O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tem se apresentado como uma versão mais moderada do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que cumpre pena após ser condenado por tentativa de golpe de Estado.
E foi assim que chegou ao Aeroporto de Vitória, na segunda-feira (22), onde concedeu entrevista coletiva à imprensa. Sem xingar, gritar ou destratar jornalistas, por exemplo.
Flávio é pré-candidato à Presidência da República e, realmente, comparado aos outros integrantes do clã, como os irmãos Eduardo e Carlos, tem mais tato político.
A questão é que o bolsonarismo é um modo de fazer política por meio do confronto, da agressividade gratuita e, principalmente, com dados enviesados que nem sempre correspondem à realidade. Essa última característica é comum a outros grupos políticos também, guardadas as devidas proporções.
Mas o quanto Flávio se comporta diferentemente do pai?
A coluna o questionou, por exemplo, sobre a confiabilidade do sistema eleitoral e das urnas eletrônicas, sempre atacadas por Jair.
Duvidar das urnas seria o mesmo que deslegitimar a própria eleição, já que Flávio Bolsonaro foi eleito por este mesmo sistema. Declarar que não há problema nenhum, por outro lado, seria desmentir o patriarca da família.
A resposta de Flávio foi um meio termo. Ele apelou à composição do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"Nas eleições de 2022 ficou muito claro que, em especial o presidente do TSE à época, Alexandre de Moraes, desequilibrou a disputa eleitoral. Foi isso que levou muitas pessoas a ficarem indignadas com o que aconteceu nas eleições", afirmou.
"Então, o simples fato de o TSE ter uma composição diferente para as próximas eleições, acredito eu, uma composição neutra de verdade, em que a maioria será de magistrados e não de militantes ou subordinados a Alexandre de Moraes, não tenho nenhuma dúvida que a gente vai poder disputar essa eleição com muito mais tranquilidade e vencendo no voto", completou.
Foi uma forma de sair pela tangente, mas observem que ele teve um alvo, o ministro Alexandre de Moraes, principal autoridade atacada nos últimos anos pelos bolsonaristas.
A maior contradição, porém, foi quando o senador foi questionado sobre a cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro. O parlamentar perdeu a cadeira na Câmara por faltas excessivas, uma vez que está nos Estados Unidos desde fevereiro.
"Se um deputado é sequestrado pelo Hamas e fica um ano em cativeiro, a Câmara vai cassar o mandato desse deputado? Se um deputado sofre um acidente de trânsito aqui e fica hospitalizado por um ano sem comparecer à Câmara, vão cassar o mandato desse deputado?", argumentou Flávio.
Só que Eduardo está fora do país por livre e espontânea vontade.
"Ele queria estar aqui, exercendo o seu mandato, ele foi eleito para isso. Mas a gente sabe que o Brasil não vive uma democracia plena há muito tempo e se ele tivesse aqui seria mais um dos alvos fáceis para o Alexandre de Moraes", completou Flávio.
Essa tese não para em pé.
Como o próprio Flávio Bolsonaro permanece no Brasil então? Ele exerce o mandato de senador normalmente e ainda circula o país como pré-candidato à Presidência da República, sem qualquer tipo de perseguição.
A coluna quis saber e ele respondeu que escolheu "tentar resolver as coisas pela política" e que "Eduardo acabou incomodando mais rapidamente algumas pessoas e por isso virou alvo primeiro".
Não convenceu.
Outros dois irmãos de Flávio, o ex-vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro e o vereador de Balneário Camboriú Jair Renan Bolsonaro também estiveram em Vitória, em pleno exercício de seus direitos políticos.
Nesses pontos aqui abordados, Flávio se assemelha muito ao pai. Parece falar sobre uma realidade paralela.
Mas, ao mesmo tempo, o senador está ligado na vida como ela é.
Em vez de atacar a imprensa, ele agradeceu pelas informações sobre o caso do encalacrado Banco Master.
A colunista de O Globo Malu Gaspar revelou que Moraes procurou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para interferir em prol do banco.
O ministro do STF, entretanto, afirmou, em nota oficial, que falou com Galípolo sobre a Lei Magnistky, aplicada pelos Estados Unidos.
ESTRATÉGIA ELEITORAL
Outra coisa que Flávio Bolsonaro não ignora são estratégias eleitorais.
Ele foi anunciado como pré-candidato ao Palácio do Planalto no início deste mês, quando outros nomes de direita e centro-direita já estavam no páreo.
Os governadores de Minas, Romeu Zema (Novo), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), são alguns deles. E avaliam que quanto mais candidatos de oposição melhor.
A ideia seria fazer com que o presidente Lula (PT), pré-candidato à reeleição, tenha que lutar em várias frentes no primeiro turno. No segundo, se houver, os votos dos demais candidatos de direita migrariam para o que permanecesse na disputa.
"Isso aí a gente vai ter uma análise de cenário mais real a partir da primeira semana de abril, que é o prazo para desincompatibilização de muitas pessoas que estão em alguns cargos e que vão pretender concorrer a outros", avaliou o senador.
Governadores têm que renunciar aos atuais mandatos até o início de abril se quiserem disputar algum cargo em 2026.
"Vamos esperar ver qual vai ser a melhor estratégia. Fazem muita comparação com que aconteceu no Chile, onde não houve a unidade da centro-direita num primeiro momento, mas no segundo turno eles se uniram e o presidente Kast foi eleito, uma pessoa de direita", afirmou.
"Não sei se vai ser a mesma estratégia aqui no Brasil, mas todos concordam que se não houver a possibilidade de caminharmos juntos já no primeiro turno, no segundo turno todos nós vamos estar juntos. O maior inimigo do Brasil é o Lula, é o PT e é ele que nós vamos tirar do governo a partir de 2027", acrescentou Flávio.
Assim como o PT prega contra a ameaça do bolsonarismo, estes alertam contra o Partido dos Trabalhadores, uma cantilena que não muda desde 2018.
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