
No imaginário do investidor, a Bolsa de Valores sempre carrega a promessa de retornos robustos, capazes de superar a renda fixa e construir riqueza no longo prazo. No momento, porém, essa narrativa enfrenta um obstáculo: as ações, apesar do otimismo recente, não estão tecnicamente baratas.
A alta da Bolsa nas últimas semanas, impulsionada por perspectivas de cortes de juros globais e balanços corporativos sólidos, comprimiu o prêmio de risco das ações em relação aos títulos do Tesouro, como o IPCA+ 2035. Quando ajustamos pelo risco, o cenário sugere que, hoje, investir em renda fixa pode ser mais vantajoso do que apostar na Bolsa. Vamos entender por que, de forma clara e objetiva, desvendando os conceitos que moldam essa escolha.
O prêmio de risco é a diferença entre o retorno esperado de um investimento arriscado, como ações, e o retorno garantido por um ativo seguro, como títulos do Tesouro. Historicamente, as ações oferecem retornos maiores para compensar a volatilidade – o chamado “prêmio” por assumir o risco.
No Brasil, o Tesouro IPCA+ 2035, que paga inflação mais uma taxa real (atualmente próxima de 7,5% ao ano), serve como referência de ativo seguro. Já o Ibovespa, principal índice da B3, reflete o desempenho das ações. Quando o Ibovespa sobe rapidamente, como vimos desde o fim de 2024, os preços das ações se elevam, reduzindo o retorno esperado futuro e, consequentemente, o prêmio de risco.
Em meados de 2023, com o Ibovespa em níveis mais baixos, o retorno real esperado das ações chegou a superar os 10%, superando com folga a taxa real do IPCA+ 2035, então em torno de 5%. Isso indicava que as ações ofereciam um prêmio de risco atrativo (5% acima da renda fixa), compensando a volatilidade.
Após a alta recente, com o Ibovespa acumulando ganhos de mais de 12% em 2025, temos um diferencial abaixo de 4% entre o retorno esperado das ações e dos títulos do Tesouro, o que é pouco. A volatilidade da Bolsa brasileira faz com que o investidor deva exigir no mínimo 4% de retorno acima da renda fixa para investir no Ibovespa. Caso contrário, é melhor ficar na segurança da renda fixa.
Isso não significa que as ações perderam seu valor. No longo prazo, elas continuam sendo um motor de crescimento, especialmente em setores resilientes, como financeiro e de utilities. Empresas sólidas, com lucros consistentes, ainda podem e devem superar a renda fixa no longo prazo, mas o momento atual exige cautela.
O prêmio de risco comprimido sugere que o mercado está precificando um futuro otimista, com pouco espaço para surpresas positivas. Qualquer revés, como uma alta maior do que a já esperada da Selic ou tensões globais, pode desencadear correções nos preços.
Neste momento em que a Bolsa apresenta uma boa performance no ano, muitos podem ficar com medo de perder a festa e aumentar seus aportes, o que não é o ideal para o momento. Ações devem ser compradas em momentos de pessimismo, quando as taxas internas de retorno embutem prêmios maiores e compensa o risco da renda variável.
Caso as taxas de juros pagas pelos títulos de renda fixa se reduzam, isso deve impulsionar a valorização das ações e também de títulos com o Tesouro IPCA+. Este seria, a partir de agora, o grande combustível para a continuidade de alta da Bolsa, que já acumula 12% em 2025.
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