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'Eu é que deveria taxar ele', diz Lula sobre Trump em visita ao ES

'Eu é que deveria taxar ele', diz Lula sobre Trump em visita ao ES

Presidente brasileiro reforçou que balança comercial é superavitária para os Estados Unidos e que é o Brasil que deveria aplicar a taxação aos americanos

Publicado em 11 de julho de 2025 às 13:30

Em visita a Linhares, no Norte do Espírito Santo, nesta sexta-feira (11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pela tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. O petista afirmou que a balança comercial é superavitária para os norte-americanos e declarou: "Eu é que deveria taxar ele", em referência à punição imposta pelo mandatário norte-americano.

O chefe do Executivo brasileiro chamou o líder estadunidense de desinformado e reafirmou que, se não houver acordo, vai estabelecer a reciprocidade nas taxas de importação. Em carta pública na última quarta-feira (9) em que anunciou as medidas, o norte-americano acusou o Brasil de caça às bruxas devido ao julgamento de Jair Bolsonaro.

"O senhor está mal-informado, muito mal-informado. Os Estados Unidos não têm déficit comercial com o Brasil. É o Brasil que tem déficit comercial com os Estados Unidos. Em 15 anos, entre comércio e serviço, temos um déficit de 410 bilhões de dólares com os Estados Unidos", afirmou Lula.

Lula enfatizou que não confunde o comportamento de um presidente com o povo de seu país, elogiando o povo dos EUA por ser uma potência mundial. No entanto, garantiu que o Brasil defenderá seus interesses em todas as esferas. "Vou brigar no OMC (Organização Mundial do Comércio), vou conversar com meus companheiros dos BRICS [formado pelas maiores economias entre os países emergentes]. Agora, se não tiver jeito no papo, no tete a tete, nós vamos estabelecer reciprocidade. Taxou aqui, a gente taxa lá", alertou, demonstrando firmeza na defesa da soberania econômica brasileira.

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'Eu é que deveria taxar ele', diz Lula sobre Trump em visita ao ES

O presidente brasileiro manifestou que não se renderá à ameaça de Trump, que condicionou a taxação de produtos brasileiros à situação jurídica de Jair Bolsonaro. Conforme Lula, o ex-presidente teria pedido ao filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, que deixasse a Câmara Federal para solicitar apoio trumpista contra uma possível condenação do pai no Supremo Tribunal Federal (STF) por golpe de Estado.

"Que homem que é esse, gente? Que tipo de homem que é esse que não tem vergonha de enfrentar o processo dele de cabeça erguida e provar que foi inocente?", disparou, lembrando que as denúncias contra Bolsonaro partem de seus próprios militares.

Lula, ao subir o tom sobre a taxação e as recentes declarações de Trump, usou também lições de sua própria trajetória de vida para falar de princípios de respeito na política internacional. O presidente ressaltou sua origem humilde e a força de sua mãe, uma mulher analfabeta que criou oito filhos sozinha.

"Se tem uma coisa que a minha mãe ensinou, é que a gente não pode baixar a cabeça", afirmou, sublinhando a importância do caráter e da dignidade. "Eu respeito todo mundo. Eu respeito um patrão, respeito o empregado. Eu respeito um banqueiro, respeito o bancário", disse, estendendo o princípio aos chefes de Estado.

O presidente apontou quem tem uma longa experiência em se comunicar com líderes mundiais, afirmando ter se relacionado bem com representantes de diversas regiões do planeta. "Eu duvido que tem um presidente da República que já encontrou com mais rei e rainha do que eu, que mais se encontrou com o presidente do que eu", pontuou.

Ele atribuiu esse sucesso à sua abordagem pessoal e respeitosa, que inclui a "química" das relações humanas. "O que fiz com Obama, fiz com o Clinton, fiz com Bush, fiz com Biden, fiz com o Chirac, fiz com o Sarkozy, fiz com a Itália, fiz com a Inglaterra, fiz com a Alemanha, fiz com o Japão, fiz com a China, fiz com toda a América Latina", enumerou.

Ele também expressou sua indignação com a forma em que Washington anunciou a nova cobrança. "Ele [Trump] nem uma carta fez. Ele fez um negócio no site dele e sentou no sofá. 'Ô Lula, eu vou taxar se você não soltar o Bolsonaro, eu vou taxar.' Realmente, gente, essas pessoas não sabem o que é o respeito que nós temos pelo nosso país", concluiu, ao externar ainda que se Trump fosse brasileiro, ele seria condenado se fizesse no Brasil o mesmo ato que promoveu no Capitólio. "O Poder Judiciário é autônomo", ressaltou.

Em 6 de janeiro de 2021, apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio nos Estados Unidos, no dia em que a vitória presidencial de Joe Biden seria certificada. A ação foi incitada por Trump, que alegava fraude eleitoral sem provas. Os manifestantes se reuniram em frente ao prédio, aguardando a sessão de oficialização de Biden e Kamala Harris, baseando-se em alegações infundadas de fraude.

Visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Linhares
Visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Linhares Crédito: Ricardo Medeiros

Visita de Lula ao ES

O presidente Lula a chegou em Linhares por volta das 9h45 desta sexta-feira (11), para participar do evento que vai marcar o início da transferência de renda de R$ 3,7 bilhões ao longo de 4 anos para pescadores e agricultores atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015.

Cerca de 22 mil pescadores e 13,5 mil agricultores, em municípios do Espírito Santo e de Minas Gerais, serão beneficiados. O valor será de um salário mínimo e meio mensal por atingido, por até 36 meses, e um salário mínimo mensal por mais 12 meses.

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