifas.
A segunda causa é o forte desempenho corporativo. Empresas do Ibovespa superaram expectativas de lucro em 2024 e no primeiro trimestre de 2025, especialmente em setores resilientes como financeiro, utilities, construtoras e varejo. Bancos como Bradesco e Itaú reportaram margens robustas, as empresas de construção surfam o bom momento do Minha Casa, Minha Vida e as varejistas ainda apresentam números fortes, reflexo do bom crescimento verificado em 2024.
O terceiro e principal fator é a entrada de capital estrangeiro. No meio de toda tensão global, causada pelas medidas de Donald Trump, o dinheiro que fluía para os Estados Unidos, para as empresas de tecnologia majoritariamente, passou a procurar novos destinos no mundo, com nossa Bolsa negociando volumes baixos, a entrada deste fluxo estrangeiro aqui foi suficiente para impulsionar o preço das ações.
Por fim, a perspectiva de estabilização monetária deu fôlego ao mercado. Na reunião da última semana, o Copom sinalizou que o fim do ciclo de alta da Selic pode ter chegado. No exterior, o Federal Reserve manteve uma postura de cautela, mas o mercado segue projetando pelo dois cortes de juros em 2025 nos Estados Unidos, o que impulsionou mercados globais, incluindo o Brasil.
Apesar do otimismo, o rally não está isento de riscos. Há incertezas grandes relacionadas aos impactos das tarifas de Trump sobre a economia mundial. Os preços das commodities estão em queda. O fluxo estrangeiro que vem alimentando a alta da Bolsa pode cessar por algum evento imprevisto. As ações brasileiras seguem atrativas, mas o momento exige cautela.
O cenário doméstico, com os nossos persistentes problemas fiscais, mantém os juros em patamares ainda bastante altos, o que impede um fluxo maior do dinheiro local para as ações. Os grandes movimentos de alta na Bolsa se deram em períodos de baixas nas taxas de juros, o que ainda não se verifica por aqui.
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