Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

As vitórias e as derrotas eleitorais de grupo armamentista no ES

CACs endossaram candidatos ao governo, ao Senado, a deputado federal e estadual. O líder deles no estado também disputou cargo. Veja o resultado

Vitória
Publicado em 10/10/2022 às 09h58
Em dezembro, o presidente anunciou que o governo decidiu zerar a tarifa de importação sobre armas de fogo
CACs são colecionadores de armas de fogo, atiradores esportivos e caçadores. Crédito: Erbs Jr. /FramePhoto/Folhapress

É provável que o leitor já tenha ouvido falar na "bancada da bala", como são conhecidos os parlamentares oriundos de carreiras da Segurança Pública, a exemplo dos PMs. Normalmente, eles têm mandatos baseados em interesses corporativos, aumentos salariais, benefícios para a categoria etc.

Mas outro movimento está surgindo. Como a coluna mostrou em agosto, o maior grupo armamentista do país, o Proarmas, formado por civis que querem cada vez mais acesso a armas, também estava de olho em cadeiras no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa do Espírito Santo.  O Proarmas também apoiou candidatos ao governo e ao Senado.

Os chamados CACs (colecionadores de armas de fogo, atiradores esportivos e caçadores), querem possuir e portar armas, e maior acesso a munições. O governo federal, liderado por Jair Bolsonaro (PL), já facilitou muito isso.

Hoje, os CACs já podem transitar com armamento no trajeto entre a casa e o estande de tiro, mas não têm que comprovar o itinerário nem circular em horário restrito. Na prática, quase não há restrição ao porte de armas por parte deles. Há um processo que estabelece critérios para quem pode comprar armamento e munições.

Criminosos, entretanto, usam pessoas com "ficha limpa" – outros bandidos ou laranjas – para comprar armas legalmente e, assim, o crime organizado tem sido abastecido confortavelmente no Brasil.

O coordenador licenciado do Proarmas no Espírito Santo, Roger Monteiro, em entrevista à coluna, minimizou esse risco. Disse que os criminosos não se dariam ao trabalho de comprar armas legais e permaneceriam no mercado negro. Aparentemente, os bandidos não temem a burocracia:

Esses são apenas alguns exemplos, já que o nosso foco aqui são os resultados eleitorais do Proarmas.

Para complementar, é preciso frisar que a posse ou o porte de armas não necessariamente é defendido como algo para aprimorar a política de segurança pública ou mesmo a defesa pessoal. É também considerado um direito, uma liberdade, embora esse conceito, na maioria das vezes não se aplique a outras liberdades.

Voltado às eleições de 2022, o objetivo do Proarmas foi emplacar senadores e deputados federais favoráveis ao armamento da população para que o Estatuto do Desarmamento seja revogado. A associação quer ter representantes nas Assembleias estaduais também, para que as polícias sejam mais maleáveis na hora de abordar os CACs.

OS RESULTADOS

Vamos aos resultados. No Espírito Santo, o próprio Roger Monteiro, líder local do Proarmas, foi candidato a deputado estadual pelo PL, com o nome de urna "Roger do Proarmas". Recebeu R$ 50 mil do partido para fazer campanha. Obteve 4.240 votos e não foi eleito.

Para critério de comparação, o deputado estadual eleito com menos votos no Espírito Santo foi Coronel Weliton (PTB), que alcançou 12.176.

O candidato a deputado federal apoiado pelos CACs foi Dr. Leonardo Lessa, do Republicanos. Ele teve 12.293 votos. O deputado federal eleito com menos votos no estado foi Messias Donato, também do Republicanos, com 42.640. 

Não há registro de prestação de contas, lançamento de receita e despesa, por parte de Lessa no DivulgaCandContas, site oficial da Justiça Eleitoral.

Em relação ao Senado, o Proarmas apoiou no estado, o ex-senador Magno Malta (PL). Magno foi eleito.

O discurso do ex-senador quanto às armas mudou ao longo do tempo. Há sete anos, quando estava no mandato, discursou contra alterações feitas no Estatuto do Desarmamento feitas em 2015, em pleno governo Dilma Rousseff (PT). "Ficamos mais vulneráveis armados que desarmados" afirmou Magno, na época. E disse mais:

"Precisamos manter o Estatuto do Desarmamento, porque não é armando a sociedade que vamos diminuir a violência dessa sociedade. Não vamos permitir que a bancada da bala, que está a serviço das grandes empresas e da indústria do armamento, nesse país e fora dele, possam destruir aquilo que certamente foi e deve continuar sendo importante para o país, que é o Estatuto do Desarmamento".

Já em 2018, Magno, ainda senador e já apoiador de Bolsonaro, defendeu que a população deve ter direito a possuir armas de fogo, ao menos na área rural:

"Ninguém está falando em arma de grosso calibre, ninguém está falando disso que o sujeito pode chegar ali e comprar dez armas. Ninguém está falando disso. Nós estamos falando é que um homem no campo hoje não pode viver desarmado".

Graças às flexibilizações garantidas por Bolsonaro, os CACs têm autorização para comprar diferentes tipos de armamentos, desde revólveres até fuzis de repetição. Os registrados como atiradores podem ter até 60 armas; caçadores, 15 armas; e colecionadores não têm limites. A autorização de porte é emitida pela Polícia Federal.

GOVERNO DO ES

Para o governo do Espírito Santo, o Proarmas apoiou o ex-deputado federal Manato (PL). Ele disputa o segundo turno contra o governador Renato Casagrande (PSB).

O vice de Manato, Bruno Lourenço (PTB), ainda no primeiro turno, gravou um vídeo ao lado de Roger Monteiro em que se disse armamentista: "Sou armamentista, tenho minha arma e sou a favor dos CACs. A PM precisa ser ajudada. O CAC está aí para ajudar".

No segundo turno, o ex-deputado federal Felipe Rigoni (União Brasil), declarou apoio a Casagrande e, entre os argumentos contra a eleição do candidato do PL, lembrou que Manato foi associado à Scuderie Le Cocq, um grupo de extermínio conhecido como esquadrão da morte que personificou o crime organizado no Espírito Santo na década de 1990.

Manato admitiu, à reportagem de A Gazeta, que integrou a Le Cocq, mas negou ter participado de quaisquer atividades criminosas, as quais disse desconhecer. E fez uma revelação: 

Carlos Manato (PL)

Candidato ao governo do Espírito Santo

"Nunca participei de nada (na Le Cocq), não tenho arma, nunca dei um tiro"

Em todo o país, de acordo com reportagem do Estadão, os CACs elegeram 23 representantes no Congresso Nacional.

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