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Licenciado do mandato, Marcos do Val quer disputar a reeleição: "Estou pronto"

"Eu vou para a reeleição, esquerdistas", avisou o senador do ES. Veja a análise da coluna sobre os obstáculos no caminho do parlamentar

Vitória
Publicado em 10/09/2025 às 13h55
Marcos do Val
Marcos do Val no plenário do Senado em agosto de 2025. Crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado

O senador Marcos do Val (Podemos), eleito pela primeira vez para um cargo eletivo em 2018, está decidido a disputar a reeleição em 2026. Pode parecer óbvio, pois é natural no Brasil que mandatários tentem se manter no cargo sempre que possível, mas em fevereiro de 2025 Do Val não cravou que entraria na corrida eleitoral. 

Naquele mês, em nota enviada à coluna, o parlamentar afirmou que "isso (disputar ou não o pleito) é uma decisão dos capixabas" que, "no momento certo", diriam se o senador deveria seguir representando o Espírito Santo.

Agora, a disposição de Do Val é bem mais clara. Em vídeo divulgado na semana passada nas redes sociais, ele avisou: 

"Eu vou para a reeleição, esquerdistas. Serei candidato à reeleição. Podem espalhar para todo mundo aí que vão tentar me matar no ninho. É o que fazem, né? Vão tentar me destruir antes de chegar 2026. Mas estou pronto".

Não se sabe se a mudança de tom do parlamentar deve-se ou não à crença de que os capixabas querem que ele siga "representando o Espírito Santo". 

Mas há outras questões no ar, igualmente relevantes:

O Podemos, partido ao qual ele está filiado desde agosto de 2019, embarcaria nessa ideia? Se não, qual sigla daria abrigo ao projeto de Do Val?

E quem subiria no palanque ao lado do senador?

Primeiramente, é preciso destacar que o capixaba está licenciado do mandato por 115 dias — licença essa que ele mesmo solicitou —, mas não teve os direitos políticos suspensos em nenhum momento.

Ele pode retomar as atividades no Congresso quando quiser, se decidir encurtar o afastamento, e está livre, legalmente, para participar das eleições do ano que vem.

Mas o cenário atual é muito diferente do de 2018, quando, então filiado ao PPS (Cidadania), o ex-instrutor de técnicas de imobilização tática apresentou-se aos eleitores como "o novo na política" e contou com o apoio de Renato Casagrande (PSB).

Desta vez, Do Val está estabelecido como um político de direita e crítico do Supremo Tribunal Federal, especialmente do ministro Alexandre de Moraes. Também é um entusiasta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atravessou a Terceira Ponte, entre Vila Velha e Vitória, no último Sete de Setembro junto com outros bolsonaristas.

OS SINAIS DO PODEMOS

A relação entre o senador e o Podemos, há tempos, é apenas formal. Em setembro de 2023, o parlamentar até tentou se filiar ao PSDB, mas foi barrado pela cúpula tucana.

O presidente estadual do Podemos, deputado federal Gilson Daniel, não respondeu à coluna sobre se há intenção de lançar Do Val à reeleição.

Mas tudo indica que, na sigla, o senador não deve encontrar guarida. O prefeito de Viana, Wanderson Bueno, secretário-geral da legenda no estado, esteve recentemente com o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), e expressou apoio à pré-candidatura do emedebista ao Senado. Inclusive, até o convidou para se filiar ao Podemos.

SEM MUITAS OPÇÕES

O partido mais identificado com o bolsonarismo, o PL, já tem pré-candidata ao Senado. Trata-se de Maguinha Malta, filha do senador Magno Malta.

Então, no PL, Do Val também não teria espaço para disputar.

No campo da direita e centro-direita, o PP tem os deputados federais Da Vitória e Evair de Melo como potenciais candidatos ao Senado; o Republicanos conta com o deputado estadual Sérgio Meneguelli, também aspirante a senador e cortejado por outras siglas.

Não há muitas opções partidárias para Do Val. E sem partido não há candidatura.

Aí não é questão de ser morto "no ninho" e sim de falta de articulação prévia e de grupo político.

Ele pode virar esse jogo até abril de 2026,  prazo para que pré-candidatos se filiem à sigla pela qual pretendem disputar o pleito.

Renato Casagrande e Marcos do Val na campanha eleitoral de 2018
Renato Casagrande e Marcos do Val na campanha eleitoral de 2018. Crédito: Facebook/Marcos do Val

Depois de eleito, o senador capixaba adotou, ideológica e politicamente falando, posturas bem diferentes das do Cidadania e de Casagrande, que são de centro-esquerda e moderados.

Ele não fez oposição ao governador, mas destoou tanto em Brasília e desagradou a tantos casagrandistas que a chance de o socialista apoiar Do Val, desta vez, é nula.

O senador se envolveu em inúmeras polêmicas, ganhou os holofotes por atuações um tanto constrangedoras, como em 2023, quando acusou Bolsonaro de tê-lo convidado a aplicar um golpe de Estado e depois deu versões contraditórias sobre a história. 

Ou quando, em fevereiro de 2025, pediu que os Estados Unidos invadissem o Brasil. 

O desgaste após esses e outros episódios controversos fez com que até políticos de direita "soltassem a mão" do parlamentar, que parecia isolado.

PÕE TORNOZELEIRA/TIRA TORNOZELEIRA

No mês passado, porém, houve uma reviravolta. Do Val foi obrigado pelo STF a usar tornozeleira eletrônica e teve as contas bancárias bloqueadas. Ele é investigado na Corte por ter participado de uma campanha de ataques virtuais a delegados da Polícia Federal.

Como forma de marcar posição contra Alexandre de Moraes, parlamentares de direita saíram em defesa do senador do Podemos. Até Magno Malta, com o qual Do Val teve embates públicos, posicionou-se ao lado do colega da bancada capixaba.

Moraes suspendeu a maioria das medidas cautelares impostas a Do Val que, em seguida, pediu licença do mandato. Alegou que precisa cuidar da família e da saúde.

Ele já não usa tornozeleira eletrônica.

Não necessariamente a comoção dos parlamentares de direita pró-Do Val vai durar até a campanha eleitoral de 2026. Pode ter sido apenas um movimento corporativo-ideológico pontual.

Mas o episódio serviu para dar impulso ao senador, ao menos dentro da bolha bolsonarista. Resta saber se ele vai conseguir converter isso em votos, na hipótese de viabilizar a própria candidatura.

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